No começo da temporada de ultramaratonas de 2022, o corredor catalão Kilian Jornet não competia em uma prova de 160 quilômetros desde 2018, quando abandonou a Ultra-Trail du Mont Blanc (UTMB) após uma reação alérgica a uma picada de abelha.
Nos anos seguintes, Jornet, agora com 35 anos, teve dois filhos com sua parceira, a ultracorredora sueca Emelie Forsberg, e lançou sua própria marca de calçados e roupas de corrida, a NNormal.
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Mas a paternidade e o empreendedorismo não diminuíram sua velocidade: o melhor corredor de montanha de todos os tempos começou a temporada com uma vitória nos 160 quilômetros da Tjörnarparen Trail Ultra, na Suécia.
Ele então conseguiu uma dobradinha audaciosa, vencendo a Hardrock 100 do Colorado, bem como a UTMB – e estabeleceu recordes nos dois eventos. A Outside USA conversou com Jornet sobre seu ano notável.
Você fez várias corridas de 100 milhas em 2022 depois de alguns anos participando de eventos mais curtos. Foi uma pausa planejada?
Em 2019, quis focar em distâncias mais curtas, com a Golden Trail Series e uma expedição ao Everest. Em 2020, eu queria passar tempo com minha família. Para tentar algo diferente, treinei principalmente em estradas. Em 2021, o foco estava em fazer uma viagem ao Himalaia e acelerar em distâncias curtas, especificamente o quilômetro vertical.
Sua parceria de tantos anos com a Salomon terminou no ano passado. O que fez você decidir que era hora de empreender?
Eu sempre fui geek quando se trata de equipamentos. Tive a ideia de desenvolver algo por conta própria, mas era mais um sonho do que um projeto. Então, no ano passado, por meio de um amigo em comum, conheci a família Fluxá, proprietária da Camper Shoes, e disse a eles que queria fazer algo para a indústria das atividades ao ar livre. Desde a primeira conversa, vimos que compartilhamos os mesmos valores e visão de responsabilidade social e ambiental. A partir daí tudo andou rápido. Sou muito grato por todos os anos na Salomon, por todo o apoio e pelo que fizemos juntos, mas era hora de fazer algo diferente.
Como surgiu a ideia da NNormal?
Pensávamos que a melhor maneira de implementar nossas ideias – em termos de produtos, marketing e responsabilidade corporativa – era criar nossa própria empresa. O benefício de ser sócio de uma empresa é que você não precisa responder aos acionistas no final do ano, podendo desenvolver sua missão sem qualquer pressão. É claro que é preciso ser economicamente sustentável, mas sempre se pode colocar os valores do produto e da empresa em primeiro plano.
Com a popularidade explosiva do ultra running, você acredita que haverá mais atletas profissionais em um futuro próximo?
Nos últimos cinco anos, vi muitos outros atletas se tornando profissionais – não apenas para sobreviver, mas para ganhar um bom salário. Mais marcas estão criando equipes com ótimos recursos. Acho que isso vai continuar e espero que aumente a igualdade e a diversidade no esporte. Muitas das grandes provas têm menos participantes do sexo feminino do que do sexo masculino, e muitos dos patrocínios são de marcas de países ocidentais. Nesse sentido, as marcas têm um grande papel a desempenhar, não apenas na igualdade de oportunidades de patrocínio, mas também no marketing e na comunicação.
Muitas marcas de vestuário para atividades ao ar livre dizem que proteger o meio ambiente é uma parte importante da filosofia de sua empresa. Como a NNormal planeja enfrentar esse desafio?
Na NNormal queremos focar na durabilidade. Isso significa fabricar produtos que funcionam bem por um longo tempo e são fáceis de reparar. Também devem ter durabilidade emocional, o que significa que parecem bons hoje e daqui a cinco anos. Queremos fazer coleções atemporais e não desenhadas de acordo com as tendências sazonais. É importante ter ótimos padrões quando se trata da pegada ambiental dos materiais, bem como do processo de produção. Mais importante, queremos basear nosso modelo de negócios não no consumo excessivo, mas em encontrar maneiras diferentes de sermos economicamente sustentáveis.
O mercado de tênis de corrida é sabidamente competitivo. O que o deixa otimista de que a NNormal pode ter sucesso?
A primeira coisa é definir o que é sucesso. É vender muito ou ter um produto de qualidade? Temos uma grande equipe de desenvolvedores de calçados – temos a experiência da Camper para desenvolvimento e conforto de calçados, e temos um grupo muito talentoso para calçados de desempenho. Para o nosso primeiro tênis, o Kjerag, queríamos fazer algo que funcionasse bem em diferentes terrenos e em diferentes distâncias. Acho que nossa abordagem de durabilidade, conforto e versatilidade vai atrair muitos atletas. Mas vamos ver o que nossos clientes pensam.
Trecho da reportagem Outsiders, publicada na edição 177 da Go Outside.