Reforce a sua alimentação com as PANC

Por Redação

PANC
O peixinho da horta é um clássico exemplo de PANC. Imagem: Shutterstock.

Por muito tempo negligenciadas, as PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) estão em alta e já fazem parte do cardápio de chefs renomados. Além disso, elas possuem benefícios que vão além da saúde e sustentabilidade.

+ Como substituir carne da dieta
+ Por que é tão difícil ser saudável na segunda-feira?
+ 4 filmes que vão fazer você repensar seu consumo de carne

O termo PANC engloba plantas não cultivadas comercialmente em grande escala que possuem uma ou mais partes comestíveis, como, por exemplo, legumes, frutos, flores, vagens, grãos, raízes, tubérculos, ou ainda, partes que rotineiramente são desprezadas pela maioria.

Além de servirem como uma rica opção de fonte nutricional, elas são acessíveis em feiras agroecológicas e facilmente encontradas na biodiversidade brasileira.

Já imaginou ter à disposição no seu quintal – ou naquele terreno abandonado na esquina – plantas com inúmeras propriedades nutracêuticas, que garantem uma dieta equilibrada e nutritiva em proteínas, carboidratos, minerais e fibras?

Isso é perfeitamente possível, ainda mais com mais de 5 mil PANC catalogadas só no Brasil. Com tantas opções, fica difícil eleger os melhores exemplos, mas já há algumas espécies um pouco mais difundidas como ora-pro-nóbis, cará, peixinho da horta, lírio do brejo, trapoeraba e capuchinha.

O termo PANC foi criado pelo biólogo brasileiro Valdely Kinupp, autor do livro acima. Imagem: Reprodução.

Bíblia PANC

PANC são aquelas plantas que, embora existam no meio em que vivemos, não são habitualmente consumidas e cultivadas. Muitas também possuem propriedades medicinais, como atividade antioxidante e antiinflamatória, por exemplo.

O termo foi criado pelo biólogo Valdely Kinupp, autor do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, publicado em 2014 em parceria com o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi. Foram necessários 12 anos de pesquisa para catalogar as 351 espécies registradas na obra.

A sigla PANC também ajudou a popularizar estes alimentos – já consumidos por nossas antepassados – e rapidamente conquistou chefs conceituados como René Redzepi, Massimo Bottura, Alex Atala, Helena Rizzo, Ivan Ralston e Paola Carosella, que abraçam o discurso do uso de ingredientes locais e buscam aproximar o cliente da horta em seus pratos.

Em seu livro, Valdely – que é mestre e doutor pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) e considerado a maior referência no assunto no Brasil – apresenta plantas nativas e exóticas (espontâneas e cultivadas no Brasil), consumidas no passado e ou em alguma região do país e do mundo.

Cada planta é apresentada em duas páginas, com todas as informações sobre o uso geral e culinário, e suas características morfológicas (facilitando a identificação botânica). Além disso, a obra traz receitas culinárias feitas com as plantas, ilustradas em seus respectivos pratos.

Capuchina
Creme com capuchinha para aquecer a alma no inverno. Imagem: Shutterstock.

Como consumir as PANC?

De acordo com a cartilha Guia Prático de PANC, disponível para download gratuito, cada planta é um ingrediente com sua peculiaridade e forma de consumo.

De uma maneira geral, de acordo com o conteúdo, o preparo das plantas pode ser classificados de três maneiras:

– Plantas que são consumidas in natura, na forma de suco ou salada. Consumo similar ao do mamão, da alface e do pepino.

– Plantas que podem ser consumidas tanto in natura quanto processadas, mas ficam mais agradáveis e saborosas quando cozidas ou refogadas. Mesma forma de preparo da beringela e da escarola.

– Plantas que precisam obrigatoriamente passar por cozimento. Essa exigência é similar à da mandioca e da batata-doce, que devem ser consumidas cozidas.

Mas nem tudo são flores. É preciso tomar alguns cuidados na hora de consumir uma PANC. Apesar de serem benéficas à saúde, elas crescem por todos os lados (inclusive em ruas e calçadas) e por isso podem estar contaminadas com sujeira, poluição e bactérias. Sem falar dos costumeiros erros na identificação das plantas!

Assim, a recomendação é adquiri-las em hortas urbanas ou em feiras orgânicas. A colheita feita na rua deve refletir um consumo esporádico e exige boa higienização. Mas não há problemas em pegar mudas e sementes das ruas e cultivar na sua casa.

Alternativa sustentável

A Segunda Sem Carne é um dia de conscientização sobre os impactos que nossos costumes alimentares causam ao Planeta. Assim, por que não incluirmos hábitos mais sustentáveis e saudáveis nele?

As PANC vêm como uma ótima alternativa para uma dieta mais equilibrada naqueles dias em que você opta por excluir as carnes do seu prato.

Além disso, elas são uma alternativa mais ecologicamente sustentável, pois não dependem do uso de agrotóxicos na sua produção, contribuem para a biodiversidade e incentivam o consumo de produtos locais.

Como são plantas que vêm se adaptando naturalmente ao meio em que vivemos, elas se caracterizam pelo fácil cultivo, sem grande necessidade da utilização de melhoradores de solo e herbicidas, o que as torna uma opção mais sustentável em comparação a algumas plantas convencionais.

Para muitos, as Plantas Alimentícias Não Convencionais também são consideradas uma alternativa de combate à fome em comunidades menos favorecidas, de diversificação da renda para agricultores familiares e, principalmente, de resgate de hábitos alimentares tradicionais.

Ora-pro-nobis
Ora-pro-nobis é uma folhagem rica em proteína e aminoácidos essenciais.


Ora-pro-nóbis, a “queridinha do momento”

A ora-pro-nobis é uma folhagem rica em proteína e aminoácidos essenciais que cresce super bem em vasos e fica ótima em saladas, suco verde, refogados e molhos tipo pesto.

É uma planta nativa do Brasil e que pode ser encontrada de norte a sul. Suas partes comestíveis incluem as folhas, a flor e o caule.

Como característica nutricional ela tem aproximadamente 20% de proteínas em sua massa foliar, conforme a situação de cultivo. Os aminoácidos encontrados em maior quantidade na planta são a lisina e o triptofano.

Outra riqueza desta planta são as fibras solúveis, importantes para o processo digestivo e intestinal; as vitaminas A, B e C, das quais se destaca seu efeito benéfico no sistema imunológico, para olhos e pele; e os minerais cálcio, ferro e fósforo.

Usos culinários: as folhas suculentas e comestíveis podem ser usadas em várias preparações, como farinhas, saladas, refogados, tortas e massas alimentícias, como o macarrão. As folhas desta planta são usadas em pratos variados, substituindo a couve mineira e outras verduras, em sopas, omeletes, molhos, refogados e até como recheio de pão.

A farinha de ora-pro-nobis é uma ótima alternativa para quem busca uma fonte proteica e prática para o seu dia a dia. Pode ser adicionado no preparo de pães, omeletes, shakes, ensopados, ou até mesmo diretamente na refeição. A farinha pode ser preparada em casa a partir das folhas secas trituradas, ou pode ser comprada já pronta em lojas de produtos naturais.

Elaborado pelos chefes de cozinha Flávia Zanatta e Michel Abras, o Laboratório de Técnica Dietética da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) publicou um artigo com outras receitas de PANC. Confira!

Agora que você já sabe um pouco mais sobre as PANC, seus benefícios para a saúde, meio ambiente e até economia, que tal inclui-las em sua rotina alimentar?