Quem passa pelos bairros de Santa Cecília, Vila Buarque e Higienópolis, na região central de São Paulo, provavelmente já se deparou com um grupo de crianças pedalando em direção à escola.
Em alta em países europeus e também nos EUA, o bonde da bicicleta é uma iniciativa que reúne pais e crianças para substituir outros meios de transporte.
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Na capital paulista, o projeto foi pensado pelo arquiteto Pedro Nitsche e a ex-mulher, a também arquiteta Suzana Barboza, com quem ele tem dois filhos, além de um casal de vizinhos, que tem outras três crianças.
“Tem alguns que esperam para ver a gente passar e param na janela”, conta Nitsche, em depoimento à Folha de S.Paulo.
Todo o trajeto é acompanhado de perto por ao menos dois responsáveis, um que fica na frente guiando a turma e outro atrás, coordenando o grupo.
As crianças são orientadas a parar em toda esquina até que um adulto diga se elas podem continuar o caminho. Além disso, buzinam quando passam por garagens para avisar que estão por ali e tomam cuidado com os pedestres.
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O bonde formado por estudantes em bikes coloridas, capacetes e mochilas nas costas chama atenção de vizinhos e comerciantes e não é raro que os alunos sejam aplaudidos e arranquem um sorriso por onde passam.
No início, eles levavam os filhos para a escola a pé, mas era comum que a criançada reclamasse durante a caminhada. “Moramos perto do colégio, mas não tanto a ponto de ir a pé sem reclamação. Sempre foi uma dificuldade”, lembra Pedro.
Os quatro adultos costumavam fazer um rodízio para levar grupo para a escola, que fica a pouco mais de um quilômetro de distância da casa deles. No ano passado, nos dias liderados para os pais, as crianças iam às vezes de patinete e bicicleta. Foi assim que elas passaram a se animar com a ideia de pedalar.
“Isso foi um incentivo para a gente também ingressar na bike”, afirma Suzana Barboza. Assim, crianças e adultos acompanhantes adotaram a modalidade diariamente para seu trajeto. A iniciativa chamou a atenção de outros pais que viam a comitiva chegando ao colégio. O grupo cresceu e hoje conta com quatro famílias e oito crianças, entre 7 e 10 anos — há dias em que o bonde é maior.
Nos dias de chuva, os pequenos continuam preferindo ir de bicicleta com capa. O colégio onde estudam, o Equipe, também disponibilizou uma vaga da garagem para que guardar os veículos, que também são usados na volta para casa no fim do dia.
“A escola não tem uma ampla área verde e livre, mas por ter abraçado a iniciativa proporciona que eles tenham uma vivência da cidade e do bairro que é muito rica”, diz Barboza.
Nitsche reconhece ser um privilégio conseguir levar os filhos para a escola e também viver próximo do colégio e afirma que a iniciativa é uma forma de conscientizar a criançada sobre o uso do espaço público.
“Sempre achei que tínhamos que usar mais a rua, que está muito inóspita”, diz o arquiteto. “As crianças estão crescendo vendo essa possibilidade de usar menos o carro. Isso nos motiva a tentar mudar a mentalidade e entender que é a bicicleta é um veículo não só de uso de fim de semana.”
Dicas para levar crianças de bicicleta para escola
>> É importante que os grupos sejam pequenos. “Isso é uma condição de segurança. Quando começa a ficar muito grande, é fácil perder o controle. Demora para atravessar a rua”, alerta Suzana Barboza
>> Antes de sair de casa, é preciso reforçar com as criança as regras serem cumpridas durante o trajeto
>> Os equipamentos precisam estar em boas condições
>> Equipamentos de segurança, como capacetes, buzinas e luzes para a noite, são essenciais. “É preciso muito cuidado com carros. Vivemos em uma cidade que a educação do trânsito não é muito difundida. As pessoas que estão de carro muitas vezes não ligam para quem não está”, alerta