Você encontra um cadáver caído no meio do deserto. Não há ferimentos aparentes e suas roupas estão intocadas. O que aconteceu?
Isso pode soar como um mistério de jogo de tabuleiro, mas é um desafio real na vida real dos patologistas forenses. Na última edição da publicação Wilderness & Environmental Medicine, médicos da Tunísia relataram três desses casos.
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Em cada um, eles finalmente encontraram sinais chamados figuras de Lichtenberg, que são ramificações semelhantes a uma samambaia criadas pela passagem de descargas elétricas de alta voltagem ao longo de uma superfície da pele. Como resultado, apesar de hematomas e escoriações de aparência suspeita em um dos casos, eles foram capazes de descartar um crime.
A charada? Essas figuras geralmente aparecem após cerca de uma hora e desaparecem sem deixar vestígios em 48 horas, por isso é crucial identificá-las e fotografá-las o mais rápido possível para estabelecer a causa da morte.
É por isso que os médicos tunisianos compartilharam esta série de casos, a fim de aumentar a conscientização. E é a mesma motivação para a ampla gama de ferimentos e mortes incomuns em lugares remotos relatados pela Wilderness & Environmental Medicine.
Como você pode estar pronto para tratar a vítima de um ataque de urso-preguiça no Sri Lanka se nunca ouviu falar disso?
Às vezes, um pouco de cautela extra pode protegê-lo; outras vezes, não há nada que você possa fazer além de estar preparado. Se você passa muito tempo na natureza selvagem, faça um curso de primeiros socorros, leve um kit de sobrevivência e deixe as lesmas e cogumelos em paz.
Nesse espírito prevenido-prevenido, aqui estão alguns dos maiores perigos presentes na natureza de acordo com a publicação. Cuide ao pisar lá fora.
Crocodilos
De médicos de emergência em Puducherry, na Índia, vem a história de um homem de 50 anos que acabou mordido na perna esquerda por um crocodilo de 3 metros enquanto se lavava na margem do rio. No centro de trauma, os médicos suturaram seis lacerações diferentes, limparam, trataram as feridas e administraram antibióticos. Mas algo ainda não parecia certo. Um ultrassom revelou que a pressão das mandíbulas do crocodilo gerou hematomas suficientes para bloquear completamente a artéria e a veia femoral, cortando o suprimento de sangue da perna.
Com base no Mangle Extremity Severity Score (MESS), foi previsto que o paciente perderia a perna. Mas assim que perceberam por que o fluxo sanguíneo foi interrompido, eles foram capazes de operar e restaurar a circulação, e o homem se recuperou totalmente.
Conclusão: mordidas de crocodilo podem parecer bastante horríveis na superfície, mas sua força contundente de até 900 quilos também pode causar estragos internamente. Sempre vale um double check no ultrassom.
Lesmas
Em uma tarde encharcada de monção na zona rural do Nepal, a polícia levou um cadáver ao centro médico forense local para autópsia. Era um homem de 47 anos de idade, de constituição mediana e boa saúde em geral (além de estar morto). O exame revelou uma lesma de dez centímetros de comprimento alojada em sua traquéia, voltada para cima, o que o levou a asfixiar. Amigos explicaram que o homem tinha o hábito de engolir lesmas para aliviar a dor nas articulações.
Os autores do artigo observam que a crença em remédios populares não comprovados continua a prosperar em locais remotos, em parte devido à dificuldade de acesso a cuidados médicos modernos. Eles sugerem recrutar mais profissionais de saúde em áreas remotas e talvez oferecer treinamento médico moderno para curandeiros tradicionais.
Eles também observam que comer lesmas é uma má ideia em qualquer circunstância, citando um caso de 2001 em Sydney, Austrália, onde um jovem foi hospitalizado com meningite parasitária depois de engolir duas lesmas-leopardo de seu jardim em um desafio.
