Pico dos Marins e as lições do montanhismo de verdade

Por Redação

pico dos marins
Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, é um dos pontos mais altos do estado de São Paulo. Foto: Shutterstock.

Um resgate de 32 pessoas no Pico dos Marins, em Piquete (SP), chamou atenção mais uma vez para os perigos de estar na montanha sem conhecimentos básicos para isto. O palco da ação dos bombeiros que salvou a vida do grupo depois de uma tempestade forte, é um dos pontos mais queridos da Serra da Mantiqueira – cadeia montanhosa que se espalha entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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A meta do grupo liderado pelo “influenciador motivacional” ou “coach messiânico” Pablo Marçal era chegar ao cume, a 2.421 metros acima do nível do mar, uma abordagem sabidamente irresponsável e condenada por 10 entre 10 conhecedores de montanha nesta época de chuvas. O despreparo e a arrogância do “coach” somado à ingenuidade de seus alunos-seguidores poderia ter resultado em uma tragédia, não fosse a experiência dos resgatistas.

O que esta história no Pico dos Marins pode nos ensinar de uma vez por todas? Carlos Santalena, sócio proprietário da Grade VI Viagens (uma das mais conceituada empresas de expedições de montanha do país) e brasileiro mais jovem a escalar o Everest e os 7 cumes mais altos do mundo, enumera os equívocos e os cuidados que todos devem ter ao se aventurar em montanhas de qualquer tamanho.

“Foi uma demonstração de falta de ética, técnica e logística de montanhismo”, resume Santanela. “Em outro país, muito provavelmente este cara estaria preso, pelo descumprimento dos procedimentos de segurança na atividade do montanhismo, por uma atentado à vida das pessoas que estavam neste grupo e pelo descumprimento das leis de proteção ambiental”, completa.

Confira abaixo o Raio-X que Santalena faz da roubada comandada por Paulo Marçal, para evitar correr riscos desnecessários.

1) “O grupo era grande e não houve uma análise de cada integrante que permitisse que todos estivessem preparados para a atividade, com as informações preliminares sobre tudo o que fariam ali.”

2) “Uma das premissas básicas da parte logística é uma análise climática e o contato com os locais, que também faltou neste caso.”

3) “A ausência de equipamento apropriado para a atividade – tanto vestimenta quanto equipamento de camping – é outro erro primário.”

4) “Houve uma utilização da montanha como palco de autoafirmação, como ambiente de reverencia, além da utilização de métodos de persuasão para justificar os erros de procedimentos técnicos, o que reflete a falta de organização, controle, padronização dos procedimentos de segurança e fiscalização do cumprimento das regras do montanhismo e leis de preservação ambiental.”

5) “O episódio reflete ainda uma sociedade que acredita em falsos perfis de redes sociais, e acaba correndo risco de morte.”

6) “Nos ensina que é preciso atenção redobrada do público ao participar deste tipo de atividade, que deve contratar empresas certificadas, guias credenciados e associados. Temos associações e guias credenciados para este tipo de atividade.”







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