O grupo Muslim Hikers, criado para reunir e incentivar alpinistas muçulmanos e de minorias étnicas em 2020 no Reino Unido, já conta com quase 9.000 membros, mas ainda lida com racismo nas montanhas britânicas. O objetivo da comunidade é tornar o mundo outdoor mais diverso e inclusivo em um cenário elitista e majoritariamente branco.
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De acordo com a instituição de caridade britânica CPRE, apenas 1% dos visitantes de parques nacionais do Reino Unido têm origens negras, asiáticas e de minorias étnicas (designados por BAME, sigla em inglês).
Um relatório de 2021 da instituição mostrou ainda que as minorias étnicas têm, em média, 11 vezes menos acesso a espaços verdes do que brancos, e que apenas 20% das crianças BAME que visitam ambientes naturais vão para o campo, em comparação com 40% de crianças brancas.
Uma pesquisa encomendada pelo Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido destacou que, apesar de pessoas de origens de minorias étnicas valorizarem o ambiente natural e o ritmo de vida no campo, elas se sentem excluídas e hipervisíveis no que consideram um “ambiente exclusivamente inglês”.
Haroon Mota, fundador do Muslim Hikers, disse ao jornal britânico Guardian que uma publicação sobre a escalada da equipe no Peak District gerou diversos comentários “vis e racistas” em um grupo do Facebook.
“É como a migração dos gnus no Serengeti, eles simplesmente continuam vindo”, escreveu uma mulher branca no post. “E aposto que nenhum dos 100 ajuda a consertar os trajetos quando eles ficam danificados… Uma desgraça absoluta”, disse outra.
Sobre os comentários, Mota disse ao jornal: “Foi uma pena ver comentários de ódio… É apenas uma pequena minoria de pessoas que agem assim, mas com certeza fornece justificativa para chamadas para tornar o mundo outdoor mais diversificado e inclusivo. Isso não vai nos deter nem um pouco”.
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O criador do grupo de alpinistas muçulmanos combate a ideia de que está criando divisões com o Muslim Hikers. “Existe uma sub-representação muito clara e para superar isso, você tem que atender a essa comunidade. Todos são bem-vindos. Mas nosso foco é tentar ajudar a comunidade muçulmana e acho que não há nada de errado com isso”, afirma.
Surgimento do grupo
Há 15 anos, Mota viu, pela primeira vez, mulheres muçulmanas na montanha de Snowdon, no País de Gales, e começou a refletir sobre a participação de pessoas pardas em atividades ao ar livre. Após arrecadar £ 10.000 (cerca de R$ 76.000) escalando o acampamento base do Everest para a instituição de caridade Islamic Relief, a marca outdoor canadense Arc’teryx o convidou para ser embaixador da empresa.
Com o apoio da marca, o primeiro desejo de Mota foi tentar investir na comunidade muçulmana e, assim, nasceu o Muslim Hikers no ano de 2020.
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Agora com quase 9.000 seguidores, o grupo de alpinistas muçulmanos já fez três escaladas oficiais e está planejando mais, inclusive fora do Reino Unido. Muitos participantes disseram que os eventos foram a melhor coisa que eles já fizeram, criando amizades para a vida toda e uma sensação de “segurança em números” ao ar livre britânico.
“Quando comecei a correr maratonas, tornei-me automaticamente o “homem muçulmano da maratona”. Quando comecei a escalar montanhas, automaticamente me tornei o “homem muçulmano da escalada”, conta Mota ao Guardian. Para ele, criar uma representatividade é essencial para que os muçulmanos que praticam atividades físicas seja o “novo normal”.