Muita gente quando pensa em ir para a natureza com crianças logo pensa: “E se acontecer algum acidente? Como vou fazer? Será mesmo seguro?”.
Todas essas perguntas são bem relevantes e não temos aqui a pretensão de responder a todas. Gerenciamento de riscos, cursos de primeiros socorros em áreas remotas, noções adequadas de técnica para a atividade que vai ser realizada. Existe uma série de medidas e cuidados a serem considerados quando vamos realizar uma atividade.
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Um kit básico de primeiros socorros sempre a mão e habilidade técnica para utilizá-lo é sempre muito importante quando pensamos em ir para a natureza, especialmente quando estamos levando crianças junto com a gente: aí a importância de se atentar aos detalhas é ainda maior.
Quando fomos para a Pacific Crest Trail percorrer uma trilha de longo curso de mais de 4.000 quilômetros, a Bia Carvalho fez um curso de primeiros socorros em áreas remotas com a Samanta Chu.
A Samanta é representante do WMAI (Wilderness Medical Associates) no Brasil e ministra diversos cursos que ensinam a lidar com situações emergenciais e dá mais segurança para saber como agir em situações adversas na montanha.
Premissas básicas
Por não ser especialista da área de saúde não trarei aqui nomes de medicamentos ou qualquer prescrição nesse sentido, trago apenas uma pequena amostra daquilo que aprendemos no curso e costumamos carregar conosco nas nossas expedições pela natureza.
É importante ressaltar que dependendo de quão remota é a trilha e do tempo que vão passar longe da cidade, alguns ajustes podem ser necessários, como por exemplo a quantidade de itens que serão levados.
Na nossa última expedição com a Maya na Patagônia Argentina parte do nosso kit estava conosco e parte estava na cidade. Fizemos dessa forma porque calculamos o tempo que levaríamos para chegar até o nosso equipamento na cidade caso tivéssemos uma emergência.
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O que entra no nosso kit
Aqui vai uma relação bem extensa de itens que consideramos importante ter à mão, considerando quão remota é a trilha, as características dos integrantes do grupo e a distância até um posto de saúde ou hospital. Ao final, vamos incluir aquilo que modificamos por estarmos com crianças na trilha:
- Rolo de gaze: para estancar sangramento / pequenas feridas
- Bandagens triangulares: para manter o rolo de base pressionando a ferida, caso haja um sangramento mais intenso; também utilizado para fazer tipoia caso haja lesão ou fratura.
- Manta térmica de emergência: proteger de hipotermia
- Par de luvas: higiene
- Lanterna de emergência: pequena e leve dentro do kit de emergência
- Apito: para chamar atenção caso venha a se perder
- Atadura elástica: ajuda a dar estabilidade em casos de torções não muito graves ou para estabilizar lesão ou fratura
- Um guia de curso de primeiros socorros que ajude a entender como uma situação pode evoluir
- Sachês de mel, bala, doce de leite: caso a pessoa precise equilibrar o nível e açúcar no sangue rapidamente
- Pastilha purificadora de água extra
- Medicações de uso pessoal utilizadas recorrentemente e após consulta médica (exemplos: dor e febre / antialérgico / anti-inflamatório / medicamento utilizado em caso de diarreia)
- Bula da medicação: para checar posologia e indicação de uso
- Repositor eletrolítico: caso haja desidratação
- Esparadrapo
- Kit de limpeza de feridas: tesoura, pinça, seringa de 15 a 20 ml para lavar a ferida com pressão, escova de dente nova pequena pra esfregar a ferida e tirar a sujeira, sachê de soro para pequenas feridas de difícil acesso como olhos
- Isqueiro para esterilizar materiais,
- Antissépticos
- Spray ou gel anti-inflamatório para lesões
- pomadas: antialérgica e antiinflamatória, para caso de assadura
- Feltro adesivo para bolhas
- Ataduras diversas não aderentes para cobrir feridas, e outras específicas para queimadura
- Agulha e linha para bolhas (não é unanimidade a sua utilização em caso de bolhas, mas utilizamos essa técnica em casos específicos de bolha em trilhas de muitos dias)
Cuidados extras com crianças
- Lista de remédios recomendados pelo pediatra em cada viagem de acordo com quão remoto é o acesso ao posto de saúde ou hospital mais próximo
- Termômetro
- Bandagem adesiva colorida ou tradicional (porque a Maya ama e tem um valor psicológico imenso para ela)
- Para nós, foi importante incluir radios VHF no nosso kit. Esse item não se limita a um kit quando se tem crianças junto, porém passou a ser essencial quando com a presença da Maya começamos a pensar na necessidade de nos separamos mais vezes durante um percurso. A comunicação entre os membros da expedição ajuda a manter a calma e a segurança dos membros.
Dicas práticas
Na nossa última viagem pela Argentina, querendo economizar peso na mochila, optamos por levar apenas a medicação pediátrica com uso adulto e infantil. Maya não precisou usar uma medicação específica, mas o pai precisou. A posologia adequada para o caso dele acabou com o frasco em apenas dois dias. Então, para a próxima viagem levaremos a medicação infantil e os comprimidos para os adultos.
Se possível tenha o telefone da pediatra a mão. Facilita bastante em alguns casos. A inexperiência junto com a parentalidade pode fazer com que a gente enxergue algo grave onde não existe. Acessamos nossa querida pediatra quando a Maya apareceu cheia de bolas vermelhas pelo corpo, mas se tratava apenas de mordidas de algum inseto. Uma boa orientação e calma podem ajudar muito em vários casos.
Quando fizemos a Pacific Crest Trail tínhamos à mão um aparelho da Spot (localizador por satélite que pode ser acionado em casos de emergência). Esse item pode ser considerado na hora de montar um kit de primeiros socorros robusto. Importante analisar o quão remota é a trilha que será percorrida.
Na Patagônia tínhamos os rádios comunicadores com a frequência dos guarda parques locais anotadas e na cidade utilizamos mesmo o celular.
Edinho Ramon e Bia Carvalho são pais da Maya, criadores da página Sua Casa é o Mundo e diretores do filme Lugar de Criança. Aqui na Go Outside eles assinam a coluna Infância Outdoor.