Cogumelos
Forrar o estômago era um dos meus passatempos pandêmicos favoritos, mas um grupo de comestíveis em potencial que evitei foram os cogumelos: é muito difícil saber quais são seguros, a menos que você seja um especialista. Médicos em Atlanta e na Turquia relatam um par de envenenamentos da espécie Amanita muscaria, conhecida como agário-das-moscas, e ainda mais conhecida como os cogumelos do Super Mario Bros e dos Smurfs. Eles são relativamente fáceis de identificar e amplamente conhecidos por serem tóxicos, embora a fervura e/ou imersão devam remover toxinas suficientes para torná-los seguros para comer. Eles também são psicoativos.
O envenenamento nos EUA envolveu um homem de 44 anos que ingeriu de seis a dez agários que seu amigo comprou em um site chamado IamShaman.com. Ele desmaiou meia hora depois, e seu coração parou de bater depois de cerca de dez horas. Ele foi levado às pressas para o hospital, mas nunca recuperou a consciência. Já a vítima turca, um homem de 75 anos que comeu o cogumelo para o jantar, sobreviveu após uma longa internação no hospital.
Resumindo: a Associação de Micologia da América do Norte provavelmente desejará atualizar a afirmação de que, em humanos, “não há casos documentados de forma confiável de morte pelas toxinas desses cogumelos nos últimos 100 anos”.
Alhos selvagens
Continuando no campo alimentício, três pessoas acabaram no hospital em algum lugar do estado de Nova York depois de comer tacos que incluíam alhos selvagens colhidos em seu quintal. O Allium tricoccum é uma espécie norte-americana de cebola ou alho selvagem presente no leste do Canadá e no leste dos Estados Unidos. Infelizmente, é difícil diferenciá-los de sósias como o lírio-do-vale e o falso heléboro. Meia hora depois dos tacos, as três pessoas notaram uma sensação estranha na garganta e duas delas começaram a vomitar.
No hospital, todos testaram positivo para digoxina, uma substância encontrada em plantas dedaleiras, que é usada como medicamento para certas doenças cardíacas, mas pode ser perigosa em excesso. A história fica confusa a partir daí: testes posteriores com as plantas do quintal não bateram com os sintomas e resultados dos testes observados nos pacientes, mas não está claro se eles conseguiram encontrar as mesmas plantas que comeram.
Todos os pacientes acabaram bem (existe um antídoto para overdose de digoxina), mas isso é outro lembrete para forrarmos o estômago com extremo cuidado.
Penhascos
Durante uma expedição no último mês de maio no Everest, um dos carregadores se soltou de sua corda fixa e afastou-se do grupo. Ele vinha dando sinais de confusão e ignorou os apelos de seus companheiros de expedição para voltar. De um cume na face do Lhotse, a cerca de 8 mil metros acima do nível do mar, ele despencou mais de 400 metros até o fundo da face. Sabemos como essa história termina: na literatura médica, de acordo com os autores do relatório, os sobreviventes de quedas parecem aguentar no máximo 100 metros.
Esta história em particular tem um final feliz – e sem precedentes -, no entanto. Alpinistas de outras expedições correram para onde o carregador havia caído e o levaram de trenó até um pouso de helicóptero improvisado perto do acampamento 2. Eles pediram resgate 15 minutos depois que ele caiu; ele chegou ao pronto-socorro do Everest Base Camp em 45 minutos; em Lukla, principal aeroporto da região do Everest, em 75 minutos; e em um hospital em Katmandu em 150 minutos. Ele teve uma fratura no crânio e inchaço no cérebro, mas estava surpreendentemente em boa forma.
O sujeito acabou perdendo a visão do olho esquerdo e tendo algum comprometimento cognitivo leve, mas conseguiu retornar ao trabalho físico – embora não à escalada.
Fendas
Em 4 de junho de 2017, um grupo de alpinistas estava voltando de uma escalada bem-sucedida do Denali. Dois dos alpinistas estavam sem corda e, a algumas centenas de metros do acampamento, um deles mergulhou em uma ponte de neve escondida 2em uma fenda. Ele caiu cerca de 20 metros e ficou preso, ainda na vertical, entre as paredes de gelo cada vez mais estreitas, que tinham cerca de 20 centímetros de distância.
