O Fast-R Nitro Elite 3 promete oferecer as maiores melhorias na economia de corrida desde que o Nike Vaporfly revolucionou o mundo há oito anos.
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O Nike Vaporfly 4% não fez questão de ser modesto: a promessa de melhora estava escancarada no nome. Quando o modelo foi lançado, em 2017, pesquisadores da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, divulgaram dados mostrando que ele melhorava a economia de corrida (ou seja, a eficiência) dos atletas em média em 4% em relação aos melhores tênis de maratona da época. O resultado foi um caos — e uma enxurrada de recordes mundiais.
O segredo do Vaporfly estava na combinação de uma placa de carbono curva e rígida com uma espessa camada de espuma de entressola macia, mas responsiva. Nenhum desses elementos, sozinho, era revolucionário, mas juntos criaram um efeito que tornava os corredores significativamente mais eficientes — por razões que os cientistas ainda não compreendem completamente e seguem debatendo até hoje. Desde então, praticamente todas as grandes marcas desenvolveram suas próprias versões do chamado “super tênis”, ajustando esses elementos em menor ou maior escala.
Mas uma pergunta-chave permaneceu em aberto: os modelos mais recentes são, de fato, melhores do que o Vaporfly original? Alguns pesquisadores fizeram testes diretos entre marcas diferentes, com resultados geralmente inconclusivos. Alguns modelos podem ser 1% ou 2% superiores, mas há tanta variação individual que é difícil cravar. Desde a ousadia da Nike em 2017, as marcas têm evitado fazer promessas explícitas sobre a real eficácia de seus calçados.
Isso está prestes a mudar. A Puma, marca veterana que relançou sua linha de corrida de alto desempenho em 2018, está lançando um novo modelo a tempo das maratonas de Boston e Londres, neste mês. Acreditam que ele é dramaticamente superior a qualquer coisa disponível no mercado — cerca de 3,5% melhor, para ser exato. Tão confiantes estão que encomendaram testes com ninguém menos que Wouter Hoogkamer, chefe do Laboratório de Locomoção Integrativa da UMass Amherst e, coincidentemente, o mesmo pesquisador que conduziu os testes independentes do Vaporfly, em 2017. Hoogkamer divulgou os dados nesta semana — e eles são impressionantes.
O que mostram os novos dados
O estudo de Hoogkamer foi publicado como pré-print no bioRxiv, um repositório onde cientistas compartilham seus resultados antes da revisão por pares. Ele e sua equipe reuniram 15 voluntários que já haviam corrido 5 km abaixo de 21 minutos (para mulheres) ou 19 minutos (para homens). Para medir a economia de corrida, cada participante correu cinco minutos na esteira enquanto se monitorava o consumo de oxigênio. Quanto mais oxigênio um atleta consome a uma determinada velocidade, mais energia está gastando — ou seja, menor é sua eficiência. Um bom tênis deve minimizar essa necessidade de oxigênio e, portanto, maximizar a eficiência.
Cada corredor foi testado oito vezes: duas vezes em cada um dos quatro modelos analisados. Os tênis comparados foram o Nike Alphafly 3 (usado por Kelvin Kiptum no recorde mundial de maratona masculino e por Ruth Chepngetich no recorde feminino), o Adidas Adios Pro Evo 1 (com o qual Tigst Assefa quebrou o recorde anterior em 2023) e o Puma Fast-R Nitro Elite 2. O novo super tênis da Puma é uma atualização direta deste último: o Fast-R Nitro Elite 3 (nome que, convenhamos, não é o mais criativo do mundo).
Sem mais delongas, seguem os dados de economia de corrida para os quatro modelos. A taxa metabólica (em watts por quilo) indica quanta energia os corredores gastaram em uma velocidade definida conforme seu tempo nos 5K, variando entre 03:44 e 04:40 por km. A linha grossa representa a média dos resultados; as linhas finas, os dados individuais.
Resultado: o Fast-R3 ficou no topo em todas as medições, tanto na média quanto nos dados individuais. Isso significa que foi o modelo mais eficiente. Os corredores gastaram 3,6% menos energia com o Fast-R3 do que com o Nike, e 3,5% menos do que com o Adidas. (Sugestão de marketing grátis: poderiam ter batizado o tênis de Fast-R3.5.) Em relação ao próprio antecessor, o Fast-R2, o novo modelo foi 3,2% mais econômico — uma diferença bem relevante. Mais impressionante ainda: todos os 15 corredores tiveram seu melhor desempenho de eficiência no Fast-R3, algo raro considerando a ampla variação individual observada em estudos anteriores com super tênis.
A Puma também conduziu testes internos com mais de 50 corredores, segundo Laura Healey, líder da equipe de inovação em calçados da marca. Nos dados da empresa, o tênis é de 3,3% a 3,5% melhor que os concorrentes. Embora a economia de corrida não se traduza diretamente em tempo de prova, estima-se que uma melhora de 3,2% (a diferença entre o Fast-R2 e o Fast-R3) pode reduzir o tempo de um maratonista de 2h00 em cerca de 2%, o de um maratonista de 3h00 em 2,6% e o de um maratonista de 4h00 em 3,3%.
