17 meses, 21 dias, 9 desafios virtuais, 1 meia maratona na esteira de casa, infecção por Covid-19, trombose, alguns dias na UTI, 5 outras internações hospitalares, dores incontroláveis de cabeça, 2 procedimentos de bloqueio de dor em centro cirúrgico, um quadro de sarcopenia (perda de força muscular), um derrame de pleura, muitas sessões de fisioterapia funcional e respiratória, consultas com neurologista, médico da mulher, médicos da dor, hematologista, dermatologista e médico do esporte, dias difíceis e dias melhores, dieta anti-inflamatória, um leque de medicações, uma queda, a decisão de me reerguer e a coragem de recomeçar do zero, separam o meu último texto aqui na Go Outside, desta minha “RETOMADA”.
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Sim, foi uma jornada e tanto para um intervalo que deveria ser de apenas de 14 dias.
Quando lá em maio de 2020 eu dividia com vocês que, assim como milhares de outras pessoas, estávamos dando uma “pausa” nos nossos planos, uma das minhas preocupações era não perder tudo que havia conquistado, em termos de condicionamento físico, visando a Maratona de Nova Iorque. Eu já estava correndo bem – uma meia maratona – ou seja, metade do caminho já estava alcançado e naquele momento, cheguei até a pensar em correr os 42.195km no dia 02 de novembro (data da Maratona de NY) nas ruas de São Paulo mesmo.
Mantive minha rotina de treinos, ajustada ao que eu tinha em casa. Vivi a empolgação de correr desafios virtuais direto da minha varanda. Criei o hábito de literalmente madrugar para correr nas ruas do meu condomínio, enquanto a maioria ainda dormia. E até protagonizei uma corrida on-line, em prol de um Instituto que trata o câncer infantil, recebendo convidados virtuais a cada 2 km percorridos na minha esteira. Em resumo, durante um período me diverti, mas aí comecei a viver as preocupações de filhos exaustos das aulas on line, as dificuldades de manter a vida financeira equilibrada diante de clientes cancelando contratos, a falta de perspectiva de uma volta à vida normal, o sofrimento de perder pessoas próximas para a doença e o medo de ser contaminada. Nada do que estávamos vivendo era mais novidade, e o que seria um “ajuste temporário”, passou a fazer parte dos nossos dias.
O mesmo aconteceu com os treinos. Comecei a cansar de correr no mesmo lugar. O vento na cara e a sensação de liberdade que a corrida me proporcionava, não existia mais. E o prazer, deu lugar à obrigação de manter um cronograma. E assim, me vi desanimando a cada dia.
Aí veio a fase do “vamos começar a voltar”, lá em meados de outubro de 2020, que renovou a minha motivação. Já na primeira corrida ao ar livre, senti que não era mais a mesma, mas ainda assim, estava de volta à ativa. E segui desse jeito até o dia 30 de dezembro, minha última corridinha do ano. Última vez que saí sem rumo. Última vez que me perdi entre as passadas que eu dava, as músicas que eu ouvia, as paisagens que compunham meu cenário, os pensamentos que ocupavam meu tempo e os quilômetros que eu tinha como meta. Isso sem falar no bem-estar que preenchia cada espaço do meu corpo, do início ao término da corrida. Simplesmente, uma sensação que só quem vive, entende!
O ano virou e minha vida virou de cabeça para baixo com ele. Dia 11 de janeiro, positivei para a Covid-19 e no dia 14, descobri uma trombose na minha perna direita que me levou em poucas horas para a UTI. Vivi o medo de não ver mais meus filhos, meu marido, meus pais, minha família e amigos. Me senti perdida, sozinha e apavorada com o que poderia acontecer comigo dali por diante. Relembrei todas as sessões de meditação guiadas que tive nos últimos 12 anos e coloquei em prática todos aqueles ensinamentos. Me agarrei à fé. Enchi minha mente de momentos felizes, na tentativa de driblar os maus pensamentos. E os dias foram passando, meu corpo foi reagindo e fui progredindo positivamente, até o momento em que voltei para casa. Mas eu não havia vencido o vírus, pelo contrário: mais uma vez estava prestes a vivenciar algo jamais imaginado por mim e nem mesmo pelos médicos.
Quem me acompanha no Instagram (@cacafilippini) sabe que sou uma pessoa ativa, com hábitos saudáveis e sem comorbidades. Muitos, assim como eu, não acreditavam que o vírus pudesse agir de forma agressiva no meu organismo e que eu teria a famosa “gripezinha”. Não foi o que aconteceu: na volta pra casa, comecei a apresentar quadros intensos de falta de ar, desmaios, tontura e muita dor de cabeça. Em poucos dias, minha memória começou a falhar. Veio a insônia, dores nas pernas, dores nas costas e na cervical, crises mais intensas de dores de cabeça, idas e vindas ao pronto-socorro. Perguntas que não tinham respostas técnicas ou científicas. E fui internada novamente.
Este capítulo se repetiu outras 4 vezes. Já era conhecida no hospital. Meu caso clínico passou a ser debatido entre médicos e especialistas. E eu me juntei àquele grupo de pacientes que vivem a Covid Prolongada ou “Long Covid”, até que no dia 10 de agosto, véspera do meu aniversário, recebo a boa notícia de que meus parâmetros fisiológicos estavam restabelecidos e que eu poderia voltar a viver a minha vida, sem restrições.
Feliz da vida que eu estava, decidi naquele momento colocar uma nova meta para mim, com o propósito único de dar a volta por cima, motivar pessoas a fazer o mesmo e retomar de uma vez por todas a minha vida. Por isso, convido todo mundo a passar por aqui na próxima terça-feira e vir comigo nessa fase, que eu chamo de #60pra10: 60 dias para correr os novos primeiros 10km.