
Nos últimos dias, diversos veículos de imprensa repercutiram a notícia de que a escalada pode representar riscos à saúde. O alerta veio de uma pesquisa, que revelou que a poluição do ar em ginásios indoor pode estar “entre as mais altas já documentadas no mundo”, devido à alta concentração de compostos potencialmente nocivos presentes nas sapatilhas.
No estudo publicado no periódico ACS ES\&T Air, pesquisadores da Universidade de Viena e da EPFL Lausanne coletaram amostras de ar em ginásios de boulder na Áustria, França, Espanha e Suíça, onde ficaram surpresos ao encontrar níveis perigosamente altos de poluição — comparáveis aos das vias expressas em megacidades. Os níveis mais elevados foram registrados em ginásios “cavernosos”, ou seja, menores e com pouca ventilação.
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O vilão? Os aditivos químicos nas solas de borracha das sapatilhas, liberados quando os escaladores sobem nas paredes. Os pesquisadores testaram 30 pares de sapatilhas e encontraram muitos dos mesmos aditivos usados em pneus de automóveis, alguns dos quais podem ser prejudiciais à saúde humana.
Essas substâncias — conhecidas como compostos derivados da borracha (RDCs, na sigla em inglês) — foram encontradas nas solas dos calçados, em partículas no ar (material aerossol), nas agarras de pés e mãos, além do pó acumulado nas superfícies.
Os pesquisadores afirmaram que as partículas suspensas no ar são causadas, em parte, pelo atrito dos calçados contra a parede de escalada, mas também pela ação dos próprios escaladores ao escovar as agarras para retirar o pó, fazendo com que essas partículas se espalhem no ar — e, assim, sejam inaladas tanto por praticantes quanto por funcionários das academias.
Embora os efeitos exatos desses aditivos ainda não sejam totalmente conhecidos, o coautor do estudo, Thilo Hofmann, pede que os fabricantes passem a usar materiais menos nocivos. “Essas substâncias não deveriam estar no ar que respiramos”, disse ele ao site Phys.org. “Faz sentido agir antes de sabermos todos os detalhes sobre os riscos, especialmente quando se trata de grupos sensíveis, como crianças. É essencial mudar para materiais de sola que contenham menos substâncias perigosas”, finalizou o pesquisador.
Benefícios para o corpo e mente

A escalada vive seu auge no Brasil. O crescimento do número de ginásios espalhados pelo país nos últimos anos reflete a popularização desse esporte, que se tornou olímpico em Tóquio 2020 e vem conquistando cada vez mais adeptos. Mais do que uma atividade desafiadora, a escalada é amplamente reconhecida por seus impactos positivos na saúde física e mental.
Uma pesquisa publicada em 2018 pela National Library of Medicine revelou que escaladores regulares apresentam ganhos expressivos na amplitude de movimento e no VO₂ Máx — a taxa máxima de absorção de oxigênio pelo corpo — em comparação com pessoas sedentárias. Além disso, outros estudos vêm reforçando o papel da escalada no cuidado com a saúde mental.
Pesquisadores alemães, por exemplo, identificaram que a escalada pode funcionar como uma forma eficaz de psicoterapia para adultos com depressão, graças à combinação de estímulo físico, social e cognitivo que a atividade proporciona. Escalar é, ao mesmo tempo, um exercício completo e um exercício de presença: exige concentração, controle emocional e tomada de decisão.
A prática regular também fortalece os músculos, melhora a coordenação motora e desenvolve a flexibilidade. Mas vai além: a escalada estimula o raciocínio estratégico, já que o praticante precisa traçar a melhor rota até o topo da parede, analisando cada agarra como parte de um quebra-cabeça físico e mental.
Embora seja um esporte individual, a escalada também fortalece vínculos sociais. Em ginásios e ambientes naturais, é comum ver escaladores trocando dicas, incentivando uns aos outros e celebrando conquistas coletivas. Essa sensação de comunidade torna a prática ainda mais rica e acolhedora.
E, de acordo com um estudo da USP, é melhor se exercitar mesmo que em locais poluídos do que sucumbir ao sedentarismo. A partir de testes realizados com ciclistas em SP, os pesquisadores formularam a hipótese de que pode haver um certo tipo de aclimatação dos indivíduos aos ambientes poluídos de uma metrópole.
“Assim, podemos dizer que, neste caso, os benefícios do exercício se sobrepõem aos efeitos deletérios do ambiente poluído”, resumiu André Casanova Silveira, um dos autores do artigo.
Muito mais do que subir paredes, a escalada esportiva é uma atividade completa que desafia corpo e mente a cada movimento.
“Para mim, esse foi um esporte extremamente terapêutico a vida inteira, porque você fica muito concentrado no que está fazendo, e é uma prática que trabalha todo o corpo”, relata Janine Cardoso, escaladora multicampeã e atualmente diretora técnica da Confederação Brasileira de Escalada Esportiva (CBEscalada).