Fiz uma massagem tailandesa e não teve nada a ver com o que mostra a série The White Lotus. Minha experiência não teve maca, nem toalhas fofinhas — e muito papo. Saí de lá com mais aprendizados do que esperava.
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Reserve pelo menos duas horas do período da tarde, fique uma hora sem comer antes da sessão, vista roupas que permitam total liberdade de movimento e esteja preparado para uma experiência tanto física quanto psicológica. Essas foram as instruções que recebi antes da minha primeira massagem tailandesa.
A decisão de buscar esse serviço foi, admito, inspirada por The White Lotus, da HBO. A terceira temporada se passa na unidade do hotel na Tailândia — um resort focado em bem-estar onde os hóspedes não recebem nenhuma orientação prévia ao agendarem suas massagens. A “massagem esportiva” que Saxon Ratliff (interpretado pelo ator Patrick Schwarzenegger) experimenta parece bem diferente da tradicional massagem tailandesa — ou pelo menos da que eu vivi.
Ironicamente, minha verdadeira experiência de bem-estar aconteceu no Ocidente — mais precisamente no Meio-Oeste dos Estadoa Unidos — em uma escola e estúdio de yoga em Cincinnati, chamada, coincidentemente, Lotus Yoga Temple. E embora minha massagem de yoga tailandesa tenha mais a ver com o cenário geral da série, ela definitivamente não se encaixaria nas paredes do hotel luxuoso da ficção, e seria um tanto “real demais” para a sofisticada família Ratliff.
Tudo sobre minha massagem tailandesa de 3 horas inspirada em White Lotus
Quando cheguei ao prédio — uma antiga igreja que virou centro maçônico e depois espaço de yoga — o cheiro de incenso atravessava as paredes de cimento. Esperei do lado de fora até ser recebida por Will Brashear, proprietário da escola e terapeuta de yoga ayurvédico com mais de 20 anos de prática e ensino em yoga e massagem tailandesa.
Brashear me cumprimentou e me guiou escada acima até uma pequena varanda com vista para o santuário principal da escola. O espaço estava iluminado apenas por abajures e velas, e o chão coberto por cobertores e almofadas — nada de mesa de massagem à vista.
Em vez de um roupão macio ou balcões cheios de óleos e loções, o ambiente tinha pôsteres educativos e pequenos objetos decorativos. Permaneci de calça de yoga e regata esportiva, deitei minha cabeça sobre uma almofada no centro da sala e deixei meu corpo se acomodar no calor de um tapete térmico enquanto me preparava mentalmente para uma jornada de quase três horas.
Antes de mais nada, o que é a massagem tailandesa?
Essencialmente, a massagem tailandesa tradicional consiste em pressionar e massagear com as palmas e os polegares as linhas de energia do corpo — também chamadas de meridianos — enquanto o corpo é movimentado por posturas e alongamentos assistidos de yoga. Brashear comentou que alguns chamam isso de “yoga do preguiçoso”. Ao longo desses meridianos existem pontos de acupressão que, quando trabalhados em conjunto com o alongamento, podem aliviar tensões musculares, melhorar a circulação e fortalecer o sistema imunológico.
Conhecida como “o caminho ancestral da cura”, segundo Brashear, essa técnica tem mostrado efeitos positivos no alívio de enxaquecas crônicas, artrite, dores nas costas e estresse psicológico, combinando influências da medicina tradicional chinesa, ayurvédica e do shiatsu japonês.
Deve “doer de um jeito bom”, mas nunca ultrapassar o limite de dor tolerável ou causar desconforto persistente.
Tanto na Tailândia quanto fora dela, cada massagista tem seu próprio estilo de massagem tailandesa. Na visão de Brashear, muitos focam demais em forçar os clientes a posições mirabolantes, negligenciando a parte da acupressão — o que aumenta o risco de lesões e reduz os benefícios do tratamento. Ele desenvolveu seu próprio método, chamado “Acu Thai”, que busca equilibrar alongamentos e acupressão, adicionando ainda uma terceira dimensão: a orientação espiritual.
Entre um alongamento e outro, enquanto massageava cuidadosamente ponto por ponto, Brashear analisava e compartilhava comigo o significado mais profundo das dores que eu sentia, usando a sabedoria dos cinco elementos universais do yoga: terra, água, fogo, ar e espaço.
