#DeRolê na Pacific Crest Trail: dicas para seguir a trilha mais bonita e desafiadora dos EUA

como fazer a pacific crest trail
Foto: Arquivo pessoal / Instagram.
Por Evelyn Rachid

Para quem já leu o livro ou assistiu ao filme “Livre”, da autora norte-americana Cheryl Strayed, já está familiarizado com a trilha Pacific Crest Trail ou “PCT”, que é uma das mais bonitas, desafiadoras e longas dos Estados Unidos.

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Mesmo não sendo um roteiro tão popular do país, ela atrai trilheiros e aventureiros do mundo todo, interessados em uma jornada de autoconhecimento contemplando a natureza de pertinho e toda sua riqueza e desafios.

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Rose recebeu uma medalha da Pacific Crest Trail Association por ter percorrido todo o trajeto da PCT. Foto: Arquivo pessoal / Instagram.

A dica de hoje fica com a Rose Eidman, que é trilheira de longas distâncias desde 2014, quando completou 50 anos. Sua paixão pelas trilhas surgiu da vontade de mudar de vida. Na época ela parou de fumar depois de 32 anos (dois maços por dia) e fez sua primeira trilha no Caminho de Santiago, concluindo a rota em 31 dias (850km).

Depois disso ela não parou mais e acabou se jogando também na Tahoe Rim Trail (170 milhas), Grand Canyon (200 milhas nas montanhas da Califórnia), Caminho de Vezélay na França (300km em direção ao começo do Caminho Frances de Santiago) e a Pacific Crest Trail, que fez em 2017 levando 127 dias para concluir todo o trajeto.

Como se preparar para fazer a Pacific Crest Trail?

A Pacific Crest Trail é uma das três principais trilhas-longas dos EUA. Tem 2.650 milhas, o que representa mais ou menos 4.300 km. Passa por desertos, montanhas e muitos parques Nacionais que são ícones dos Estados Unidos.

Ela tem inicio na fronteira entre os EUA e o México, seguindo até o Canadá e passando pelos estados da Califórnia, Oregon e Washington, quase sempre distante da civilização.

A trilheira Rose conta que, antes de embarcar na aventura, ela estudou toda a rota durante um ano, além de analisar quais seriam os melhores equipamentos para levar durante a trilha, ela realizou uma pesquisa de onde poderia enviar caixas pelo correio contendo comida, artigos de higiene pessoal, gás butano para cozinhar e entre outros itens.

“Também li muito sobre a flora e a fauna locais, pois é muito importante respeitar a natureza e saber como se comportar quando encontrar pela frente uma cobra, um leão da montanha ou um urso! Todos eles moram dentro da trilha e os protocolos para sair de lá com vida são claros e rígidos”, esclarece.

Ela ainda conta que fez um preparo físico para a trip, mas que isso não foi um fator determinante na viagem.

“O que realmente nos prepara para uma trilha são os primeiros 200 km dentro dela. Vivendo a realidade de carregar nas costas tudo que você precisa para sobreviver.”

Como enviar itens pelo correio?

Os correios americanos possuem uma caixa distribuída gratuitamente em alguns tamanhos, que se chama “Priority mail box”, e cada tamanho tem um valor fixo. Além disso, há lugares que recebem as caixas e guardam para os hikers que estão percorrendo a região. Alguns correios também realizam essa medida.

Pode parecer um passo precipitado saber o que mandar para você mesmo utilizar nos próximos dias de trilha, mas essa é uma parte muito importante do processo de planejamento, já que os itens irão te salvar durante todos os dias da viagem.

“Eu tinha uma foto de tudo que estava na caixa e caso achasse que não ia precisar dela, existia a opção de não abrir a mesma e manda-la diretamente para outro lugar sem nenhum custo – desde que estivesse fechada e o destinatário fosse o correio”, conta ela.

Inclusive, a trilheira relembra que isso acabou acontecendo bastante, já que andou cada vez mais rápido e a comida que tinha era suficiente para chegar ao próximo posto de abastecimento.

Já o endereço dos locais que recebem as caixas variam a cada ano, então é importante entrar em contato com os locais para saber se ainda estão recebendo as caixas. A Rose conta que ligou pra todos os locais para confirmar as informações e que a lista foi um dos objetos da sua pesquisa.

O que levar na mochila?

Uma das partes mais importantes para qualquer trilha ou viagem, é planejar o que levar. Então se você nunca se aventurou em uma trilha ou até mesmo tem dúvidas do que levar para um roteiro de longa distância, a Rose preparou uma lista completa do que ela sempre leva, e que você pode adaptar para a sua aventura e bolso!

  •  Barraca;
  • Saco de dormir 15F;
  • Mochila totalmente a prova de água;
  • Isolante térmico.

Roupas:

  • Pijamas;
  • Calça;
  • Casaco;
  • Sapatos;
  • Meias + par extra;
  • Gorro;
  • Luvas;
  • Saco para as roupas;
  • Roupas de chuva;
  • Bandana.

Cozinha:

  • Panela pequena de titânio;
  • Isqueiro pequeno;
  • Fogareiro;
  • Colher/garfo.

