Alimentos orgânicos são mesmo mais nutritivos? Quais valem a pena comprar? Descubra as respostas a seguir

Por Verônica Mambrini

Recentemente a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei sobre novas regras que restringem a venda direta de produtos orgânicos. A lei deve restringir a comercialização apenas as feiras livres ou em propriedade particular.

O mercado de orgânios movimenta anualmente mais de R$ 3 bilhões, com crescimento médio anual de 20%. Mas, na prática, o quanto vale a pena colocá-los no prato? O que é mito e o que é verdade sobre os orgânicos? Para te ajudar, respondemos algumas questões-chave sobre o assunto.

Alimentos orgânicos são mais nutritivos?

NÃO NECESSARIAMENTE. A concentração de nutrientes em uma hortaliça depende de vários fatore. Entre eles, a qualidade do solo, as técnicas agrícolas usadas, as sementes e até a variedade escolhida para cultivo. Não há pesquisas conclusivas que provem que os orgânicos contêm mais nutrientes que os demais alimentos. Muita gente acredita, também, que os orgânicos ajudam a emagrecer – na verdade, as calorias de uma hortaliça orgânica e de uma convencional são equivalentes.

Tudo o que comemos precisa ser orgânico?

NÃO. Alguns alimentos como cereais, feijão ou café geralmente apresentam índices de resíduos químicos dentro do permitido, então as vantagens do orgânico são relativamente menores. Se a ideia é principalmente evitar agrotóxicos, priorize produtos como alface, pimentão, morango, mamão e tomate, que têm cultivo mais delicado e concentrações muito altas de agrotóxicos. Plantas mais resistentes, como mandioca e batata-doce, são bastante seguras na versão tradicional.

Orgânicos são mesmo melhores para a saúde?

SIM. O brasileiro consome, em média, apenas 3% de suas calorias diárias em frutas, legumes e verduras. Se na sua alimentação a proporção desses vegetais é maior, a quantidade de agrotóxicos que você ingere ao longo dos anos também tende a crescer. Segundo a bióloga Paula Carvalho, especialista em biodiversidade vegetal e meio ambiente, existem dois tipo de contaminação por agrotóxicos para humanos.

“Há aquela aguda, causada por uma única exposição elevada e má manipulação de defensivos agrícolas e que pode provocar a morte rápida. E a exposição crônica, tanto de quem manipula como de quem consome alimentos contaminados. Por efeito cumulativo, podem causar danos como câncer, má formação de fetos, mudanças genéticas passadas para outras gerações, doenças nervosas, alterações do sistema imunológico e doenças hepáticas e renais”, diz.

Priscila di Ciero, nutricionista funcional e esportiva, lembra ainda que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 20 mil mortes por ano em consequência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas nos países em desenvolvimento.

Optar pelos orgânicos significa ajudar o meio ambiente?

SIM. “O orgânico evita a contaminação do solo e do lençol freático, reduz a alteração da biodiversidade e a morte de animais próximos por conta do uso de agrotóxicos”, diz Paula. Ela explica que, em regiões onde se usam agrotóxicos, existem trabalhos mapeando a extinção de insetos como borboletas. No Brasil, a maior parte da produção de orgânicos é feita em pequenas propriedades, com rodízio de culturas, o que preserva a riqueza do solo e favorece a biodiversidade.

Os produtos orgânicos são sempre mais caros?

NÃO NECESSARIAMENTE. Depende da lei da oferta e da procura, além da quantidade de intermediários entre produtor e consumidor final. No Mapa de Feiras Orgânicas do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), 740 feiras cadastradas no país.

“Hoje o Ministério da Agricultura conta com mais de 17 mil produtores cadastrados de orgânicos. E estimamos que, apesar de ainda pequeno, trata-se de um mercado que deve crescer 25% ao ano no Brasil em um futuro próximo”, diz lexandre Harkaly, diretor-executivo do instituto de certificação de orgânicos IBD.

E, com uma oferta maior, os preços tendem a diminuir. “Existe uma briga entre agricultores e os selos, porque a certificação é muito cara. Às vezes a pessoa tem um alimento orgânico de qualidade, mas não pode arcar com o custo do selo”, diz a bióloga Paula Carvalho.

O que é melhor: local ou orgânico?

O ideal é o produto ser local e orgânico, mas nem sempre dá para conciliar os dois. Se você tiver acesso a feiras de produtores locais, pergunte como os alimentos são produzidos. Às vezes vale mais a pena comprar um alimento fresco e que não viajou centenas de quilômetros de um produtor que não é certificado, mas usa pouco agrotóxico, do que um orgânico importado que, para ser distribuído, deixou impacto ambiental.

E este papo de que orgânicos podem ter mais contaminação?

NÃO É BEM ASSIM. Por usar menos fungicidas e inseticidas, os orgânicos já foram acusados de conter mais bactérias como a Escherichia coli, que causa intoxicação alimentar. Um dos problemas é o fato de muita gente considerar que, por não ter agrotóxicos na produção, os orgânicos não precisam ser lavados. “O que faz diferença são boas práticas de assepsia pós-colheita e antes do consumo. Coliformes podem estar presentes no solo de qualquer maneira, com ou sem agrotóxicos. O risco é igual”, diz Alexandre Harkaly, do IBD.

E para quem não tem acesso a orgânicos, como fazer?

Se o custo ou acesso não for possível, dá para reduzir danos para a saúde com o consumo de hortaliças tradicionais. “Para reduzir a ingestão de agrotóxicos, uma das saídas é optar por alimentos de época, de preferência de pequenos agricultores, retirando a casca e as folhas externas”, diz Paula.

Qual a diferença entre orgânicos, hidropônicos e biodinâmicos?

Hidropônicos são vegetais cultivados diretamente na água, e não necessariamente são orgânicos. Podem receber agrotóxicos e adubos químicos. Os orgânicos não usam defensivos agrícolas químicos, que podem variar de acordo com a legislação local para cultivo de orgânicos. Já os produtos biodinâmicos são orgânicos e cultivados de acordo com princípios da antroposofia. “Nesse caso, a terra é tratada com homeopatia e fitoterápicos, e o tratamento do solo e de pragas se dá de acordo com essa linha filosófica, de forma natural”, diz Paula.







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