Atire a primeira pedra quem trabalha todos os dias e nunca trocou um prato de comida de verdade por um lanche no saquinho + bebida adoçada pronta. Esse lanche rápido, cheio de sódio, açúcar e gordura trans, é o oposto da refeição completa e compartilhada, rica em fibras, vitaminas e minerais. Com a instalação às pressas do home office durante a pandemia, muita gente aprendeu a cozinhar, é verdade. Mas muito mais gente passou aperto para garantir um bom almoço todos os dias. Apostar no delivery de marmita congelada saudável foi a solução encontrada para fugir dos ultraprocessados.
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Segundo a pesquisa Global Consumer Insights, 55% dos consumidores brasileiros estão dispostos a pagar mais por opções saudáveis de alimentação. É um valor mais alto do que a média mundial, que fica em 53%. Enquanto isso, a ferramenta Start Up Scanner contabiliza 422 food techs brasileiras cadastradas no seu sistema, 49% delas no Estado de São Paulo, o maior centro financeiro do País.
Marcas como a Orgü viram seu faturamento dobrar nos primeiros meses do isolamento social, em 2020. Ainda que tenha cortado 15% do quadro de funcionários neste ano, a Liv Up também aproveitou o sucesso das vendas da pandemia, quando passou de 300 para 500 funcionários.
Na esteira do sucesso das empresas que entregam comida congelada saudável em porções individuais, em 2021 foi a vez de restaurantes e mercearias físicas apostarem em linhas de congelados próprias, caso da Greentable e da rede Natural da Terra, que criou pratos em parceria com a Prontolight.
O que essas empresas têm em comum, além da promessa de praticidade e saudabilidade, é o cardápio com o apelo da comida fitness congelada e das marmitas low carb, que aliam o momento da refeição do dia a dia com o cuidado físico.
Outra abordagem comum é a aposta em categorias específicas, como a de pratos veganos e de marmitas vegetarianas – especialidade, por exemplo, da Beleaf e da Urban Farmcy.
A oferta de refeição orgânica pronta para consumo é mais um atrativo. Uma das pioneiras no setor das food techs, a Orgü tem o maior cardápio de itens com ingredientes livres de agrotóxicos, além dos “veggies” e dos kits de emagrecimento. O motivo é que a marca foi criada a partir da fusão de duas anteriores, a Orgânico Gourmet, especializada em marmitas congeladas de orgânicos certificados, e da Keep Light, fundada na década de 1990 já entregando marmitas fit ultracongeladas.
Ultracongelados, sim. Ultraprocessados, não
Sabe o que acontece quando a população para de cozinhar em casa? As vendas de alimentos ultraprocessados aumentam, assim como os níveis de obesidade. Essas são algumas das conclusões do Guia Alimentar para a População Brasileira, documento oficial do Ministério da Saúde, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS), da USP, após estudo dos hábitos de alimentação em todas as regiões do País.
Publicado inicialmente em 2014, o Guia aponta um dado numérico importante: entre 1996 e 2009, as vendas de óleo, farinha, arroz e feijão diminuíram, enquanto as vendas de biscoitos, refrigerantes e embutidos aumentaram, indicando que os saquinhos de comida pronta podem tomar o lugar dos ingredientes culinários, que rendem refeições mais saudáveis, mais baratas e compartilhadas.
Os ultraprocessados são os alimentos formulados pela indústria, que utiliza aditivos químicos – corantes, aromatizantes, espessantes etc. – para simular o sabor, a textura, a cor e o aroma da comida de verdade. O consumo desses itens está associado a doenças como obesidade (risco aumentado de 26%), sobrepeso (23%), síndrome metabólica (condições que aumentam o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes: 79%), colesterol alto (102%), doenças cardiovasculares (29% a 34%) e mortalidade por todas essas causas (25%).
Nesse cenário, o crescimento das food techs que oferecem alimentação saudável, com ingredientes selecionados e sem uso de atalhos que recaem em fórmulas ultraprocessadas – são uma ótima notícia e têm tudo para continuar crescendo.