E fechou tudo, de novo. O novo lockdown na Itália deixou mais cinza a chegada do outono, aqui e no resto da Europa. Em abril, foi difícil ficar em casa com a primavera chegando, mas o esforço coletivo foi visto como a única forma de conter o espalhamento do vírus e não sobrecarregar o sistema de saúde. O sacrifício valeu a pena: os números foram contidos, as aulas voltaram, os bares e restaurantes reabriram, e à parte o uso onipresente de máscaras, álcool gel e limitação no porte dos eventos, tudo parecia normal. Ou quase normal.
Durante este respiro aliviado que foi o período da primavera e no verão, o calendário de ciclismo foi espremido em um espaço de praticamente dois meses. As falésias e trilhas voltaram a receber montanhistas. Neste período, compramos um carro e fomos para a montanha o quanto foi possível, na Itália e em uma breve viagem de fim de semana à vizinha Suíça. Foi maravilhoso curtir trilhas, estar na natureza, respirar ar puro e nos desafiar (ainda que o primeiro lockdown tenha castigado nosso condicionamento).
Porém, em outubro, num espaço de poucas semanas, a escalada de contágios se mostrou ameaçadora e, hoje, 6 de novembro, o novo lockdown na Itália entrou um vigor com um decreto quase tão restritivo quanto o do fechamento anterior. Com a memória fresca do estrago que o vírus fez na primeira onda, o clima está mais pesado. As pessoas estão assustadas, a economia não se recuperou ainda e os sonhos adiados não tiveram tempo de se cumprir. De agora até março do ano que vem, os dias serão curtos, escurece cedo, faz frio. Estar preso em casa é mais difícil e angustiante. Preventivamente, as estações de esqui este ano sequer vão abrir.
Se em abril, chegamos a ter até caminhadas, corrida e pedais restritos a poucos metros ao redor de casa, neste momento apenas não é possível sair da própria cidade. Isso ainda permite correr, pedalar e tentar manter o condicionamento. Academias estão fechadas, mas não deu tempo nem de juntar poeira no equipamento esportivo comprado no começo do ano para treinar em casa. A assinatura anual do aplicativo de yoga vai se fazer valer mais do que nunca. Meu arrependimento: não ter comprado um rolo de treino quando todos pensavam que este não seria mais um item tão indispensável.
Apesar do decreto já em vigor, hoje precisei sair à rua para fazer compras em uma cidade maior. As ruas já estão semi desertas. Há poucos carros, quase ninguém na rua e o comércio fechou em massa. Apenas negócios considerados essenciais estão de portas abertas, como supermercados e farmácias. Aparentemente ninguém vai se arriscar abrir para dois ou três clientes. A esperança é de que, se todos ficarem em casa, teremos logo um pouco mais de liberdade. Na verdade, o plano é mais ambicioso ainda: poder reabrir comércio e liberar os deslocamentos não-essenciais e entre regiões para as festas de fim de ano.
Com sorte, passaremos o Natal na montanha. Os números serão acompanhados quinzenalmente, e todos os esforços somados à experiência acumulada com a gestão do primeiro pico da emergência sanitária podem nos ajudar a recuperar a liberdade mais rápido. Mas se todas estas expectativas deste novo lockdown na Itália serão cumpridas com a ajuda da população, só o tempo irá dizer. Na dúvida, vou tentar manter a corrida em dia (de máscara, claro) porque quando tudo isso acabar, as montanhas vão estar lá.