Amigos, temos uma crise se aproximando e algo precisa ser feito.
Se você tem vivido fora da bolha, o Strava ganhou os holofotes neste mês de novembro, quando a revista Elle publicou o artigo intitulado “O Strava é o Novo Aplicativo de Namoro?“.
De acordo com a publicação, o ambiente de namoro digital, desgastado pelo excesso de deslizes e stalkers, vem devastando as gerações mais jovens dos Estados Unidos. Assim o Strava, argumenta a autora Kelsey Borovinsky, oferece uma plataforma para pessoas que gostam de esportes outdoor se encontrarem.
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Até aqui, tudo bem. Os esportes outdoor e endurance infiltraram-se o suficiente na cultura pop para serem mencionados na Elle (isso sem nem mesmo Taylor Swift aderir). Aleluia! Podemos usar o Strava para encontrar conexão e comunidade? Aleluia!
Mas, Borovinsky, estamos falando do mesmo Strava? Aquele com segmentos e classificações que alimentam a obsessão e o excesso de treinamento? Um aplicativo que nem mesmo suporta mensagens diretas, quanto mais descoberta?
Claro, o Strava tem um recurso “flyby” para ver com quem você cruzou durante seu passeio. Mas se você conseguir rastrear estranhos que avistou por um quarto de segundo em sua corrida de dois dias atrás com esse recurso beta, o que você vai fazer? Convidá-los para sair em um comentário público em sua atividade?
Não, se você é uma pessoa sensata com boas maneiras, vai encontrá-los no Instagram ou algo assim e enviar uma mensagem direta. Educadamente.
Ouvi dizer que o envio de mensagens diretas está chegando ao Strava. Lidaremos com essas ramificações depois. Uma crise de cada vez.
Além das praticidades, existe a grande questão existencial que devemos nos fazer: realmente queremos que o Strava sirva como uma forma de impressionar as pessoas daquele jeito de namoro? O App já é um refúgio para aqueles que procuram validação e maneiras de menosprezar uns aos outros, mas poderia piorar, e muito.
De fato, Borovinsky, da Elle, descreve um Strava cheio de jovens solteiros, como Ellie Gerson. Ela é uma corredora e influenciadora de São Francisco que, depois de completar sua corrida cênica de 10K, “abre imediatamente o Strava para carregar seu treino, junto com uma selfie fofa e uma legenda sobre os altos e baixos do seu treinamento para a Maratona de Chicago”.
Treinamento para a maratona? Adoramos ver isso. Mas Gerson não está aqui apenas para relatar os altos e baixos de sua jornada para os 42K. Quando perguntada se espera que pretendentes em potencial vejam suas postagens no Strava, Gerson disse: “Mil por cento. Seja em uma corrida longa ou usando uma roupa fofa, definitivamente houve momentos em que pensei, ele vai ver isso”.
Olha, este é um mundo livre. Gerson, Borovinsky e todos os 100 milhões de “Stravers” podem usar o App como quiserem. Mas realmente precisamos de mais uma plataforma para as pessoas impressionarem umas às outras? Alguém não pode simplesmente vencer um longão pensando em panquecas, não em armadilhas de sedução?
O Strava é onde eu me conecto com amigos e família. Vejo a pedalada de cinco horas do meu pai de 72 anos no Zwift, e sei que ele é tão desequilibrado quanto era há 50 anos. Graças a Deus. É onde eu obtenho informações sobre condições de trilha e estrada de pessoas mais intrépidas do que eu. É onde nós – sim, o “nós” real de todos os amantes de esportes de resistência – nos unimos em nosso ódio mútuo pelo vento. E é para lá que eu recorro quando preciso de um pouco de motivação extra dos meus amigos psicóticos que correm às 4 da manhã.
Em resumo, eu conto com o Strava para saber o que realmente está acontecendo. É como obter uma resposta honesta para “Como você está?” sem precisar perguntar. O Strava parece um refúgio seguro para simplicidade, tolice e sinceridade – deixando de lado stalkers e outros tipos de ameaças de perseguição.
Talvez (provavelmente) eu esteja sendo uma velha cautelosa e rabugenta. Estou fora do mercado há uns seis anos. Mas em nosso mundo excessivamente digitalizado e cuidadosamente curado de fotos filtradas e vídeos editados meticulosamente, o Strava é o último lugar na internet que não sucumbiu completamente à armadilha dramatúrgica de mascarar seu verdadeiro eu em prol de um ideal impossível. É um lugar para ser você mesmo e celebrar os outros por serem iguais. E em um mundo saturado de insinceridade, eu preciso que o Strava me faça sentir que ainda tenho um pouco de compreensão da verdade.
Então, Stravers, aqui está meu apelo a vocês: continuem postando aquelas selfies com muco e títulos bobos. No espírito do amor, celebrem seus amigos por fazerem o mesmo. E então, se o Strava acontecer de servir como o mais acidental e saudável encontro na internet, todos nós ganhamos.
Matéria originalmente publicada na Triathlete Magazine.