Você está exagerando no álcool na quarentena?

exagerando no álcool na quarentena
Imagem Shutterstock

Fechados em casa, longe de amigos e família e sem nada para fazer, uma hora bate o tédio. E em algum momento, vamos sentir falta daquela cerveja gelada depois do pedal ou dos drinks com os amigos depois do trabalho. Na quarentena, não estamos mais encontrando pessoalmente nossos amigos. Mesmo assim, continuamos bebendo, talvez até mais que antes. Como saber se você está exagerando no álcool na quarentena?

>> Siga a Go Outside no Instagram

A questão é tão séria que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou que os governos limitem a venda de bebidas durante a quarentena. Em artigo publicado no site da entidade, o álcool, o tabaco e outras drogas são chamados de estratégias inúteis para o enfrentamento do isolamento. Ainda assim, em março as vendas de bebidas alcoólicas aumentaram 22% no Reino Unido e 55% nos Estados Unidos, em comparação com o mesmo período do ano passado. 

+ Conheça 6 benefícios da cerveja sem álcool
+ Qual a melhor bebida alcoólica para perder peso?

Outras pesquisas já haviam detectado uma relação entre crises sociais e aumento do consumo de álcool. Um estudo da epidemiologista Magdalena Cerdá, da Universidade de Nova York, revelou que sobreviventes do Katrina tinham cinco vezes mais risco de dependência de álcool. Outro estudo da Universidade de Columbia, em Nova York, focou no atentado às Torres Gêmeas em 2001, e também identificou uma correlação entre estresse e beber compulsivamente. 

Estamos vivendo um período de ansiedade coletiva, frustração e pressão social. “Devido ao isolamento social, o nível de stress e depressão, aumentam. Como a cultura brasileira é alcoolista, assim como em diversos países, muitas pessoas por ‘não ter o que fazer’, acabam bebendo para ‘relaxar'”, diz Marcelo Barbato, terapeuta e mantenedor do Centro Terapêutico Nova Aliança. “Isso é muito preocupante, pois a tendência é que em função do isolamento gere um aumento do consumo de álcool.”

Como o álcool relaxa e alivia o estresse?

E realmente, no curtíssimo prazo, o álcool relaxa. “O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central, por isso, o relaxamento é alcançado”, diz Marcelo. Mas em pouco tempo, gera um efeito negativo. 

De acordo com Renata Brasil Araújo, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), a bebida traz uma sensação de euforia, mas, rapidamente, diminui a ativação do freio do cérebro, chamado de lobo pré-frontal. Além dos efeitos de sedação, acontece o efeito colateral da impulsividade, inclusive tomando atitudes dos quais a pessoa pode se arrepender.

Para piorar, o consumo contínuo de álcool aumenta os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Em situações como a que vivemos hoje, de insegurança e um bombardeio de informações negativas, fica até difícil separar o que é a influência do ambiente e do momento com as consequências do exagero. Somando tudo, a ressaca moral é pesada. Assim, buscar alívio no próximo happy hour pelo Zoom pode ser uma armadilha. 

É diferente beber sozinho em casa?

Isso porque o contexto muda a forma que as pessoas bebem. “Pessoas que não são dependentes de álcool bebem conforme a situação, tipo de diversão, com um grupo de amigos e até o tipo de bebidas que está sendo servida”, conta Marcelo. “No entanto, pessoas que usam a bebida como fuga dos problemas arrumam um pretexto para beber. E pessoas que são dependentes químicos usam por necessidade. A tendência é uma pessoa que passe a beber sozinho e beba mais por estar em uma situação que a única diversão é a bebida”, alerta.

O que fazer então? Cortar o álcool de vez? Ou existe uma quantidade segura? “O consumo de baixo risco de álcool é aquele que a pessoa está se divertindo mas não por causa do álcool. É quando ela escolhe alguma bebida alcoólica e bebe quantidades condizentes com temperatura do ambiente, com seus hábitos, com seu peso e até mesmo com o que consumiu de alimentos”, explica Marcelo. A bebida está ali não como objetivo, mas sim, como acessório. Ou seja, não tem problema fazer uma reunião virtual com os amigos de copo na mão, sem exageros. 

Afinal, quanto posso beber sem estar exagerando no álcool na quarentena?

Se formos falar em termos de quantidade de álcool, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não existe um padrão de consumo que não ofereça riscos. É melhor então se manter dentro da faixa do consumo de baixo risco: a ingestão de uma quantidade de álcool que não apresente riscos significativos à saúde para a população geral. 

O OMS define como dose padrão 10g de etanol puro, e recomenda que homens e mulheres não excedam duas doses por dia, ou seja, o equivalente a 20g de álcool. Uma dose é equivalente a uma lata de cerveja, ou uma taça de vinho de 150 ml, ou uma dose de destilado de 45 ml, como vodca e cachaça. 

Aí entra a necessidade de ficar alerta com o exagero: o álcool afeta nosso centro neurológico de recompensa e estimula a liberação de dopamina, o neurotransmissor que nos faz querer mais.

Até porque, mesmo sem ficar bêbado e sem perder o controle, se for frequente o exagero vai causar danos. “Uma pessoa que exagera com uma frequência periódica, mesmo que não fique bêbado e nem passe mal, já passa a correr riscos de saúde como desenvolver uma doença hepática, estomacal entre outras”, diz Marcelo. “Ainda existe os riscos de acidentes, brigas em função de que o álcool tira o senso crítico e os reflexos, aumentando as possibilidades de acidente. Aumenta os riscos de AVC, problemas cardíacos, a pressão arterial etc”.