5 mitos da corrida que você viu no Instagram desmistificados por uma especialista

Por Jade Rezende*

Mitos da corrida na internet

Em um mundo onde influenciadores vendem cursos para te ensinar a respirar e pisar no chão, saiba o que a ciência diz sobre os mitos da corrida disseminados nas redes sociais

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Nos últimos anos, o TikTok ganhou espaço na comunidade de corrida com seu conteúdo mais recente e viciante – a hashtag #RunTok tem um total acumulado de 1 bilhão de visualizações. Graças ao algoritmo inteligente assustador do aplicativo, você não precisa conhecer muitos influenciadores específicos de corrida para receber conteúdo sobre o esporte diretamente em sua página inicial.

Como todas as formas de mídia social, o Instagram e o “RunTok” nos deixam com a pergunta: rolar nossos feeds vale a pena? Ou essas redes, voltadas principalmente para a Geração Z, estão prejudicando o bem-estar mental, desempenho e comunidade esportiva?

As redes sociais são fantásticas para pegar dicas, mas podem ser como cavar um poço de desinformação cheio de lama. Só porque alguém tem muitos seguidores e corre bem não significa que esteja certificado para dar conselhos credenciados. Raquel Castanharo, fisioterapeuta e mestre em biomecânica pela USP (Universidade de São Paulo), tem usado o seu Instagram com mais de 340 mil seguidores para disseminar conteúdo científico sobre a corrida, indo contra as informações sem evidência espalhadas por alguns influenciadores e falsos especialistas.

“Uma descoberta científica pode demorar de 10 a 17 anos para “viralizar” entre os profissionais da saúde e população. Então, um profissional que não esteja dedicado em se manter muito atualizado vai acabar falando algo que não está totalmente correto, mesmo tendo boa intenção”, explica Raquel. 

Para a Go Outside, a especialista em corredores iniciantes desvenda cinco grandes mitos da corrida que têm sido disseminados nas redes sociais:

Desmistificando os mitos da corrida disseminados na internet

1. Não existe pisada errada

“Podemos olhar a pisada na corrida de duas formas:

1: A maneira como o pé aterrissa no chão em cada passada, e dessa forma ela é classificada como pisada com o calcanhar (calcanhar bate primeiro no chão), médio pé (o pé aterrissa chapado no chão) ou antepé (a ponto do pé toca o chão primeiro do que o restante do pé.

2: Quanto o pé gira no meio da passagem, sendo assim classificado em pé neutro, pronado ou supinado.

Por muitas décadas tentou-se encontrar um padrão correto dentre todas essas opções. Porém, o que sabemos hoje, baseando-se em evidências científicas recentes, é que nenhuma delas é incorreta ou ruim para correr. O importante é que o corredor tenha boa musculatura e controle de movimento para absorver bem o impacto de cada passada com o chão. E isso pode ser feito com qualquer tipo de pisada.”

2. Braços livres

“Os braços na corrida funcionam como contrapesos: quando fazemos força com a perna para correr, o tronco, sem os braços, tenderia a girar demais. O braço serve para amenizar tal rotação e deixar o tronco o tempo todo voltado para frente (existe uma rotação de tronco, mas é pequena). Tal contrapeso irá depender do biotipo de cada pessoa, porém, o que mais vemos é que os braços cruzam um pouco à frente do tronco (e não ficam paralelos a 90 graus como dizem algumas cartilhas com fraco embasamento científico).

A melhor posição dos braços é aquela natural à pessoa. Não existe um padrão correto e nem benefício em se preocupar demais com isso.”

3. Apenas respire

“A respiração durante a corrida é naturalmente feita pelo nariz e pela boca. Não há maneira errada de respirar. A respiração ofegante e pela boca acontece porque o corpo precisa de mais oxigênio quando começa a se movimentar, e precisa tirar mais CO2 de seu interior. Como a boca é um orifício maior do que as narinas, o sistema nervoso central utiliza-se dessa estratégia sabiamente.”

4. Preciso de vários pares de tênis?

“Não é preciso ter tênis diferentes. A minha indicação é que o seu par de tênis tenha uma folga de um dedo na parte da frente para permitir que os seus dedos se abram dentro dele. Isso permite que o pé tenha espaço para fazer uma das suas funções, projetada na evolução, que é amortecer impacto. 

É importante entender que o tênis, embora ajude, é coadjuvante na tarefa de amortecer o impacto, já que quem desempenha essa função são os músculos e articulações. Portanto, se seu corpo estiver trabalhando bem, você pode usar o tipo de amortecedor com o qual se sinta mais confortável.”

5. Não precisa alongar!

“Alongamento antes ou depois da corrida não previne lesão e não melhora a performance. Não é necessário, mas pode ser feito se a pessoa gostar. Não irá fazer nem bem nem mal.”

 

*Matéria publicada na edição 182 da Go Outside.