Se há um grande vilão atualmente entre os resíduos sólidos que poluem a natureza é o plástico. Nenhum material é tão resistente, onipresente e visível hoje nos oceanos do planeta como ele. De canudinhos a hastes flexíveis, de sacolas e outras embalagens a carcaças de eletrodomésticos, a quantidade de lixo só aumenta, sem que haja um esforço correspondente de reciclagem do material. No caso brasileiro, praias, mangues e mares estão cada vez mais entulhados de todo tipo de plástico descartado, mas não há uma busca de soluções integradas e capaz de reverter o problema na origem. Algumas ações voluntárias e pulverizadas tentam alertar para as consequências drásticas dessa poluição crescente e fazer um trabalho de conscientização junto à população das regiões costeiras para engajá-las em programas de coleta de resíduos e na criação de cooperativas de catadores. Segundo um levantamento realizado pelo programa Lixo Fora D’Água, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), os dejetos plásticos correspondem a 48,5% do lixo encontrado no mar do Brasil.
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A organização internacional Sea Shepperd, dedicada ao combate à poluição dos mares, tem desenvolvido anualmente mutirões de limpeza no litoral brasileiro para recolher e encaminhar resíduos para reciclagem e envolver as comunidades no combate ao problema. Só no ano passado, foram feitos 98 mutirões, envolvendo 700 voluntárias que recolheram 7,5 toneladas de lixo nas praias, num total de 143 mil itens, 10% encontrados no fundo do mar. Da quantidade recolhida, 4,6 toneladas foram encaminhadas para reciclagem. “A gente sabe que é um trabalho de Sísifo. Para tirar todo o lixo das praias do mundo seria necessário um multirão de 1 bilhão de pessoas, mas as pequenas iniciativas geram um legado de educação e conscientização”, afirma Nathalie Gil, diretora executiva da Sea Shepperd Brasil. Em abril, a ONG iniciou o projeto Ondas Limpas na Estrada, patrocinado pela Odontoprev e que prevê uma longa viagem da cidade de Chuí (RS) até o Oiapoque (AP) passando por 300 praias ao longo do trajeto pela costa brasileira. Uma equipe de seis pessoas trabalha na coleta de informações sobre os resíduos, traçando um perfil dos principais poluentes que atingem a costa e medindo a presença de microplásticos, com dimensões entre 0,1 cm e 0,5 cm, na areia.
Pouca reciclagem
Atuando de maneira mais localizada, o Instituto EcoFaxina, que desenvolve projetos na Baixada Santista desde 2012, também tenta minimizar o impacto dos resíduos plásticos na área do estuário de Santos, que inclui os municípios de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão. Segundo o diretor-presidente do Instituto, William Schepis, o EcoFaxina já computa 146 ações, envolvendo 3 mil voluntários, que já recolheram 67 toneladas de resíduos plásticos e de isopor em sistemas costeiros e marinhos. “Talvez essa seja hoje a maior chaga do litoral paulista em termos de impacto ambiental”, afirma Schepis. “A gente estima que no estuário de Santos, nas áreas de manguezal, vivam cerca de 60 mil famílias”. Todos os resíduos lançados por essa população entram nas correntes marítimas e se espalham por toda a costa do estado. O objetivo do instituto é mobilizar a comunidade para que ela organize cooperativas de catadores e estimule a reciclagem do material coletado, mas de acordo com Schepis, há grande dificuldade para a implantação projetos ambientais e sociais na região, por conta de obstáculos criados pelo poder público. “Estamos avançando na conscientização da população, que começa a perceber a urgência ambiental de enfrentar a poluição nos mares”, afirma Schepis.
Uma análise divulgada em outubro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que 85% dos resíduos que chegam aos oceanos são plásticos. No Brasil, o que se verifica é que o problema social se confunde com o ambiental e comunidades mais pobres acabam sendo grandes geradoras de lixo. Para o consultor André Vilhena, engenheiro químico e ex-diretor do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), há um enorme gargalo na cadeia de reciclagem dos plásticos, na coleta, na separação e na organização de cooperativas de coletores. É muito diferente do que acontece com as latas de alumínio, que têm um índice de reaproveitamente superior a 90%. “O que se espera é um maior engajamento social e empresarial em iniciativas para controlar o uso do plástico e dos resíduos descartados”, diz Vilhena. Segundo a Abiplast, 23% dos resíduos plásticos pós-consumo são reciclados no Brasil, mas ainda é muito pouco. Os mares pedem socorro.