A proibição das atletas francesas de usarem véu (hijab) nos Jogos Olímpicos de Paris expõe uma “hipocrisia discriminatória” das autoridades e uma “fraqueza covarde” do Comitê Olímpico Internacional (COI), declarou a Anistia Internacional na última terça-feira (16).
Em um novo relatório, o grupo examinou o impacto negativo da proibição do hijab sobre mulheres e meninas muçulmanas em todos os níveis do esporte na França. O relatório também concluiu que a proibição do hijab viola as leis internacionais de direitos humanos.
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Em setembro do ano passado, a ministra dos esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra, anunciou que nenhum membro da delegação francesa poderia usar o véu durante os Jogos Olímpicos, que ocorrerão na França de 26 de julho a 11 de agosto.
“Os representantes das nossas delegações nas nossas equipes francesas não usarão o véu”, disse a ministra, enfatizando o “apego a um regime de laicidade estrita, estritamente aplicado no campo do esporte”.
Poucos dias depois, o COI esclareceu que as restrições não se aplicariam aos atletas que representassem outras nações no evento.
A decisão de proibir atletas francesas de usarem o hijab durante as Olimpíadas enfrentou duras críticas de especialistas em direitos humanos e desencadeou uma onda de indignação, com alguns usuários de redes sociais pedindo um boicote ao evento.
“Oh não… Teremos que boicotar os Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, já que a ministra dos esportes acabou de explicar que atletas francesas não poderão usar o hijab” postou uma pessoa no X após o anúncio da proibição.
“Bem-vindos às primeiras Olimpíadas Islamofóbicas da história!” escreveu recentemente o historiador francês Fabrice Riceputi na mesma plataforma.
Durante uma coletiva de imprensa em Genebra, após o anúncio da proibição, um porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) disse que o órgão da ONU “acredita que ninguém deve ditar a uma mulher o que ela deve ou não deve vestir”.
Em outubro, seis especialistas em direitos humanos da ONU escreveram às autoridades francesas expressando preocupação de que a proibição viola o direito de mulheres e meninas muçulmanas de “participar do esporte” e poderia “alimentar a intolerância e discriminação contra elas”.
Na França, mulheres e meninas que usam véu esportivo estão proibidas de praticar muitos esportes, incluindo futebol, basquete, judô, boxe, vôlei e badminton, mesmo às vezes em nível amador.
Entre 38 países europeus revisados pela Anistia Internacional, a França é o único com proibições consagradas ao uso de cobertura religiosa na legislação nacional ou nos regulamentos esportivos individuais.
“Proibir atletas francesas de competirem com hijabs esportivos nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos ridiculariza as alegações de que Paris 2024 é a primeira Olimpíada da Igualdade de Gênero e revela a discriminação de gênero racista que sustenta o acesso ao esporte na França”, declarou Anna Blus, pesquisadora da Anistia Internacional, ao lançar o relatório.
Apesar das repetidas demandas, o COI se recusou a pedir às autoridades francesas que revogassem a proibição.
“Nenhum legislador deve ditar o que uma mulher pode ou não pode vestir, e nenhuma mulher deve ser forçada a escolher entre o esporte que ama e sua fé, identidade cultural ou crenças,” concluiu Anna Blus.