Em uma pequena comunidade em São Tomé e Príncipe, um movimento liderado por jovens mulheres africanas está fazendo história ao pregar empoderamento e igualdade de gênero nos lineups da região. Lançado no início desse mês, o documentário “Surfing Through Adversity: The SOMA Story” retrata a questão, além de comprovar como o surf pode ter um impacto profundo em comunidades carentes.
Para formar o grupo de surfistas, em 2020, a diretora da SOMA Surf, Francisca Sequeira, literalmente bateu de porta em porta para convidar mulheres a ter aulas de surf. Desde então, um pequeno, mas crescente, grupo 100% feminino passou a se desafiar e evoluir nas ondas ao redor de São Tomé.
A missão da SOMA, cujo significado da palavra é Surfista Orgulhosa da Mulher da África, é combater a desigualdade de gênero por meio do surf, além de promover apoio acadêmico e suporte para a saúde mental das mulheres participantes. O documentário não apenas narra a história inspiradora das jovens surfistas, mas também destaca a importância crucial da representatividade feminina na comunidade do surf.
Além da obra cinematográfica excepcional, o filme também recebeu o apoio do banco de imagens Shutterstock.com. “A Betclic [produtora do filme] queria apresentar SOMA como parte de sua iniciativa, que visa chamar a atenção para atletas despercebidos e sub-representadas”, explica um blog no Shutterstock.com . “A agência deles, Coming Soon, procurou vários fornecedores de imagens para encontrar fotos de garotas negras surfando. No entanto, para surpresa e consternação de todos, não conseguiram encontrar esse conteúdo.”
A parceria entre a Betclic e o Shutterstock Studios foi essencial para criar não apenas o documentário, mas também a primeira coleção de fotos de mulheres negras surfando disponível em um banco de imagens global. Os lucros dessa coleção serão direcionados diretamente para a SOMA, fortalecendo ainda mais sua missão de motivar e capacitar as mulheres em São Tomé e Príncipe.
No contexto de São Tomé, a segunda menor nação africana, onde 67% da população vive abaixo da linha da pobreza e apenas 34% das mulheres chegam ao ensino médio, a SOMA Surf se torna uma luz de esperança. O programa anual oferecido em Santana, a vila capital do distrito de Cantagalo em São Tomé e Príncipe, inclui aulas de surfe, suporte acadêmico, psicoeducação e atividades de empoderamento.
“Na realidade dessas garotas, surfar sozinhas e os benefícios do surf foram apenas o começo de uma mudança de paradigma”, revela Francisca Sequeira, fundadora da SOMA Surf. “Para combater a desigualdade de gênero, gravidez precoce e baixo desempenho escolar, entre outros desafios, precisávamos complementar as atividades de surf com uma estrutura que oferecesse mais, como uma escola não formal e um espaço seguro para mulheres, ambiente esse que antes não existia na região.”
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Ao ganhar a confiança da comunidade por meio do surf, a SOMA Surf não apenas transforma vidas nas ondas, mas também inicia diálogos importantes sobre confiança, educação sexual e o papel das mulheres na sociedade.
O documentário e a iniciativa “Surfing For Possibilities” elevam a voz dessas jovens mulheres em São Tomé e Príncipe, além de fortalecerem o chamado para uma mudança efetiva na desigualdade racial e de gênero na comunidade do surf.