Qual é o ingrediente mágico do Puma Fast-R Nitro Elite 3?
No caso do Vaporfly, era fácil (ao menos superficialmente) entender o diferencial: espuma espessa e placa de carbono. Já com o Fast-R3, cuja arquitetura é basicamente a mesma, é mais difícil apontar o que exatamente o torna especial. As diferenças entre o Fast-R2 e o Fast-R3 são sutis, mas os dados mostram que elas importam.
A equipe da Puma começou com o Fast-R2 e criou um modelo virtual do tênis usando dados biomecânicos coletados de dez corredores com palmilhas que medem pressão, enquanto corriam em uma esteira equipada com sensores de força. Esse modelo mostrava em tempo real o que acontecia dentro do tênis a cada instante da passada: onde estavam as maiores e menores tensões, como a estrutura do tênis se dobrava, se comprimia, e assim por diante.
Em seguida, a equipe passou por um processo de design computacional iterativo e otimização. Por exemplo, se o modelo mostrava que uma área da entressola sofria pouca tensão, eles removiam parte da espuma dali. Se uma região da placa de carbono apresentava tensão excessiva, reforçavam com uma nervura extra. Tudo isso era feito digitalmente no modelo virtual, permitindo testar e comparar ajustes sem precisar construir novos protótipos físicos.
Ao fim desse processo de otimização virtual, eles haviam eliminado tanto material excedente que o peso do tênis caiu mais de 30%, de 249 gramas para 167 gramas. Existe uma regra geral de que cada 100 gramas adicionados a um tênis pioram a economia de corrida em cerca de 1%. Assim, essa redução de 82 gramas representa cerca de 0,8% da vantagem do Fast-R3. O restante vem de melhorias incrementais, sem uma única mudança revolucionária, mas com cada detalhe contribuindo para a eficiência.
Os detalhes técnicos do Puma Fast-R Nitro Elite 3
Há outras diferenças sutis. O Fast-R3 é um pouco menos rígido que os concorrentes ao se dobrar no comprimento ou ao comprimir a entressola — mas devolve mais energia ao retornar à forma original. Espumas tradicionais de tênis devolvem cerca de 65% a 75% da energia. As chamadas “superfoams”, como o PEBA do Vaporfly, devolvem cerca de 85%. Já a espuma Nitro Elite da Puma, um “poliuretano termoplástico alifático” (A-TPU), afirma devolver mais de 90%. Nos testes de Hoogkamer, o retorno de energia da compressão total do tênis (não só da espuma) foi de 89,9%, contra 85,0% no Nike e 85,7% no Adidas.
E agora?
É natural ficar com um pé atrás quando uma marca faz promessas ousadas sobre um novo modelo. Hoogkamer não trabalha para a Puma, mas seu estudo foi financiado pela marca — assim como o da Nike foi em 2017. Ambos foram estudos pequenos. Mas no caso do Vaporfly, os resultados acabaram se confirmando de forma espetacular. Nas próximas semanas, vamos começar a descobrir se os 3,5% de vantagem do Fast-R3 também resistem ao teste do mundo real.
Um obstáculo para a Puma é que seu elenco de corredores de elite nas provas de rua não é tão forte quanto o da Nike ou da Adidas. À primeira vista, não há nenhum nome no grupo com potencial imediato de quebrar recordes mundiais. Mesmo assim, já veremos o novo tênis em ação na Maratona de Boston, no dia 21 de abril, e na de Londres, no dia 27.
Um dos atletas que vai calçá-lo em Londres é Rory Linkletter, maratonista canadense com melhor marca de 2h08. Ele vem treinando com o modelo, e contou que as primeiras impressões são de leveza e impulsão: “É mais macio do que outros super tênis, e essa maciez vem acompanhada de um retorno de energia impressionante.” Ainda é cedo para afirmar se é mais rápido, mas ele mencionou que acabou de fazer uma corrida de 13 km ao longo da Lake Mary Road, em Flagstaff, e foi um minuto mais rápido do que seu melhor tempo anterior.
Se Linkletter bater seu recorde pessoal em Londres, será impossível dizer com certeza qual parte do mérito cabe ao tênis. Mas nos próximos meses, talvez comecemos a ver um padrão — e a observar se outras marcas adotam abordagens computacionais semelhantes, caso ainda não o tenham feito. A estratégia dos “muitos ajustes pequenos” adotada no Fast-R3 não oferece um truque fácil de copiar. Ao mesmo tempo, deixa a porta aberta para futuras melhorias.
Há cinco anos, eu me perguntava se os super tênis eram como os klapskates da patinação (uma grande inovação seguida de estagnação) ou como os trajes tecnológicos da natação (um ciclo de avanços que mantiveram os atletas melhorando sem parar). Está começando a parecer que a resposta é a segunda opção.