Como fazer a Trilha do Bonete em Ilhabela

Por Xivo Felsberg

trilha do bonete ilhabela
Foto: shutterstock

Segundo uma lenda local, os navegadores vikings escandinavos foram os primeiros a chegarem à paradisíaca praia do Bonete, cravada no extremo sul de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Incrível ou não, dá-se crédito à história ao observar que muitos nativos da maior ilha marítima do Brasil são loiros e têm olhos azuis. Mas não é só para ver moleques caiçaras surfando ondas sem cordinhas que vale a pena chegar ao Bonete pela trilha descrita a seguir. Compensa também apreciar a vila que parou no tempo e os destroços de barcos naufragados. De quebra, quando voltar ao ponto inicial, curta a capital da vela, dos bares e restaurantes sofisticados do litoral norte.

Mas antes de abraçar o percurso de 15 quilômetros, cheque na previsão do tempo se choverá ou não. Além do chão virar um sabonete quando chove, não é nada agradável caminhar mais de quatro horas molhado da cabeça aos pés. E saiba que a trilha também pode ser percorrida de bicicleta – mas se você escolher a magrela, prepare-se para carregá-la com freqüência, pois há trechos íngremes e com pedras que não são pedaláveis.

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1ª parte – Ponta do Sepituba a Lage

No início do percurso há uma guarita do Parque Estadual. Depois de passar por ela, são mais vinte minutos de caminhada tranquila até a subida do Cação, a mais íngreme do passeio. São cerca de dez minutos de rampa e os segredos são: não olhar pra cima, utilizar as mãos quando necessário e ir no ritmo devagar-e-sempre.

Quando chegar a 800 metros acima do nível do mar, a respiração ofegante dá lugar ao prazer de curtir o visual lá de baixo. Um horizonte sem fim, a ilha de Alcatrazes envolta pela névoa e um petroleiro vindo de algum lugar do mundo enriquecem a paisagem. Mas não gaste muito tempo aí. A subida quase o matou, mas como recompensa, depois de mais ou menos 15 minutos de trilha você ouve o som da cachoeira da Lage, que se aproxima.

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Até aqui, passaram-se em torno de cinqüenta minutos e antes era preciso tirar o tênis para atravessar o rio, mas agora existe uma ponte construída pelo Parque Estadual junto com a Prefeitura de Ilhabela que facilita a travessia. Se você for entrar na água, tome cuidado! Quando chove muito o rio fica intransponível por causa da correnteza e a rocha, cheia de limo, é escorregadia. Dependendo de onde você pisa, a água lhe dá uma rasteira molha-testa.

Passando pela ponte, continue na trilha, mantendo-se sempre à direita, até encontrar uma pequena entrada. São trinta metros que, dependendo do cascão de seu pé, podem ser percorridos descalços até a lage da cachoeira. Na queda você enxerga um escorregador de pedra, que desemboca numa refrescante piscina natural. Um parquinho que merece mais de meia hora do seu tempo. O melhor ponto para descer pelo tobogã é indo para debaixo de uma pedra no topo dele. Bananinhas para repor a energia, tibuns aos montes e muito sol na cara não podem ser deixados de lado neste paraíso.

Outra dica de segurança: descendo cerca de vinte metros há uma queda d’água com uma força descomunal. Nem ouse colocar a sua cabeça ali. A última pessoa que vi fazer isso levou trinta pontos na cabeça. Assim, depois do momento de relaxamento, respire fundo, encha o cantil e volte à pequena entrada de onde você veio, virando à direita, pois cerca de 2/3 da trilha ainda te esperam.

2ª parte – Da Lage ao Areado

Estamos no trecho mais longo da trilha, mas sem muitos desníveis, rios ou cachoeiras a serem vencidas. Você caminhará por entre árvores durante pelo menos uma hora e quarenta até o rio Areado, acompanhado apenas pelo som dos seus passos e da natureza.

O bom é que é quase impossível se perder na trilha do Bonete. Desde a ponta do Sepituba até a praia, não há bifurcações ou trilhas paralelas. O caminho é uma antiga estrada feita há mais de trinta anos, que foi abandonada e invadida pela mata. Por isso, sempre olhe onde pisa, pois cobras, lagartos, pássaros e outros animais são facilmente vistos no percurso.

Após uma longa subida seguida de uma descida, chega-se ao Areado, um rio mais caudaloso que o da Lage. Nesse trecho, também foi construída uma ponte para simplificar a travessia. Dependendo do seu tempo e adrenalina, desça pela lateral do rio até o mar para encontrar uma praia de pedras, que guardam ondas de até três metros, que apenas surfistas experientes se arriscam a pegar.

3ª parte – Do Areado ao Bonete

A última etapa da trilha pode ser feita em menos de uma hora. Quando encontrar outra ponte que passa do lado de uma cachoeira, é sinal de que você está chegando. Não diminua o ritmo. Em breve você chega a um mirante, do qual se avista o Bonete. Água super azul, mata verde com algumas árvores que escondem a vila de pescadores e areias claras animam a chegada. Quanto mais a frente, mais se vê os detalhes da baía, virada exatamente para o sul. As canoas coloridas dos pescadores, o rio no canto esquerdo, as ondas que batem na rocha formando triângulos perfeitos e as mesas de pequenos restaurantes da praia evidenciam que existe um sopro de civilização naquele fim de mundo. Ali moram cerca de 350 pessoas, que vivem da pesca e do turismo e longe da bagunça urbana.

E enfim, depois de cerca de quatro horas de caminhada, você finalmente pisa na areia fina do Bonete, a praia mais larga de Ilhabela, com 600 metros de extensão. Pular no mar, deitar na areia e matar a fome com um prato-feito de peixe são os sacrifícios para quem chega ao paraíso.

Praia do Bonete

O choro do suco – do Bonete a Enchovas

Se você ainda tiver forças, conheça a praia de Enchovas. Qualquer morador do Bonete sabe informar onde começa a trilha. Em meia-hora de caminhada você avista uma ilha de pedras de frente para a praia, um local perfeito para um banho de mar. O ideal é chegar num sábado ao Bonete, acampar ou dormir numa pousadinha, e depois passar o domingão nas Enchovas. Depois, combine com algum barqueiro o melhor horário para voltar. Em meia hora você estará no Borrifos (o início da trilha).

Mais informações sobre a Trilha do Bonete, acesse o site oficial de Ilhabela.

(Matéria publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2008 e atualizada em junho de 2022)

 







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