Ícone do freeskiing, o norte-americano Robb Gaffney faleceu no último dia 22 de setembro após uma longa batalha contra um câncer na medula óssea. Ele morreu em sua casa em Tahoe City, na Califórnia (EUA), aos 52 anos.
O impacto de Gaffney no mundo do esqui progressivo é imensurável. No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, ele apareceu em filmes agora clássicos como “Immersion”, “1999” e “Walls of Freedom”, em uma época que marcou o auge inicial do freeskiing.
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“Todo mundo sabia que quando você estava na montanha, você estava lá para celebrar”, disse Gaffney uma vez. “Tínhamos a sensação de que fazíamos parte de algo maior.”
Em 2003, ele escreveu o livro Squallywood, um guia das 150 linhas mais radicais do que hoje é chamado de Palisades Tahoe, um paraíso do esqui na América do Norte. Ele e seu irmão Scott também criaram “G.N.A.R., o Filme” de 2011, um documentário hilário que lembra que o esqui, acima de tudo, deve ser divertido.
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“Eu sempre pensava, o que esses caras estão aprontando? Eles trouxeram muita diversão”, destaca o esquiador profissional Daron Rahlves. “Os Gaffneys trouxeram outro aspecto de diversão nas montanhas. E Robb adorava compartilhar essa diversão, essa paixão. Foi um chamado para o resto do mundo”.
Gaffney cresceu em Adirondack Mountains, em Nova York, aprendendo a esquiar aos dois anos de idade na Big Tupper Ski Area. Ele era o mais novo de três irmãos, incluindo os irmãos mais velhos Steve e Scott. Seus pais, que passaram um tempo em Tahoe antes de terem filhos, levaram seus três meninos para Tahoe em uma viagem de verão, o que plantou a semente do esqui em Robb e Scott.
Enquanto Robb estudava pré-medicina na Universidade do Colorado em Boulder, ele e Scott faziam viagens rodoviárias para Tahoe para esquiar, e Robb eventualmente se mudou para a área depois de se formar em 1993.
Por dois invernos seguidos em Tahoe, Gaffney trabalhou como empacotador de supermercado. Ele e Scott, que também havia se mudado para a área, começaram a filmar aventuras na montanha, com seu irmão sempre carregando os pesados equipamentos de câmera.
Em 1995, Robb Gaffney deixou Tahoe para estudar medicina em Denver, no Colorado, e depois fez uma residência psiquiátrica de quatro anos na Universidade da Califórnia, mas ele visitaria Tahoe regularmente durante esse período, muitas vezes filmando suas aventuras de esqui durante breves pausas da faculdade.
Em 2003, Gaffney – junto com sua esposa, Andrea, e seus dois filhos pequenos – voltou para Tahoe. Na época com 32 anos, ele assumiu o consultório de um psiquiatra aposentado na base da montanha de esqui. Ele chamou isso de emprego dos sonhos – ele esquiaria durante suas pausas para o almoço enquanto ajudava os pacientes a lidar com todos os tipos de problemas de saúde mental. Gaffney e seu irmão Scott moravam na mesma rua, em Tahoe City, onde criaram as famílias lado a lado.
Ao longo da próxima década, incentivado pela morte de tantos amigos no mundo do esqui, Gaffney começou a mudar constantemente a cultura da comunidade que ele mesmo havia ajudado a criar anos antes. Em vez de promover as façanhas mais extremas, ele começou a usar informações do seu trabalho psiquiátrico para mudar o foco e celebrar a longevidade nos esportes de montanha.
Ele apareceu em uma transmissão da NBC em 2012 levantando questões sobre esportes de alto risco, lançou um site chamado Sportgevity que se concentrava em promover a participação duradoura nos esportes e deu uma palestra no TedX sobre como ajudar seus filhos a sobreviverem aos esportes ao ar livre.
Gaffney era um disruptor por natureza. “As mudanças culturais não acontecem rapidamente”, destacou em uma de suas entrevistas. “Estamos tentando mostrar que estar vivo e saudável pelo resto de sua vida esportiva é uma das coisas mais legais. Todos querem abrir novos caminhos. Estou dizendo que a coisa mais legal é estar vivo e saudável.”
Gaffney foi diagnosticado pela primeira vez com distúrbio mielodisplásico – que muitas vezes leva à leucemia – em setembro de 2019. Ele passou anos de tratamento, incluindo transplantes de células-tronco, mas o câncer eventualmente progrediu para leucemia mieloide aguda.
Durante esses anos, Gaffney ainda fazia aventuras sempre que seu corpo permitia, escalando montanhas com seus filhos, Noah e Kate (ambos na casa dos 20 anos), pulando em cachoeiras e patinando em lagos alpinos congelados, aproveitando cada dia que tinha.
Uma conta foi criada no GoFundMe para apoiar a família de Robb.