Uma rota mágica para os amantes da gravel na Suíça

Texto e fotos Martin Bissig

O melhor período para pedalar nas estradas de Zug é entre os meses de abril e outubro, quando o frio do inverno ainda não se instalou.

ZUG, O CANTÃO [unidade político-territorial na Suíça] que chamo de lar, é o menor de toda a Suíça e tem muitos motivos para ser conhecido: Os moradores afirmam que temos o pôr do sol mais bonito do país, senão de toda a Europa.

Quanto aos investidores e empresas estrangeiras, seus olhos brilham ao pensar em dólares ou francos suíços, portanto, para eles, Zug é o paraíso fiscal definitivo. Por último, mas não menos importante, graças às suas políticas econômicas liberais, este cantão também abriga novos setores econômicos.

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Muitas empresas de blockchain localizaram sua sede em Zug, dando à região o nome de Crypto Valley. Mas há uma coisa que quase ninguém sabe: escondido atrás dos portões de Zug está o El Dorado do gravel. Inúmeros quilômetros de caminhos de cascalho e estradas florestais, esperando para serem explorados por pneus finos com banda de rodagem profunda.

O lago Ägeri é abraçado por três cadeias de montanhas, sendo o topo da Wildspitz o mais alto: 1.580 metros.

Vamos começar nosso passeio no centro histórico de Zug. Alguns dos edifícios aqui datam de mais de 800 anos e pedalar pelas estradas de paralelepípedos é como viajar no tempo. Nada aqui sugere o fato de que, a apenas algumas centenas de metros de distância, em linha reta, especialistas em computação estão trabalhando arduamente para desenvolver as últimas inovações em blockchain.

Após alguns minutos e um leve ganho de altitude, chegamos aos arredores da cidade. Villas dignas de qualquer cenário de James Bond são substituídas por vacas pastando sob cerejeiras. Chegamos à capela de Santa Verena no limite da cidade e mais à frente temos uma subida de algumas centenas de metros. No entanto, nossa primeira parada veio só depois de 15 minutos. A vista da cidade lá de cima é muito impressionante para não parar e apreciar.

Depois de curtir a vista, subimos direto, fazendo um bom tempo na estrada de asfalto, e logo chegamos ao planalto de Zugerberg. No inverno, quando há neve suficiente, as trilhas de esqui cross country serpenteiam pelas colinas, há um teleférico para crianças e nossa subida se torna uma pista de trenó. Mas agora temos muitas opções, com várias trilhas para escolher.

Os projetos de manejo florestal intensivo dão forma à rede de estradas de cascalho. Bem conservadas, as vias são largas o suficiente para nos permitir andar lado a lado, e um constante sobe e desce nos leva na direção de Wildspitz. À nossa esquerda, uma densa floresta, e à nossa direita, temos uma incrível vista panorâmica do Lago Zuger e do Monte Rigi. Podemos testar nossas habilidades técnicas de pilotagem em uma pequena seção de single-track por parte da floresta. Após esta descida, continuamos a subir estradas madeireiras, até a pausa no lendário restaurante “Zuger Alpi”. Mesmo nos meses de verão, o sol só atinge este local rústico no final da manhã.

Paisagens de todos os tipos, para ciclistas de todos os níveis.
Contrastes

É difícil acreditar que estamos a vinte quilômetros de distância de uma pequena cidade com cara de grande centro urbano. É um mundo diferente lá em cima. As vacas pastam livremente em pastagens e estradas, a fumaça sobe da chaminé de uma fazenda alpina.

Enchemos nossas garrafinhas com água cristalina direto de uma fonte. O Zuger Alpi pode estar no município vizinho de Unterägeri, mas de acordo com o folclore local, os residentes de Zug o roubaram dos moradores desavisados em uma operação maliciosa. Parece que já naquele tempo, as pessoas sabiam como usar sua inteligência para obter uma vantagem competitiva.

Sentados no pátio, apanhamos os primeiros raios de sol a espreitar por cima das copas das árvores. Os biscoitos de nozes recém-assados são perfeitos com nosso café. Depois de meia hora, nos despedimos de nosso garçom, Harry. Ainda temos um longo dia pela frente.

Nas trilhas do Grinduro

O Lago Ägeri é cercado por três cadeias de montanhas: Zugerberg, Wildspitz e Gottschalkenberg. Acabamos de cruzar o ponto mais baixo desses picos – Zugerberg. Continuamos ao longo do sopé do Wildspitz, que, a 1.580 m acima do nível do mar, é o ponto mais alto do cantão de Zug. Embora tivéssemos uma vista fabulosa dos Alpes lá de cima, decidimos economizar energia e, em vez de seguir para o pico, continuamos em frente no “Urzlenboden”.

