Construção de palanque para disputa do surf olímpico é retomada

Por Hardcore

Foto: Todd Glaser

A polêmica em torno da construção do palanque olímpico para a competição de surf em Teahupoo, no Tahiti, continua a gerar debates intensos. Apesar das críticas e da pausa temporária nas obras, a organização dos Jogos Olímpicos de Paris anunciou a retomada dos trabalhos.

A decisão ocorre após uma balsa ter ficado presa no recife durante um teste, destruindo partes do fundo de coral. O incidente intensificou a preocupação da comunidade local que já se manifestava contra a construção do palanque devido aos riscos ao ecossistema local.

Conforme noticiado pela agência norte-americana, Associated Press, Tony Estanguet, chefe do Comitê Organizador, anunciou a retomada da construção do palanque na última segunda-feira (11). Reconhecendo os supostos danos ao recife durante o teste anterior, Estanguet admitiu que a tentativa anterior “não foi bem-sucedida”. Os organizadores responderam à preocupação ambiental local optando por uma balsa menor, com o intuito de “evitar danos ao coral” e, esta semana, tentarão traçar uma rota segura através do recife.

Em busca de traçar os danos ao ecossistema causados pela construção, a Mega Lab, uma ONG dedicada ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a preservação dos ecossistemas marinhos, realizou um estudo do recife de Teahupoo. A partir de uma tecnologia de fotografia 3D, Cliff Kapono, doutor em química e membro fundador da ONG, se uniu a outros cientistas e surfistas para mapear a área do palanque onde o recife será dragado para o transporte dos materiais.

Os resultados indicam que a construção e a rota da balsa podem impactar 2.500 metros quadrados do coral, causando danos estimados em US$1,3 milhão ao habitat marinho.

A pesquisa avançada da Mega Lab está passando por uma revisão criteriosa antes de ser publicada em revistas científicas. No entanto, os pesquisadores destacam que ainda é cedo para avaliar completamente como a construção do palanque pode afetar o ecossistema e a comunidade local que dele depende.

Registro do estudo de campo da Mega Lab – Foto: Todd Glaser

Cliff e a equipe apresentaram mais alguns números: Em uma análise de 322 metros quadrados, equivalente ao tamanho de uma quadra de tênis, eles identificaram nada menos que 1.003 corais de 20 espécies distintas, indicando um habitat próspero e diversificado. Além disso, dados preliminares, provenientes do Hawaii Division of Aquatic Resources, sugerem que o valor dessa pequena porção de corais e algas é estimado em pelo menos US$170 mil dólares, realçando a importância econômica e ecológica desse pedaço valioso do ecossistema marinho.

“Esperamos que o Comitê Olímpico Internacional, autoridades governamentais competentes e a comunidade internacional em geral possam perceber o quão devastador será esse impacto, não apenas para o valioso habitat de recifes de coral, mas também para a comunidade local, que depende desse recife para sua subsistência e bem-estar.”, informa uma declaração do Mega Lab.

Jeremy Flores, surfista francês nativo das Ilhas Reunidas, também se manifestou, enfatizando o envolvimento ativo dos locais na preservação do local. Em um post no Instagram, ele defendeu uma abordagem mais proativa das organizações de surf na busca por soluções, em vez de colocar pressão apenas sobre os surfistas.

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Abaixo, a tradução da legenda com a opinião de Jeremy Flores:

“É emocionante ver os surfistas mostrando respeito a Teahupoo. Tem sido bem intenso ultimamente. Todas as partes envolvidas estão tentando encontrar a melhor solução para garantir que Teahupoo permaneça Teahupoo. É um lugar muito especial **

Só para deixar claro, os atletas locais, especialmente Vahine & Kauli que moram lá, têm estado na linha de frente desde o início, participando de reuniões e garantindo que as Olimpíadas entendam a seriedade da situação. Eles se levantaram e levantaram suas vozes internamente desde o início de tudo isso. Lembro-me de Vahine se levantando na frente de todos em Paris explicando como esta terra é sagrada e explicando a eles que é mais do que apenas a torre de alumínio. Ela disse: “É sobre as energias sendo movidas ou destruídas pelos humanos. É por isso que se tornou uma batalha tão grande. Os taitianos estão sendo ofendidos pela falta de respeito ao nosso lugar sagrado. É nosso templo. É uma crença espiritual, encarnação viva de nossa herança e de nossa terra ancestral.”

Li algumas pessoas dizendo que os taitianos/equipe francesa estavam muito quietos sobre tudo isso. Vocês não têm ideia do que acontece internamente. Me irrita até pensar que alguns de vocês pensam que eles não se importam.

Não é responsabilidade dos “atletas olímpicos” ter que lidar com as decisões dos governos. Eu preferiria ver todas as grandes organizações de surf levantando suas vozes para encontrar as melhores soluções, em vez de pressionar os surfistas.

As associações de Teahupoo estão fazendo um ótimo trabalho para garantir que este lugar seja respeitado e que suas vozes sejam ouvidas…

Estive em contato com os governos constantemente nos últimos meses. É uma situação muito complexa. Há muito mais acontecendo nos bastidores. Eu vou me certificar de sempre dar minha opinião honesta. Vamos manter tudo saudável e o diálogo aberto. Aloha”

Enquanto a construção é retomada, a comunidade de surf observa com cautela cada passo do Comitê Olímpico. O diálogo aberto e a consideração cuidadosa das preocupações locais se tornam essenciais para equilibrar o evento esportivo e a preservação desse local único.







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