“Eu amo açaí. É uma das coisas que mais gosto de comer no mundo.” A frase é do maior astro do surf contemporâneo, o americano Kelly Slater. Assim como ele, muitos atletas de todos os cantos do planeta são fãs da fruta brasileira. Afinal, como o açaí se popularizou pelo mundo?
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Foi só nos anos 2000, quando o exótico creme cor-de-uva chegou à Califórnia, que os atletas se viciaram no sabor da fruta agridoce. Não só incorporaram o hábito de tomar a mistura no dia-a-dia, como ajudaram a espalhar a mania pelas quebradas do estado mais animado e esportivo dos Estados Unidos.
Em Sidney, na Austrália, e em Oakland, na Nova Zelândia, mais de cem cafés, restaurantes e casas atraem o povo do surf com cartazes coloridos – e até estereotipados – com ilustrações de índias boazudas e fotos da frutinha brasileira acompanhados de dizeres como: “Acai juice, the brazilian energy” (“Suco de açaí, a energia brasileira”) e “the original brazilian power juice” (O original suco energético brasileiro”).
Na Espanha, chamarizes como “Conozca la fruta más de moda en Brasil” atraem curiosos aos cafés e restaurantes que incorporaram o açaí na tigela ao cardápio, principalmente em Madri e em Barcelona. Até em Israel, no Japão e nos Emirados Árabes tem gente vendendo – e tomando – açaí na tigela. Assim como em Luxemburgo, na Holanda, na Bélgica e na Suécia.
A GmbH, empresa alemã fundada em 2002 com o slogan de oferecer um “produto 100% natural, que une prazer, saúde e qualidade de vida”, comercializa, por meio de um representante brasileiro, polpa de açaí congelado em mais de 10 países Europeus.
A neozelandesa Nufruits espalha a mania do açaí nas praias da Nova Zelândia, Austrália e também em lugares como Porto Rico, Cingapura, Canadá e Japão. Compram o extrato de açaí compensado e congelado de cooperativas de comunidades ribeirinhas do norte do Brasil, vestem embalagens que gringo adora ver, e levam a mania brasileira para os quatro cantos do mundo.
Mas foi a americana Sambazon – primeira empresa a exportar o produto legalmente e a registrar o açaí no FDA (Food and Drug Administration, que controla o comércio de alimentos e remédios nos Estados Unidos) – quem fez a fruta virar febre entre os atletas cinco estrelas da Califórnia. Tudo graças à política ecologicamente correta que adotaram, à empatia que conquistaram no meio do surf e do skate, e aos negócios bem-sucedidos que têm feito no Brasil.
A descoberta do açaí no Brasil
Travis Baumgardner, surfista americano que se juntou aos três sócios da empresa, nasceu e cresceu no Texas e, antes de conhecer o Brasil, achava que por aqui se falava espanhol e que a capital podia ser Buenos Aires. Em 1996, viajou para Recife num carnaval, começou a namorar com uma brasileira e se mudou para o Rio de Janeiro.
Foi em uma casa de sucos nos arredores da faculdade que ele provou o açaí pela primeira vez. “Me deu um arrepio, uma coisa louca. O que era aquilo? Um milk-shake, uma vitamina, um sorvete?”, lembra Travis. “Aquela fruta acabou virando meu prato predileto no Rio de Janeiro”.
Sempre atrasado, o surfista chegava na aula todos os dias com um copo de suco na mão. Um dos professores usou isso como gancho e resolveu dar uma palestra sobre açaí. Explicou que o fruto vinha das regiões alagadas da Amazônia, que era fonte de sustento de centenas de famílias ribeirinhas, que suas árvores se espalham para o Maranhão e até para as Guianas e para a Venezuela, e que ali é consumido com farinha de mandioca e açúcar.
O americano, que não sabia que rumo ia dar à vida, achou aquilo tudo interessantíssimo. “Me deu um estalo. Todos os amigos que vinham me visitar ficavam maravilhados com o açaí. Além disso, os Estados Unidos é o maior consumidor de produtos naturais no mundo”, lembra. “Achei que pudesse dar jogo levar o açaí na tigela pra lá”.
De volta aos Estados Unidos decididos a investir na ideia, os três amigos acharam a história e os números de Travis na Internet. Entraram em contato com ele e ficaram sócios.
“Eles precisavam de uma base e, como eu já tinha mapeado tudo e sabia quais cooperativas tinham capacidade de exportar, fechamos uma parceria”, conta o texano, que passou a representar a Sambazon – abreviatura de “Saving and Managing the Brazilian Amazon”, no Brasil.
De maio de 2000 – quando começaram a vender o açaí Sambazon nos Estados Unidos – ao fim daquele mesmo ano, os quatro garotos venderam US$ 134 mil. E assim o açaí continuou a ser popularizado em todo o mundo.
Reportagem de 2005 – Nota da Redação: A reportagem da Go Oustside ouviu diversos comerciantes de açaí e essa é a versão mais contada entre eles – mas há controvérsias.