Já teve a sensação de estar correndo a tanto tempo que não sente mais nada? De estar tão presente em uma ação, que tem a sensação de estar flutuando? Isto é um estado de flow. Em essência, é uma concentração tão profunda que você nem percebe que está se concentrando. Na década de 1970, um psicólogo da Califórnia chamado Mihaly Csikszentmihalyi começou a estudar o que ele chamava de experiência ideal e descobriu que todos, de artistas a atletas e CEOs, eram alimentados pelo flow para chegar aos limites criativos e físicos. Mais importante, ele descobriu que esses estados de flow eram alguns dos momentos mais felizes da vida das pessoas.
Há muito tempo me perguntava se poderia prolongar o sentimento, então decidi experimentar o Flow Fundamentals, um curso desenvolvido por Steven Kotler, autor do livro The Rise of Superman, sobre como atletas de aventura como Dean Potter e Laird Hamilton usavam estados de flow para atingir os limites.
O programa de seis semanas eram videoaulas que descreviam os princípios do flow e as maneiras de atingir. Toda semana, eu e meus colegas de classe recebíamos uma lista de tarefas que incluía tudo, desde o uso de aplicativos para smartphone para monitorar nossa frequência cardíaca e padrões de sono até fazer bungee jumping. Mas minha tarefa favorita envolvia cafeína e álcool.
Kotler e seu colega, Jamie Wheal, nos incentivaram a tomar duas doses de café expresso e duas de vodka, depois assistir a um vídeo de surf e snowboard ao som de uma trilha sonora de dubstep, com vibrações que estimulam as ondas cerebrais alfa (aquelas que provocam relaxamento). Coloque a imagem em tela cheia e aumente o som, disseram eles. Para ser sincero, não precisava de um motivo para fazer isso, mas Kotler e Wheal me deram um de qualquer maneira. O flow, segundo o pensamento, é um produto de concentração profunda e um ambiente estimulante.
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A ciência do flow ainda é meio obscura. Durante o estado de flow, partes de nosso córtex pré-frontal, a seção do cérebro que lida com a maior parte de nossa função cognitiva superior, praticamente se fecha. E pode ser por isso que as coisas parecem tão fáceis. Além disso, esse estado produz dopamina, noradrenalina, endorfinas, serotonina e anandamida no cérebro. Os neuroquímicos aumentam a atenção, aceleram os batimentos cardíacos e a respiração, aliviam a dor e inibem nossa capacidade de sentir medo.
Mas cada pessoa tem gatilhos diferentes. No início do curso, fomos incumbidos de descobrir o que eram. De acordo com o questionário que preenchi, os meus são quando estou surfando e correndo nas montanhas. Outras pessoas identificaram que são nos momentos em que estão pintando ou tocando o sax. O próximo passo foi realizar essas atividades com mais frequência. Então eu fiz. Durante o curso, eu estava treinando para a North Face Endurance Challenge 50K em Marin County, na Califórnia.
Um dos problemas dos estados de flow é que permanecer neles pode ser tão difícil quanto alcançá-los. Na competição, saí mais rápido do que deveria. Em algum ponto no quilômetro 38, senti que voltei abruptamente à Terra com a maior explosão física e mental que já experimentei em cinco anos de corrida. Na quele momento eu estava sentindo o lado oposto do flow: a dor profunda. Depois disso, manquei até a linha de chegada.
Isso significa que minha pesquisa terminou? Longe disso. A busca pelo flow é quase tão gratificante quanto o próprio sentimento. Antes que eu pudesse voltar a andar normalmente depois da corrida, eu já havia começado a pensar em como conseguir meu próximo momento de flow.