O brasileiro Eliseu Frechou foi o local e passa detalhes da rocha 

Por Mario Mele

Beleza, tranquilidade e desafio são algumas particularidades do Valle de los Cóndores, no Chile. Esse lugar remoto, localizado na região de Maule – a cerca de 400 km ao sul de Santiago, já próximo da divisa com a Argentina –, vem chamando a atenção da comunidade escaladora na última década por um motivo óbvio: talvez seja um dos melhores picos de escalada do planeta.

Então, quando o escalador brasileiro Eliseu Frechou recebeu um convite de sua mulher, a também escaladora Ana Fujita, para irem juntos ao Chile, não pensou duas vezes. “Peguei informações com um amigo que já tinha ido ao Valle de los Cóndores, vi um filme que ele me recomendou e imediatamente fiquei muito a fim de escalar naquelas rochas basálticas tão estranhas”, diz.

Setor La Gran Pared, o mais fácil de se chegar – Foto: Divulgação

As formações rochosas são uma característica singular do lugar. Entre 2008 – quando o destino foi “descoberto” por escaladores locais – até hoje, já foram abertas cerca de 450 vias de escalada lá. “É um pico democrático”, garante Eliseu. Há vias de 5º grau (tabela brasileira) em top rope até as de 11º grau em estilo guiado. Isso significa que o vale atende de iniciantes a avançados. “Mas a diversão é mais garantida para escaladores que já dominam o 9º grau”, recomenda. “Há várias vias desse nível muito bem protegidas, com chapeletas de inox e paradas duplas.” A seguir, Eliseu passa as melhores dicas para quem pretende explorar o Valle de los Cóndores e escalar com o máximo de aproveitamento e segurança.

Para chegar até lá

“De Santiago até a entrada do Valle de los Cóndores, a estrada é excelente. A partir da comuna de Talca, apesar de ficar mais estreita, a rodovia ainda é muito bonita. Em Talca é a sua última chance para se reabastecer de água e mantimentos. Já o último posto de gasolina fica no Km 40.”

Panorâmica do Valle de los Cóndores, a partir do setor Gran Pared – Foto: Divulgação

Logística

 “Outro desafio para quem é da escalada esportiva e quer o mínimo de conforto é quanto ao planejamento: você tem que levar tudo para o Valle de los Cóndores. Não há pousadas, mercados nem restaurantes próximos – apenas um abrigo de madeira, sem banheiro e sem cozinha. Banheiro, só se você for até a obra de uma hidrelétrica próxima e pedir para usar. Não há nenhum lugar também para se passar o tempo caso chova ou queira tirar um dia de descanso. Portanto planejamento é primordial: levar um bom livro, uma playlist extensa, um instrumento musical ou uma câmera fotográfica pode ajudar a espantar o tédio.”

Cenário deslumbrante da estrada que sai de Talca – Foto: Divulgação

 

Acesso às escaladas

 “Os acessos aos setores próximos à estrada são visíveis. Você consegue caminhar pela vegetação baixa, de facílima navegação. Já os setores do cânion de baixo exigem certo tempo para achar a trilha e as passagens que acessam o andar inferior. Algumas dessas passagens são por grotas com pedras soltas, nas quais há cordas para auxiliar. No setor El Salto, há uma via ferrata que leva à base. Esse trajeto deve ser feito com equipamentos de segurança, pois há degraus soltos, além de ser bem vertical – com uma mochila nas costas, o risco de acidentes é maior.”

Para quem escala

 “O desafio para qualquer escalador que for para lá pela primeira vez é acreditar na aderência da rocha. Quase sempre, o basalto é bem liso, formando cantos vivos que não parecem nada convidativos para se cair em cima. Em contraste a essa falta de aderência, no entanto, a leitura das vias é bem mais fácil, pois você já sabe que tem que subir puramente pelas agarras. É uma escalada bem atlética. Quem treina em ginásios vai perceber uma movimentação parecida. Depois do terceiro dia, eu me senti mais ambientado, e a escalada começou a fluir melhor.

Cascata Invertida – Foto Divulgação

Para quem não escala

 “Não há roteiros de trekking formatados, apesar de existirem opções próximas. Um tour pelos cânions, por exemplo, é fenomenal, assim como as visitas às cachoeiras de El Salto (que estava seca) e Cascata Invertida. Lá o Cárcel é o mais distante dos 14 setores a serem explorados, mas ainda é um destino puramente de escalada e que pode ser entediante para quem não é desse esporte. Principalmente se os rios próximos estiverem secos – por conta de um represamento para a construção de uma hidrelétrica –, como aconteceu nos dias em que estivemos por lá.”

Melhores setores

 “La Gran Pared é o setor mais procurado pelos escaladores. As paredes são bem limpas de liquens, a proteção é espetacular e é tudo muito perto – você pode estacionar o carro ao lado das vias. Outro setor bacana para escaladores de nível intermediário é La Cocina, cujas vias são mais curtas, porém igualmente seguras. Na minha opinião, a ‘joia da coroa’ é La Cárcel, um setor cheio de fendas que parecem ter sido esculpidas a laser. La Cárcel é indicada aos mais experientes, pois a parede é vertical e lisa e exige proteções móveis, com peças de mesmo tamanho – já que as fendas têm espessura parecida de cima abaixo. É necessário uma caminhada de quase três horas pare se chegar a esse setor. Também há boulders no Valle de los Cóndores, apesar de não chamarem tanto a atenção dos escaladores.”







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