Setembro Amarelo: Como prevenir e cuidar da síndrome de burnout?

Por Verônica Mambrini

síndrome de burnout
Imagem: Pexels

É normal pensarmos no burnout como um problema de saúde mental ligado exclusivamente a ambientes de trabalho corporativos. Mas a verdade é que ele pode vir associado a qualquer atividade profissional. Até mesmo àquelas que, para algumas pessoas, é lazer. Em outras palavras, existe sim o burnout esportivo, e se você tem dúvidas, basta lembrar da ginasta Simone Biles nos recém-disputados Jogos de Tóquio 2020. 

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Uma estrela em sua modalidade, Simone Biles optou por não participar da final da ginástica feminina por equipes. Biles também desistiu de disputar a final individual geral da ginástica artística. A decisão causou polêmica, mas abriu uma discussão saudável sobre saúde mental no esporte. “É uma bosta. Tipo, treinar cinco anos, e as coisas não vão da forma como você queria. Mas sei que ajudei muitas pessoas e atletas a falarem sobre saúde mental e dizerem não. Porque eu sabia que não poderia ir lá e competir. Eu sabia que me machucaria”, declarou, na época.

A síndrome de Burnout é considerada uma reação ao estresse crônico e possui como principais características a exaustão emocional, a falta de senso de realização e a despersonalização. É claro que é mais frequente em situações de trabalho. Mas é possível se impor metas tão desgastantes e exigentes que o burnout esportivo chegue para amadores. Imagine-se na situação de ter investido em uma viagem de escalada ou expedição super exigentes para o qual economizou por anos, e sentir que não pode falhar ou ter um desempenho ruim. Ou que, para atingir seu objetivo, você precisa abrir mão de ver seus amigos e família e condiciona todos os aspectos da sua vida ao redor desse objetivo, de forma intensa. Está dado o cenário para o burnout esportivo. 

O Journal of Athletic Training chegou a lançar uma edição especial desencorajando a especialização extremamente precoce, sobretudo quando o assunto é bem-estar mental e social. Isso porque diversas pesquisas apontam para o isolamento social desses jovens atletas, além do aumento do estresse e da falta de tempo para a família, sacrifícios que nem sempre revertem um melhor desempenho esportivo.

As estudiosas do tema Andrea Sarno, Liliane Monay e Rosângela Zarza trouxeram para o Brasil uma ferramenta digital de identificação de síndrome do burnout, o Maslach Burnout Inventory Toolkit, que considera dois elementos principais: o indivíduo e o ambiente de trabalho. Elas explicam quais os sintomas mais comuns de síndrome de burnout:

– Aumento ou perda de apetite;

– Fadiga fora do normal;

– Enxaqueca;

– Mudanças drásticas de humor;

– Desinteresse ou apatia;

– Dificuldade de concentração e memorização;

– Consumo abusivo de álcool, cigarros ou outras drogas;

– Ansiedade exacerbada;

– Alteração do sono;

– Dores musculares frequentes.

Como dá para perceber, independente do burnout surgir a partir do ambiente de trabalho ou de um projeto pessoal extremamente desgastante, ele irá afetar todos os aspectos da vida do indivíduo. Inclusive as atividades que usamos para relaxar: o treino vira um peso, a saída para a montanha um estresse, a prova uma fonte de angústia. 

As sócias explicam também os 12 passos para o burnout, que geralmente vão se acumulando até gerar uma situação insustentável:

– Necessidade de aprovação

– Trabalhar demais

– Necessidades pessoais negligenciadas

– Distorção de valores

– Negação

– Isolamento Social

– Alterações comportamentais

– Despersonalização

– Sensação de vazio

– Depressão

– Síndrome de burnout

“A ferramenta é sistêmica e traz informações que integram a visão do indivíduo e dos aspectos do trabalho, ajudando a fazer cálculos mais precisos e comparativos graças a uma base de dados global, de pessoas de vários países, que já responderam aos questionários de forma online”, diz Andrea Sarno, consultora especialista em desenvolvimento emocional e fundadora da Avena Consultoria. 

Ok, mas com os sinais do burnout batendo na porta o que fazer? A partir do momento em que são identificadas as principais fontes de estresse que estão levando ao burnout, se traça um plano para melhorar as condições ambientais. Geralmente, são seis fatores considerados, sobretudo no ambiente de trabalho: a carga de trabalho, a independência e autonomia, o reconhecimento financeiro e social que você recebe por sua contribuição no trabalho, o contexto social do ambiente de trabalho, o sentimento de justiça do indivíduo (se ele sente que suas condições de trabalho são justas, por exemplo), e a conexão dos valores pessoais com os da empresa.  

No caso do esporte, para amadores e profissionais, a orientação é buscar suporte psicológico profissional e ter limites claros, para criar estratégias de enfrentamento do estresse. Isso inclui trabalhar com metas possíveis, aprender a lidar com a frustração diante de resultados limitantes ou negativos e trabalhar com a consciência de que o esporte é uma parte do indivíduo.

Enfrentamento (coping) é o termo utilizado para designar o processo de lidar com demandas internas ou externas, avaliadas pelo indivíduo como superiores a seus recursos ou possibilidades. Então, assim como o atleta precisa construir habilidades esportivas, ele pode e deve criar estratégias emocionais para aumentar sua resiliência e capacidade de lidar com o estresse.