Conheça o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses caminhando

Por Flávia Vitorino

lugares de calor durante o ano todo
Foto: shutterstock

Tem gente que chama de “deserto brasileiro”, mas há controvérsias: Se por um lado existem incontáveis oásis iguais aos que costumam aparecer como miragens em filmes sobre o Saara, diferentemente do que acontece no deserto africano, lá nos Lençóis Maranhenses chove. Por esse motivo, seria um erro chamar esta região de “deserto”. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses pertence ao Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMBio) e está encravado no cerrado, apresentando também uma grande influência da caatinga nordestina e ecossistemas muito frágeis, como a restinga, o manguezal e as imensas dunas formadas pelos ventos que sopram do mar, espalhando areia branca num longo perímetro de 270 km.

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Localizado a 260 km da capital do Estado do Maranhão, São Luís, o acesso ao parque se dá por três entradas distintas: Barreirinhas, Santo Amaro e Atins. A cidade de Barreirinhas é a mais estruturada entre as três e a mais fácil de chegar, por causa das estradas asfaltadas. O acesso para os vilarejos de Santo Amaro e Atins pode ser feito por Barreirinhas, através de 4×4, ou de barco, navegando pelo rio Preguiças.

É ali em Barreirinhas onde se concentra o maior número de roteiros turísticos, pousadas e restaurantes. As pessoas chegam buscando as grandes dunas e lagoas transparentes sazonais que se formam com a água da chuva. A Lagoa Azul e a Lagoa Bonita são duas das maiores e têm fácil acesso desde a cidade. Mas a questão é que a paisagem desértica, o excesso de turistas e o barulho dos quadriciclos e caminhonetes circulando não combinam com a imersão na cultura local ou com o mergulho em uma experiência única. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses está entre os destinos mais desejados pelos brasileiros, mas é bem possível que os roteiros conhecidos já não combinem com o perfil dos viajantes que buscam viver intensamente as belezas de lá. E sendo um destino tão difundido, como viver o inexplorado, o intocado, estar em lugares onde nem todos conseguem chegar? Difícil, mas não é impossível.

Inserido em uma área protegida de 1.550 km², dava para colocar a cidade inteirinha de São Paulo dentro do parque – tão grande que as possibilidades de exploração são múltiplas. A maneira mais imersiva para se compreender essa dimensão toda e conhecer de verdade este lugar é através de uma travessia. Ali o vento é como uma dança e leva a areia para lá e para cá, mudando facilmente os percursos da caminhada. Por causa disso, qualquer que seja o trajeto, é obrigatório estar com um guia local que conheça a região profundamente, pois, uma vez que se sai das proximidades dos povoados, se perder é muito fácil. A visão nas dunas se confunde, e na maioria dos trekkings não há referência nenhuma além de areia e mais areia.

Uma das opções de travessia é uma caminhada de três dias – cerca de 45 km – cruzando o parque desde Atins até o povoado de Santo Amaro do Maranhão, só com uma mochila nas costas, chinelo e muita água. Os pernoites são feitos em casas de comunidades locais, em quintais com redes. Aliás, boa parte da população que vive dentro do parque precisa levar uma vida meio nômade. Os moradores de lá quase não usam tijolos em suas construções ou optam por se instalarem em locais de restinga mais acentuada, dando preferência para edificações de palha, pois de tempos em tempos é possível que precisem se mudar por conta da movimentação das dunas.

Todos os dias, as caminhadas começam bem cedo, por volta das 4h da manhã, senão antes, para não ter de enfrentar o sol e o calor do meio da tarde. Assim como todo montanhista lê a montanha e seus percursos, ali o guia local também analisa pontos importantes, como vento e sol: o ideal é sempre caminhar na direção do primeiro e no sentido contrário do segundo, evitando também o sobe e desce das grandes dunas. Se quiser deixar o rolê ainda mais imersivo, a escolha pela época da lua cheia vai fazer toda a diferença, pois o deserto ganha um cenário inacreditável. Os raios iluminam as formações de areia e as lagoas entre as dunas, nos dando a impressão de estarmos caminhando sobre a lua, num silêncio absoluto.

A proposta é sempre sair de uma comunidade para a outra, em caminhadas que duram cerca de seis horas por dia. A recepção dos poucos moradores dessas comunidades ao longo da travessia é sempre um afago para o trekking do dia. Os últimos metros das caminhadas, já próximos das casas, são guiados pelo cheiro da comida típica feita no fogão a lenha por quem vive ali. Antes da refeição, sempre tem um shot da cachaça local (a tiquira, um destilado de mandioca muito popular no Maranhão) e uma roda de muita, mas muita história.

O cenário é mesmo remoto. Uma visão uniforme e contínua das formações que levam o nome do parque: os lençóis amassados, que não são vistos apenas de cima, mas também enquanto se caminha entre as dunas. O percurso todo é feito descalço ou com meias, com a sensação de ter os pés sendo massageados pelos grãos de areia a todo o momento. Os grãos possuem origens eólicas, formados predominantemente por quartzo, que durante o dia brilham tanto que é imprescindível usar óculos de sol e proteção extra – chapéus ou
bonés – o tempo todo.

Muitas dessas descobertas são impossíveis de serem feitas durante os roteiros convencionais. Paisagens que só são acessíveis assim, caminhando, vivências que fazem a gente voltar diferente, mais conhecedor da geografia, da história e das relações pessoais. É muito menos “ver” e muito mais “participar”. Muito mais vivenciar e conhecer de verdade tudo o que o Parque dos Lençóis representa.

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: como ir

Como chegar
Pegue um voo até São Luís, capital do Maranhão, depois um transfer ou carro até Barreirinhas ou Santo Amaro.

Quem leva
A Venturas Viagens organiza os pernoites nas comunidades e tem os guias mais experientes. 11 3879.9494 | venturasviagens.com.br

Melhor época
Muito se discute sobre a melhor época para se fazer a travessia por conta das chuvas e das formações das lagoas e a preferência por elas cheias. Mas duas estações são bem características ao longo do ano, e cada uma tem sua beleza: a chuvosa, de fevereiro a maio, e a seca, de junho a janeiro. Depende também do regime de chuva do ano, que nunca é igual.

O que levar
> Mochila e roupas leves, de preferência mangas longas com FPS.
> Corta-vento
> Óculos de sol
> Protetor solar ecológico
>Chinelos e meias para caminhada (as sandálias de trekking também podem ser utilizadas)
> Barras de proteína
> Mochila de hidratação







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