As tentativas subsequentes de resgatá-lo foram bem malucas: a certa altura, um guarda florestal que ficou abaixado para alcançá-lo também ficou preso com tanta força que não conseguia respirar, e os outros socorristas no topo não conseguiam ouvir seus gritos de socorro. Eles tentaram uma serra elétrica, um maçarico, anticongelante, água fervente e outras maneiras de cortar o gelo. Após 12 horas, um helicóptero entregou um kit de martelete pneumático. Eles finalmente conseguiram desalojá-lo 16 horas depois que ele caiu. Ele não respondeu por mais de três horas e foi dado como morto. Mas ele sobreviveu.
Os autores do artigo discutem várias lições desse episódio, desde o óbvio (não escale sem cordas) até as nuances de como fazer a transição de uma vítima de hipotermia da vertical para a horizontal sem desencadear uma parada cardíaca. A maior lição de todas: não desista dos esforços de resgate, porque você nunca sabe quando alguém vai ter boas chances de sobreviver.
Insetos no ouvido
Sempre pensei que “um inseto no ouvido” era apenas uma expressão idiomática ou uma história que as crianças contam para assustar umas às outras no acampamento de verão. Entretanto, enquanto viajava pelos fiordes da Terra Nova no verão passado, uma mosca preta ficou presa no meu ouvido por algumas horas. O zumbido intermitente do fundo do meu crânio era enlouquecedor e um pouco assustador, e as tentativas de removê-lo eram dolorosas e (minha esposa médica me avisou) perigosas.
Acontece que não é tão raro, de acordo com um relatório de especialistas em ouvido, nariz e garganta em Cincinnati. Na verdade, os besouros de jardim asiáticos rastejaram nos ouvidos de 186 campistas adormecidos em um encontro de escoteiros em Valley Forge, Pensilvânia, em julho de 1957. De modo geral, cerca de metade dos insetos removidos dos ouvidos nos departamentos de emergência do hospital são baratas. Quando os adultos têm algo preso no ouvido, é um inseto em cerca de 80% das vezes; para crianças, a porcentagem é menor “devido à propensão das crianças a colocar intencionalmente objetos no conduto auditivo externo”.
Lidar com micróbios no ouvido é mais desafiador na natureza, porque você não costuma ter equipamentos especializados e há um grande perigo de danificar as delicadas estruturas do ouvido.
Existem várias maneiras de matá-lo. O mais adequado para o interior é afogá-lo em óleo vegetal ou água com sabão. Espero que seu kit de primeiros socorros tenha pinças, porque algumas das alternativas – como supercola em um cotonete – têm o potencial de dar muito errado.
Graveto no olho
Médicos finlandeses apresentam uma pesquisa abrangente de todos os pacientes que se apresentaram no Helsinki University Eye Hospital durante um período de um ano em 2011-2012 com trauma ocular causado por itens de madeira, como gravetos e galhos. Houve um total de 67 casos, 24 dos quais ocorreram em homens com idades entre 51 e 67 anos. Os acidentes ocorreram principalmente durante brincadeiras, jardinagem ou trabalhos na floresta. As conclusões aqui são bastante diretas: considere proteção para os olhos para silvicultura e marcenaria, e as crianças devem ter cuidado ao brincar com paus – embora, notavelmente, nenhum dos ferimentos causados por brincar com paus resultou em incapacidade permanente.
Ursos-preguiça do Sri Lanka
Se você estiver na selva do Sri Lanka coletando mel ou algo do tipo, faça muito barulho e fique atento aos ursos-preguiça. Eles são relativamente pequenos, com cerca de um metro de altura, mas, apesar do nome, são mais rápidos que os humanos – e também gostam desses alimentos. A maioria dos dez ataques relatados por uma equipe de médicos do Sri Lanka ocorreu enquanto as vítimas estavam sozinhas recolhendo alimentos. Todos sobreviveram, mas isso pode ser porque aqueles que não sobrevivem aos ataques do urso-preguiça não se preocupam em ir ao hospital.