Massagem tailandesa é um pouco dolorida — mas de um jeito bom
Brashear iniciou a massagem apertando meus pés calçados com meias, do topo até a sola, tentando estalar o máximo de dedos possível. Achei curioso. Depois de trabalhar nesses pontos de acupressão, ele alongou cada pé e tornozelo pedindo que eu pressionasse contra sua mão como se estivesse acelerando um carro.
Subindo por uma perna de cada vez, aplicou pressão profunda, focada com a ponta dos dedos, em movimentos verticais no centro, lado interno e lado externo da perna, até chegar à coxa externa — um ponto que ele chamou de “círculo saltitante” — onde eu involuntariamente prendi a respiração. Foi nesse momento que percebi que esse tipo de massagem não era exatamente relaxante.
Segundo Brashear, a sensação deveria “doer de um jeito bom”, mas nunca ultrapassar o limite de dor ou gerar desconforto contínuo. Ele me orientou a avisá-lo caso a dor ficasse insuportável para que pudesse ajustar a pressão. (E assim fizemos: eu comunicava, e ele adaptava.)
Tivemos uma conversa bastante profunda
Conversamos praticamente durante toda a sessão, o que, segundo ele, é normal, já que o diálogo faz parte de sua avaliação. Contei sobre o estresse no trabalho e na família, sobre minha infância como filha mais velha e sobre meu desejo de encontrar mais tempo para me dedicar a paixões criativas. Enquanto isso, ele seguia trabalhando: apertar, pressionar, estalar, alongar, amassar, alongar de novo.
Virei para cada lado para que ele pudesse acessar os meridianos laterais e, depois, de bruços, para massagear minhas costas. Em alguns momentos, Brashear usava alças de corda presas no teto para apoiar seu peso e aplicar pressão com os pés. De tempos em tempos, perguntava como estavam os pontos mais sensíveis.
Descobri que tinha energia bloqueada
Segundo Brashear, os pontos sensíveis e tensionados indicam energia bloqueada, que pode estar por trás de dificuldades físicas e emocionais. No meu caso, os bloqueios estavam nos meridianos associados aos elementos terra e espaço, o que, segundo ele, sugeria um desequilíbrio entre esses dois aspectos na minha vida. Após a massagem, Brashear me recomendou posturas de yoga e práticas de autocuidado específicas para ajudar a restaurar o equilíbrio.
“Para reduzir o elemento terra, evite assumir responsabilidades que não são suas ou que poderiam ser delegadas”, orientou. “E para fortalecer o elemento espaço, inicie um novo projeto, assuma pequenos riscos e faça exercícios de salto agachado.”
O encerramento da sessão veio com alongamentos mais intensos. Deitada de bruços, Brashear puxou meus braços para trás, me colocando numa espécie de postura assistida de cobra. Fiquei ali, pendurada como uma boneca de pano. Depois, virei de costas para que ele massageasse pontos ao longo do crânio, terminando com toques nos ouvidos e na mandíbula.
Para finalizar o tratamento, ele colocou as mãos sobre meus olhos e disse: “Veja apenas o preto, como uma lousa em branco.”
Aterrada, sonolenta e com resultados reais
Brashear me convidou a permanecer em silêncio no local o tempo que quisesse (o que, para mim, durou apenas alguns minutos) antes de começarmos uma breve conversa final. Ele comentou que já viu clientes cancelarem cirurgias, chorarem e se libertarem de dores crônicas durante ou após as sessões. E esse é seu objetivo: fazer as pessoas se sentirem melhor. “O aspecto emocional é o mais gratificante”, me disse.
Enquanto falávamos, ele continuava trabalhando meus membros: apertar, pressionar, estalar, alongar, amassar, alongar novamente.
Antes da massagem, eu estava um pouco nervosa. Mas mantive a mente aberta. Saí de lá me sentindo fisicamente aterrada, embora minhas pernas estivessem um pouco bambas. Mentalmente, entrei num estado sonolento, quase de sonho, e só queria me afundar na cama indefinidamente — o que é muito dizer para alguém agitada e inquieta como eu.
Nos dias seguintes, senti dores nos pontos onde ele aplicou mais pressão, especialmente nas laterais das coxas, que chegaram a ficar roxas. Ainda não testei as práticas de equilíbrio que ele sugeriu, mas percebi que estou mais flexível e menos tensa na parte superior do corpo, onde costumo acumular estresse.
Não aconteceu sob uma pérgola na selva, cercada por toalhas felpudas como nas massagens de The White Lotus, mas minha massagem tailandesa foi eficaz e reveladora. E o melhor: não é preciso estar num resort de luxo para valorizar um serviço de spa extra-longo.