Não só as condições da trilha são perfeitas para nossas gravel, como a densa rede de trilhas de cascalho nos oferece inúmeras opções. Os organizadores do evento de gravel “Grinduro” também perceberam isso quando procuravam um local apropriado para seu evento na Suíça. Os americanos decidiram pelo vale de Ägeri e fizeram da cênica Unterägeri um dos locais para a temporada de 2021. Vindos da Califórnia, País de Gales, Japão, e Suíça, os mais de 300 participantes não acreditavam no que viam. O pitoresco e azul profundo Lago Ägeri como ponto médio do percurso e uma vista dos Alpes cobertos de neve era a visão mais explícita que se poderia ter da Suiça.

Seguimos parte da rota original do evento, chegamos ao Raten Pass e continuamos até Gottschalkenberg. A plataforma de observação nos exibe uma paisagem para o noroeste, onde se vê a maior parte do lago de Zurique e da cidade de Zurique. A rota panorâmica que se segue é mais desafiadora tecnicamente, mas também mais variada. Passamos por trechos de solo macio da floresta e seções de raízes retorcidas sacolejantes. Quando chegamos ao mosteiro Gubel, praticamente completamos nossa volta ao redor do vale Ägeri e nos encontramos olhando para o nosso ponto de partida em Zug. A partir daqui é praticamente tudo ladeira abaixo.

Um circuito incrível por uma variedade de paisagens e épocas, de modernos complexos de escritórios a pastos de vacas, de paralelepípedos a single-tracks, de pontes centenárias aos mosteiros. É incrível tudo o que o menor cantão da Suíça tem a oferecer.
Três pontes

Nossos discos de freio estão brilhando por conta da rápida descida até a ravina de Lorze. Mais uma vez, somos os únicos nas estradas madeireiras. Não há tráfego para comentar. Como o nome indica, teremos que atravessar o rio Lorze. Temos três opções. Apostamos na alternativa mais rústica, a ponte de madeira, construída em 1759. Bem acima de nós ergue-se a ponte em arco de pedra de pista única, com mais de cem anos, e um pouco além dela podemos ver a moderna ponte de concreto, construída na década de 1980 para veículos motorizados.

Algumas centenas de metros adiante nos encontramos na entrada das cavernas de Höllgrotten. Essas cavernas de estalactites, que datam de 3.000 anos, são relativamente jovens. Quando foram descobertas em 1863, pensava-se que eram obra de forças demoníacas. Enchemos nossas garrafas de água na fonte próxima. Todos os pontos de água e fontes públicas no cantão de Zug fornecem água potável. A partir daqui, são apenas alguns quilômetros até nosso destino, o Lago Zug. Uma vez lá, fazemos uma pausa no cais, refletindo sobre o nosso dia: um circuito incrível por uma variedade de paisagens e épocas, de modernos complexos de escritórios a pastos de vacas, de paralelepípedos a single-tracks, de pontes centenárias aos mosteiros. É incrível tudo o que o menor cantão da Suíça tem a oferecer.

ZugRide: 10 sugestões de rotas diferentes

A dica de passeio de gravel da região de Zug não deve mais ser um segredo apenas para os ciclistas locais. É por isso que uma equipa de entusiastas decidiu mapear os mais bonitos e variados percursos de cascalho da região. Isso levou à criação de zugride.ch, um site com uma seleção de rotas, que podem ser baixadas gratuitamente. “Nosso objetivo é inspirar ciclistas a explorar o cantão de Zug, fornecendo uma plataforma para pedais e recursos especiais. Queremos compartilhar conhecimento e informações para que outras pessoas explorem e aproveitem a paisagem de forma ativa e segura”, explica Marton Gyarmati, que iniciou o ZugRide.

Para Marton é importante que as rotas atraiam o público mais amplo possível: “As rotas são destinadas a todos os tipos de ciclistas: Jovens e idosos, pessoas andando sozinhas ou com suas famílias. Se você gosta de mountain bike cross-country, gravel, turismo em e-bike ou apenas pedala para manter a forma, está contemplado”. Os passeios podem ser classificados e selecionados por categoria, têm descrições muito detalhadas e podem ser baixados como um arquivo GPX ou direto para Komoot ou Strava. Novas rotas continuam a ser adicionadas.

VAI LÁ

Como chegar:

Zug é bastante central e facilmente acessível por transporte público ou de carro. O aeroporto mais próximo fica em Zurique, a cerca de 50 minutos, seja de carro ou de transporte público.

Melhor época para visitar:

Os meses de abril a outubro são ideais. Pode haver neve em altitudes mais elevadas nos meses de inverno, entre novembro e março/abril.

Plataforma para roteiros de gravel no cantão de Zughttps://www.zugride.ch/en

Hospedagem: https://www.zug-tourismus.ch/de/unterkuenfte

Zug Turismo: https://www.zug-tourismus.ch/de/gravel