Dormir durante o expediente pode aumentar a produtividade e felicidade?

*Por Abigail Wise, da Outside USA

dormir no trampo
Foto: Sven Simon / United Archives via Getty Images.

COMO MÃE DE UM BEBÊ de oito meses e trabalhadora, estou quase em constante privação de sono. Atravesso os dias de trabalho em estado de torpor. Mais de uma vez, cheguei à redação e me dei conta de que tinha deixado o laptop em casa, a mais de 30 quilômetros de distância. Bocejo em reuniões e só consigo me manter em dia com minha lista de afazeres graças a um hábito diário equivalente a 10 dólares em café ao dia.

Então, quando meu editor me pediu uma matéria que exigia dormir todos os dias no trabalho, explodi em agradecimento. Durante um período de três semanas, teria que cochilar 30 minutos todas as tardes. Monitoraria minha produtividade, humor, e nível de energia para avaliar se uma sesta diária me deixaria melhor no trabalho – e mais feliz no geral.

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Pesquisas mostram que sonecas podem incrementar a memória e melhorar o humor. Mas eu descobri rapidamente que cochilar no trabalho era consideravelmente mais difícil do que parecia. No primeiro dia, me envolvi tanto em reuniões que esqueci completamente da sesta.

O dia seguinte não foi muito melhor: Desenrolei meu mat de yoga no chão do meu escritório e fechei a porta. Mas ao invés de adormecer, fiquei lá deitada pensando obsessivamente em tudo que ainda tinha que fazer até o fim do dia. “Estou acordada desde as 4h da madrugada com meu bebê”, escrevi em minhas notas pós-soneca, “mas continuei listando todas as coisas que ainda tinha que fazer. Não dormi nem sequer um minuto”.

Continuei assim durante duas semanas, até apelar finalmente à ajuda de Kelly Murray, consultora de sono que trabalha com adultos e bebês. Nós identificamos meu problema rapidamente: eu estava me esforçando demais! Quanto maior a minha exigência, ela disse, menos bem-sucedida eu seria. Ela me encorajou a reduzir a pressão. Se uma soneca parecia inalcançável, deveria fazer exercícios de respiração, que poderiam me levar a um estado meditativo de descanso profundo. De acordo com Kelly, um descanso profundo acalma a mente e oferece benefícios similares aos do sono, reduzindo o estresse e promovendo a aprendizagem.

Nós identificamos meu problema rapidamente: eu estava me esforçando demais! Quanto maior a minha exigência, ela disse, menos bem-sucedida eu seria. Ela me encorajou a reduzir a pressão.

Kelly também sugeriu algumas mudanças no ambiente de cochilo. Idealmente, deveria descansar em algum lugar que não fosse meu local de trabalho habitual. A iluminação deveria ser suave, e talvez um pouco de óleo essencial de lavanda, com suas propriedades calmantes, ajudaria. Também precisava reduzir o consumo de cafeína.

Em seguida, liguei para Valerie Cacho, médica especialista em distúrbios do sono, que me explicou que relaxar era um processo. “Na academia, você não vai direto aos pesos mais pesados. Você trota ou faz um aquecimento antes”, ela disse. E sugeriu uma pequena rotina pré-sesta para me livrar de meus pensamentos agitados.

Armada com estas estratégias, voltei a mergulhar no experimento. Trabalhei de casa, o que me permitiu tirar sonecas na cama. Era mais fácil tomar menos café quando era eu quem tinha que prepará-lo, e não o barista da cafeteria vizinha do escritório, e isto me ajudou a reduzir a cafeína. Todos os dias por volta do meio-dia, baixava a intensidade das luzes, anotava as tarefas da tarde para limpar minha cabeça, e uma ou duas vezes até mesmo aplicava um pouco de loção de lavanda. Então focava na respiração, contando as inalações e exalações. E algo realmente mágico aconteceu: caí num sono leve.

Voltei à mesa de trabalho mais feliz e revigorada? Sim. Fui mais produtiva? Também. Mas a verdade é que senti mais falta de meus habituais cafés do que me deleitei com estes ganhos. Na manhã seguinte ao último dia de experimento, voltei direto ao café.

*Trecho da matéria “O hábito faz o monge”, publicada na edição 178 da Go Outside.