Pequenas aventuras podem ser tão legais como escalar o Everest

Por Brendan Leonard, da Outside USA

pequenas aventuras
Passar seis meses do ano em uma longa expedição não é a única maneira de se divertir no outdoor. Foto: Shutterstock.

Perto do final de cada ano, eu tenho um ritual que procuro fazer: tiro alguns minutos, olho firmemente no espelho e digo: “Acho que não vou escalar o Monte Everest no ano que vem ou fazer uma longa caminhada pela Pacific Crest Trail.” Então volto à minha mesa, suspiro, olho ansiosamente para fora da janela por um segundo e volto a focar em uma planilha, um ensaio incompleto ou os 50 e-mails não lidos que estava evitando.

Brincadeira. Eu não faço isso. Quer dizer, eu não faço a parte de admitir para mim mesmo que não vou escalar o Monte Everest ou fazer uma longa expedição pela Pacific Crest Trail. Eu muitas vezes faço a outra parte, sento na minha mesa com as planilhas, documentos do Word e e-mails.

Acima da minha mesa, outro dia, olhei para cima e vi este post-it que rabiscara enquanto editava um vídeo no início deste ano, que dizia “AVENTURA EM AGREGADO”. (Minha caligrafia está toda em maiúsculas. Não tenho certeza do porquê, acho que aprendi com meu pai quando era criança e odiava aprender a escrever em cursiva.)

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Eu tinha escrito várias coisas em post-its, tentando definir alguns temas para o filme em que estava trabalhando. Que ainda não foi lançado, mas é – sem spoilers – essencialmente sobre um grupo de aventuras que não eram nada extraordinárias ao redor da minha cidade natal, mas que se transformariam em semanas realmente divertidas e memoráveis.

Isso me fez pensar nas coisas que fazemos que não são grandes coisas, daquelas que estão na lista de desejos da vida, como escalar o Monte Everest, fazer uma longa caminhada pela Pacific Crest Trail ou correr uma UTMB. Coisas como correr todas as ruas de uma cidade, ou escalar todas as montanhas de 1.000 metros de New Hampshire, por exemplo.

Ou, como o falecido e lendário crítico de gastronomia Jonathan Gold tentou, no início da década de 1980, comer em todos os restaurantes da Pico Boulevard em Los Angeles (como ele escreveu, “parecia uma alternativa razoável à pós-graduação”). Eu adoro esse tipo de coisa, especialmente quando é apenas uma lista inventada ou uma meta que alguém decide fazer. Quero dizer, sim, escalar o Monte Everest seria ótimo, eu acho, mas também sei que é bastante caro e consome um pedaço significativo do tempo.

Eu adoraria passar seis meses do próximo ano fazendo uma longa caminhada em uma das três grandes trilhas de longa distância da América? Ou seis semanas em uma verdadeira expedição? Claro que sim. Mas essas coisas não são a única maneira de se divertir. Fazer uma lista de colinas próximas para escalar ou locais para nadar pode ser interessante, você poderia voltar no próximo fim de semana ou no próximo verão, com um amigo.

Eu não poderia recomendar mais a loucura de fazer uma lista ridícula e arbitrária de lugares para visitar e passar horas e dias, literalmente, se divertindo e descobrindo. Afinal, as pessoas que decidiram pela primeira vez que as montanhas de 1.000 metros de New Hampshire valiam a pena serem conquistadas não foram divinamente escolhidas a dedo; eram apenas pessoas comuns, como eu e você, que pensaram: “isso parece uma maneira divertida de passar alguns fins de semana.”

Em seu livro “Four Thousand Weeks: Time Management for Mortals”, Oliver Burkeman menciona brevemente o conceito de incrementalismo radical. Burkeman fala sobre o professor de psicologia Robert Boice, que estudou os hábitos de escrita de outros profissionais acadêmicos. Boice descobriu que os estudantes de doutorado que escreviam um pouco por dia – mesmo que fossem apenas 10 minutos – eram mais produtivos e menos ansiosos do que aqueles que tentavam escrever em grandes pedaços (que muitas vezes procrastinavam até que tivessem um prazo se aproximando).

O incrementalismo radical tem sido em grande parte aceito no meio acadêmico, na formulação de políticas e até mesmo no autodesenvolvimento. Mas acho que também é uma maneira interessante de encarar a diversão: Em vez de desejar ter o dinheiro e o tempo para passar um mês ou mais fazendo alguma aventura notável movida a energia humana até o topo de uma montanha ou atravessando um país, que tal fazer coisas menos notáveis perto de onde você mora toda semana, ou todo mês?

Esta é, é claro, a tese do meu amigo Alastair Humphreys em seu livro “Microadventures“, lançado em 2014 – e também o tema de um projeto que ele fez anos atrás, no qual ele tentou comer em um restaurante de Londres de um país que começava com cada letra do alfabeto (Afeganistão, Bolívia, Camboja, etc.). Então, eu não estou exatamente dizendo algo novo aqui. Mas sejamos honestos conosco mesmos: eu não vou escalar o Monte Everest no próximo ano, e as chances são bem grandes de que você também não esteja planejando isso. Então, que tal inventarmos outras coisas divertidas para fazer?