A partir desta terça-feira (1), a Mata Atlântica passa a ser monitorada mais de perto com a criação do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), capaz de detectar áreas afetadas a partir de 0,3 hectare.
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A SOS Mata Atlântica, a sociedade de geógrafos Arcplan e o projeto MapBiomas são os responsáveis pelo novo serviço, que vai gerar relatórios mensais e disponibilizar as informações gratuitamente em uma plataforma online.
“Neste momento em que o país vive a disparada do desmatamento, é preciso colocar uma lupa sobre esse bioma, que ainda é o mais ameaçado, o que menos sobrou e onde se concentra a maior parte da população”, diz Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, em depoimento ao site DW.
Os dados, porém, não são considerados oficiais, como os gerados pelo sistema de alertas Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que foi inaugurado em 2004 para a Floresta Amazônica. No Cerrado, o segundo maior bioma do país em extensão, o Deter começou a operar em 2017 e sofre ameaça de interrupção devido a falta de apoio do governo federal.
O que os testes mostraram
Durante a fase de testes do SAD, que ocorreu em 2021, foram monitoradas as bacias hidrográficas do rio Tietê (São Paulo), Iguaçu (Paraná), Jequitinhonha (Bahia e Minas Gerais) e Miranda e Aquidauana (Mato Grosso do Sul). Esses pontos foram escolhidos por estarem entre os campeões de desmatamento em anos passados.
No período, foram detectados 1.103 alertas, que, juntos, representam uma área de 6.739 hectares de desmatamento, o equivalente a quase 7 mil campos de futebol. As bacias dos rios Miranda e Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, foram as campeãs em área desmatada, com quase metade do total (3.223 ha).
Segundo o levamento, a maioria absoluta dos alertas partiu de regiões rurais com predomínio de uso agropecuário (94%). O estado de São Paulo foi o único que apresentou um padrão diferente: 35% dos alertas identificados foram em áreas urbanas, impulsionados pela expansão das cidades e especulação imobiliária.
“Essa é uma realidade particular na bacia do Tietê, que é como uma colcha de pequenos desmatamentos na zona de expansão das cidades. Quase um terço desse desmatamento está em áreas urbanas e em áreas de mananciais”, destaca Pinto, referindo-se às fontes de água, como rios, lagos, represas e lençóis freáticos.
“São florestas protegidas pela Lei da Mata Atlântica e pela lei sobre os mananciais que estão sendo cortadas. São áreas de muita fragilidade e que têm tudo a ver com essas imagens da destruição causada pelas chuvas que estamos vendo agora, com alagamentos, morro caindo, mortes”, lamenta.
No estado de São Paulo, as chuvas intensas dos últimos dias provocaram deslizamentos, alagamentos, transbordamento de rios e deixaram pelo menos 24 mortos. Alguns casos ocorreram em zonas ocupadas irregularmente, em encostas que foram desmatadas para abrigar moradias.