Diversos:

  • Garrafa 1L;
  • 2 bexigas de água extra, 1L cada;
  • 1 tampa extra para as garrafas de água;
  • Filtro de água portátil;
  • Saco de plástico para comida e lixo (a prova de cheiro, 2 unidades);
  • Lanterna de cabeça;
  • Carregador de celular e cabo;
  • Pack de bateria 4 cargas;
  • Canivete;
  • Esponja (usada como toalha e para limpar a barraca);
  • Plug de parede para carregar com 2 entradas;
  • Papel higiênico;
  • Escova de dentes;
  • Pasta de dente;
  • Cortador de unhas de bebê;
  • Remédios (para dor e alergia);
  • Escova de cabelo pequena;
  • Creme antibiótico;
  • Esparadrapo;
  • Álcool gel;
  • Bastão de protetor solar para boca e nariz (fator 50);
  • 2 elásticos de cabelo extra.

Qual a melhor forma de fazer a viagem: solo ou em grupo?

Fazer trilha exige muito autoconhecimento para entender seus limites, ritmos e claro, o tipo de ritmo que você quer para sua experiência dentro da trilha.

De acordo com a Rose, a PCT é uma trilha para todos, desde quem adora viver aventuras em grupos – que muitas vezes é formado lá dentro mesmo – e até para quem prefere uma viagem solo.

Sua experiência na Pacific Crest Trail teve um pouco de tudo, com momentos sozinha e outros que caminhou com grupos pequenos durante algum tempo.

trilheiros na PCT
Alguns amigos que a Rose fez durante o percurso da Pacific Crest Trail. Foto: Arquivo pessoal / Instagram.

“Mesmo quando estava em um grupo andava sozinha durante o dia e acampava com o grupo em lugares pré-determinados por nós na noite anterior”, relembrou. “Acho que esse modelo é o melhor pra mim, pois cada um tem seu passo, seu ritmo e é chato ter que esperar alguém ou andar rápido demais para se manter dentro do grupo.”

Mas até mesmo para quem decidi percorrer todo o trajeto sozinho, é impossível não acabar encontrando alguma companhia em determinados momentos, já que a trilha atrai diversas pessoas para se aventurar na sua vasta natureza.

“No último estado que é Washington, fiz um amigo e acampamos juntos todos os dias. Algumas vezes andamos juntos também, e o mais importante é que chegamos juntos à fronteira com o Canadá”, contou ela.

Segundo a trilheira, não existe nenhum problema de segurança pública, já que a trilha fica a 200 milhas afastada da Costa e é longe de qualquer cidade, então fazer amizades durante o trajeto pode ser uma boa alternativa.

“Para chegar até alguma cidade e se reabastecer, tomar banho e lavar as roupas é preciso pegar uma carona, que apesar de não fazer parte da nossa cultura, funciona muito bem por lá.”

Fica de olho na documentação!

Para percorrer a trilha é necessário uma permissão da Associação que gerencia a trilha, chamada de PCTA. Essa autorização é fornecida online, em datas específicas que variam a cada ano. Recentemente, aconteceram algumas mudanças para proteger a experiência de todos, então é importante verificar tudo certinho antes de embarcar na aventura.

A autorização deve ser impressa e carregada o tempo todo pois pode ser checada a qualquer momento pelos funcionários dos parques. Também é necessário ter uma autorização especial para fazer fogueiras na Califórnia, que é feita online, com um funcionário de um parque nacional e também deve ser impressa e carregada durante toda a trilha.

“A parte das Sierras na Califórnia exige que seja utilizado uma “bear canister”, que é um recipiente à prova de ursos. Dentro dele deve ser guardado tudo que tem gosto ou odor, como creme dental, por exemplo”, alerta Rose.

A última autorização é conseguida também online, por e-mail, junto ao Consulado do Canadá para que seja possível entrar no país por dentro da trilha. Mas a saída do país deve ser obrigatoriamente feita por uma fronteira oficial.

Qual a melhor época do ano para fazer a trilha?

A Rose alerta que fazer a trilha e qual a melhor época do ano depende de muitas variantes.

Se a trilha vai ser percorrida do sul para o norte, a melhor época para o início é entre o final de março e o início de abril. Isso evita o calor excessivo no deserto e possibilita a chegada à fronteira com o Canadá antes que a neve comece a cair. Isso significa chegar ao final no máximo até a segunda ou terceira semana de setembro. “Após isso, nada é garantido, e o trecho final é muito difícil tecnicamente falando. Neve nesse momento não ajuda em nada, muito pelo contrário”, alerta a trilheira.

Se a opção for fazer a trilha do norte para o sul, a melhor época para o começo é no final do mês de junho e começo de julho. “Mas isso varia também. É preciso estudar como foi o volume de neve no ano anterior.”

Paisagens de destaque, na visão de Rose Eidman

A trilheira lembra que a Pacific Crest Trail é linda do começo ao fim, mas dois pontos chamaram muito a sua atenção durante a trilha.

Sierras, na Califórnia

“Uma cadeia de montanhas maravilhosas, que me fez ver algo inimaginável, como lagos formados por degelo em uma altura de 2, 3 e 4 mil metros de altitude. Animais lindos, vivendo em seu habitat natural, e uma natureza que não tinha visto antes.”

Reserva indígena, Goat Rocks

“Uma reserva indígena chamada Goat Rocks, onde vivem cabras selvagens e possui uma beleza impossível de ser explicada. Fiquei olhando para aquelas montanhas com lágrimas nos olhos. Acampei no alto e de dentro da minha barraca pude ver o por do sol de um lado e o sol nascendo do outro! Um privilégio inesquecível.”

Apesar dos desafios, a Pacific Crest Trail mudou a vida de Rose para sempre.

“Posso dizer que faria tudo de novo. Apesar de ter passado fome, medo, frio, e ter sido obrigada a superar muitos medos, a PCT mudou a minha vida para sempre!”, finaliza.