O aquecimento global, que tem como causa principal as emissões de gases do efeito estufa da queima de petróleo, gás e carvão, contribui sobremaneira para que a costa atlântica do Estados Unidos se torne campo fértil para furacões supercarregados e inundações, que possivelmente atingirão ainda mais as comunidades costeiras se o planeta persistir no uso de combustíveis fósseis.
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É o que aponta estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, que mostra que a rápida intensificação desses fenômenos naturais fez com que as tempestades ganhassem força tão veloz que se tornou cada vez mais difícil alertar aos moradores para a evacuação das áreas.
Os pesquisadores descobriram que as taxas nas quais esses fenômenos ganharam velocidade perto da costa atlântica norte-americana tiveram significativo aumento entre os anos de 1979 a 2018. Nessa área existe, segundo os pesquisadores, uma combinação única de condições ambientais não encontradas, por exemplo, no Golfo do México, outro hotspot de furacões.
“Ao longo do período de 40 anos de 1979 a 2018, a taxa média de intensificação de furacões de 24 horas aumentou em ∼1,2 kt 6 horas -1perto da costa atlântica dos EUA. No entanto, um aumento significativo na intensificação não ocorreu perto da costa do Golfo no mesmo período. A intensificação de furacões ao longo da costa atlântica é consistente com um ambiente dinâmico e termodinâmico cada vez mais favorável, que é bem simulado por modelos climáticos ao longo do período histórico. Além disso, projeções multimodelo sugerem um aprimoramento contínuo do ambiente de tempestades e intensificação de furacões perto da costa do Atlântico no futuro”, revela trecho do estudo.
Em setembro a tempestade Ian, que depois se transformou em furacão, já havia feito pelo menos 125 vítimas fatais e causado inundações e danos ao estado da Flórida. Tempestades que se intensificam perto da costa representam uma ameaça mais séria à vida, à terra e à propriedade, pois o aumento do nível do mar significa que a maré de tempestade é maior e atinge mais para o interior.
Para a transformação de tempestade em furacão são necessárias condições ambientais quase perfeitas, porém nem tão frequentes. De acordo com os pesquisadores, superfície do oceano quente, alta umidade, baixo cisalhamento do vento (que mede a força e a direção do vento mais alto na atmosfera) e o movimento giratório do ar (vorticidade) são os ingredientes para essas tempestades devastadoras, que se tornam cada vez mais comuns à medida em que as emissões de gases de efeito estufa se acumularam.
Outro fator relevante, diz o estudo, é que, à medida em que o planeta aqueceu, a diferença de temperatura entre a terra e a água aumentou. Temperaturas na terra mais quentes fortalecem esse movimento de torção que puxa o ar úmido para cima, enquanto uma superfície do mar mais quente adiciona ainda mais umidade, um ingrediente crucial para a intensificação.
Em relação ao cisalhamento do vento, as descobertas baseiam-se em estudos anteriores, que mostraram que o crescente contraste na temperatura terra-mar também está associado a mudanças nos padrões de chuva e seca.
O furacão Maria, em 2017, em Porto Rico, causou o apagão mais longo da história dos Estados Unidos e vitimou fatalmente 3.000 pessoas. Projeções usando vários modelos climáticos sugerem que a tendência destrutiva parece continuar, a menos que os combustíveis fósseis sejam eliminados.