A solidão pode desenvolver a imaginação, sugere estudo

Por Redação

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Imagem Shutterstock

Tem gente que sequer suporta a ideia de viajar sozinho. Já outras pessoas buscam estes momentos, dando a volta ao mundo de bicicleta por conta própria, sobem montanhas sozinhas ou até escalam em solitário. E não pelo desafio físico, mas pelo prazer de estar consigo próprios. Agora, a ciência está mostrando como a solidão pode realmente ajudar a construir estruturas no cérebro ligadas à imaginação.

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De acordo com um estudo publicado na terça-feira na revista Nature Communications, pessoas solitárias têm maior chance de aumentar a atividade em áreas do cérebro ligadas a relembrar, pensar nos outros e planejar o futuro. A hipótese dos pesquisadores é que a chamada “rede do modo padrão” no cérebro, que está envolvida na memória e na cognição social, provavelmente passaria por mudanças relacionadas à solidão.

As ligações entre essas áreas haviam se fortalecido e o volume de massa cinzenta era maior do que naqueles que não estavam solitários. Os resultados convergiram para a rede padrão como a mais afetada pelo isolamento e solidão percebidos.

Solidão e imaginação

Muito antes da pandemia, a solidão era cada vez mais vista como um problema de saúde pública, a ponto de o Reino Unido nomear um ministro para a solidão em 2018. De acordo com uma revisão de 2015 de estudos mundiais, os dados mostraram que adultos solitários têm cerca de 1,64 vezes mais probabilidade de desenvolver demência em comparação com aqueles que não relatam solidão, por exemplo.

Este tipo de resultado levaram os pesquisadores a vasculhar imagens cerebrais de 40.000 pessoas, todas retiradas do UK Biobank, um banco de dados em grande escala que armazena informações biomédicas de cerca de 500.000 britânicos.

Os participantes desse estudo, com idades entre 40 e 69 anos, preencheram avaliações que incluíam perguntas perguntando se eles se sentiam solitários ou não. Os pesquisadores então compararam imagens de ressonância magnética de pessoas solitárias que se identificaram com aquelas que não sentiam solidão regularmente. Este banco de dados é muito mais amplo do que o normal, e veio de um aumento feito nas as imagens de cérebro disponíveis em fevereiro passado. Isso ampliou enormemente as possibilidades de estudo.

A hipótese dos pesquisadores de que a rede padrão no cérebro estava ativa durante a solidão era lógica, porque essas são partes envolvidas no pensamento sobre si mesmo.  Embora partes do cérebro preparadas para a criatividade e o pensamento sobre si mesmo possam crescer durante a solidão, isso pode significar que outras partes sociais do cérebro atrofiariam com a inatividade. Aí veio a pergunta: isso quer dizer que partes do cérebro importantes para as interações podem se retrair, ou até evoluir para um tipo de transtorno demencial?

Isolamento social e doenças mentais

Um dos benefícios do estudo é ajudar os cientistas a entender melhor como o isolamento social pode mudar a estrutura do cérebro, colocando as pessoas em risco de Alzheimer à medida que envelhecem.

Ainda há muitos outros fatores que precisam ser examinados, como a interação da solidão com o genótipo APOE-4. Esse gene foi associado a até 25% dos casos de Alzheimer, de acordo com a Associação de Alzheimer. Os cientistas estão analisando o cérebro envelhece ao longo de vários anos e como sua experiência de solidão pode na verdade acelerar os padrões de atrofia.

E o estudo tem maior importância após um ano de pandemia em que o isolamento social foi regra para muitas pessoas. Até porque se trata de um tipo de isolamento compulsório, muito diferente da opção de estar sozinho por um tempo. As descobertas podem ajudar a definir políticas públicas que ajudem a retomar as conexões sociais, especialmente entre pessoas mais velhas.