Roger Ulrich era professor de arquitetura da Universidade do Texas (EUA) quando decidiu se aprofundar em um assunto que ainda não era amplamente difundido: a relação entre os espaços físicos e a saúde. Amparado pelas ideias da neurobiologia, ele acreditava que o estresse estava intimamente associado à falta de natureza e espaços verdes nos ambientes urbanos.

No início dos anos 1970, um dos seus primeiros estudos foi realizado em um hospital da Pensilvânia (EUA) e trouxe resultados surpreendentes: pacientes colocados em leitos hospitalares que possibilitavam a visão da natureza através da janela utilizaram menos analgésicos e tiveram alta mais rápido.

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Há diversas razões científicas que explicam por que nos sentimos melhor na natureza do que andando pelas ruas de uma cidade. Quando estamos em um ambiente com ruídos de carro e poluição visual, uma parte do nosso cérebro fica sobrecarregada. Em contrapartida, uma escapada na natureza ativa áreas associadas com o prazer e a criatividade.

Uma das principais tendências mundiais apontadas pela Global Wellness Summit, a “prescrição verde” já se tornou comum no receituário médico de diversos países. No Canadá, por exemplo, os pacientes diagnosticados com estresse são orientados a passar pelo menos 20 minutos por dia na natureza. Já na Escócia, caminhadas na praia e observação de pássaros são parte do tratamento de doenças cardíacas, psiquiátricas e para quem tem diabetes.

Mas o que realmente acontece no nosso cérebro quando andamos pelas ruas de uma cidade? Essa foi a pergunta examinada por um grupo de pesquisadores da Universidade do Oregon (EUA). A resposta é que os ambientes urbanos se tornaram bem menos agradáveis ao cérebro humano por causa da ausência de fractais nos espaços modernos. Fractais são padrões que se repetem em diferentes escalas e podem ser encontrados por toda a natureza –, em colinas, nuvens, árvores, rios e praias.

O cérebro humano evoluiu para responder favoravelmente a eles na velocidade de um piscar de olhos. “Assim que olhamos para a natureza, ela desencadeia uma cascata de respostas automáticas”, explica o físico Richard Taylor, responsável pelo estudo que concluiu que os fractais naturais podem reduzir o estresse e a fadiga mental do observador em até 60%. “Mesmo antes de percebermos o que estamos vendo, respondemos a esses fractais naturais”, afirma Richard.

Outro estudo, publicado no The World Journal of Biological Psychiatry, mostra que reservar um tempo para o outdoor aumenta as funções cognitivas do cérebro, responsáveis pela atenção, memória, linguagem e percepção.

Ainda de acordo com os cientistas, o leque de condições para as quais a natureza serve de remédio é extenso: 15 minutos por dia na natureza são suficientes para reduzir os níveis de cortisol, o hormônio ligado ao estresse; a água e o canto dos pássaros comprovadamente melhoram o humor; os aerossóis presentes nas plantas perenes atuam como sedativos suaves e estimulam a respiração; a admiração que muitas pessoas vivenciam na natureza também está associada ao aumento da generosidade.

Há infinitas razões para correr por uma trilha, se aventurar numa montanha ou remar mar adentro. Uma delas é que existem dados científicos comprovando seus benefícios. Quando estamos em um ambiente natural, nós nos afastamos de vários estímulos negativos que geram ansiedade e pensamentos negativos. Para nossa sorte, obter uma boa dose diária de natureza ainda não precisa ser difícil.

CINCO DICAS PARA APROVEITAR AO MÁXIMO SUA PRESCRIÇÃO VERDE


1. Reserve alguns minutos por dia ao ar livre

Pesquisas mostram que pessoas que passam pelo menos duas horas por semana na natureza apresentam uma melhora significativa na saúde e no bem-estar. Se você deseja maximizar os efeitos dos ambientes verdes contra o estresse, um estudo revelou que a queda mais eficiente no cortisol ocorre entre a marca de 20 a 30 minutos por dia.

2. Faça ajustes verdes em sua rotina
Reserve um passeio no parque na hora do almoço com um colega de trabalho. Faça seu próximo treino aeróbico numa trilha em vez de se fechar na academia. Escolha um trajeto para o trabalho ao longo de uma via verde – e faça uma pausa pelo caminho. Há muitas maneiras de adicionar mais natureza no seu cotidiano sem horas e esforço extras.

3. Salve natureza na agenda
Programe e priorize o tempo verde como se fosse uma consulta médica ou um jantar. Isso significa inseri-lo em seu cronograma. A ciência diz que quando escrevemos algo na agenda é mais provável que o evento aconteça.

4. Telefone para um amigo (ou parente)
Às vezes precisamos de uma ajudinha extra para criar um bom hábito. Envolver seus entes queridos aumenta as chances de você atingir seus objetivos na natureza.

5. Respeite a natureza – e você mesmo
Vista-se adequadamente para o clima. Permaneça na trilha e evite atalhos arriscados. Não jogue lixo no caminho. Tratar a natureza com respeito man- tém nossos parques seguros e acessíveis a todos.

Trecho da reportagem “O poder da vida ao ar livre”, publicada na edição 175 da revista Go Outside.







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