A Geleira Marmolada, um dos glaciares mais lindos da Europa, vai sumir em 30 anos. A geleira da icônica montanha nas Dolomitas reduziu-se em 30% na última década. Como em outras geleiras permanentes, a redução da superfície na Rainha das Dolomitas é visível a cada ano e preocupa cientistas. 

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Graças à dificuldade de acesso, as terras altas eram os ecossistemas menos devastados diretamente pela ação humana. Mas as mudanças climáticas são uma brecha que está alterando de forma irreversível também esses sistemas, com o derretimento das geleiras de todo o planeta. O fenômeno é perceptível e está sendo estudado em diversos pontos do mundo – em ícones como a Geleira Marmolada, a perda tem um peso científico e cultural enorme.    

Declínio veloz 

A previsão de 30 anos está nos resultados do estudo “Recent evolution of Marmolada glacier (Dolomites, Italy) by means of ground and airborne GPR surveys”, produzido pelos pesquisadores do Istituto di scienze marine del Consiglio nazionale delle ricerche (Cnr-Ismar), da Universidade de Trieste e Genova, da Universidade de Aberystwith e da Agência Nacional pela Prevenção e Proteção Ambiental do Veneto. Os cientistas confrontaram o relevo geofísico de 2004 e de  2015 e analisaram a redução do volume de gelo neste lapso de tempo. O estudo foi publicado em dezembro de 2019.

Em uma década, o volume de gelo sofreu redução de 30% no volume, com diminuição de 22% da sua área total. A previsão dos cientistas é de que em 20 anos reste apenas uma faixa de gelo, que em 30 anos terá desaparecido totalmente. 

“Se, de acordo com os cenários climáticos atuais, a temperatura nos próximos decênios continuar a aumentar em ritmo acelerado, essa previsão pode ser até subestimada. O desaparecimento da geleira pode acontecer ainda mais rápido”, explica Renato Colucci, glaciólogo do Cnr-Ismar. Segundo o cientista, mesmo sem aumentos de temperatura, o glaciar já está em desequilíbrio com o clima atual, e portanto, condenado a desaparecer. 

Impactos do fim do glaciar

O derretimento gradual do glaciar causada pelo aumento de temperatura causa um efeito em cadeia. O fim da neve expõe maciços de rocha, que absorvem calor e passam a irradiá-lo. A massa única e contínua do glaciar fica fragmentada por vários trechos rochosos, que dificultam o recongelamento da Marmolada, aumentando a velocidade do desaparecimento do manto branco. 

Entre os glaciares alpinos, os que se encontram abaixo de 3.500 metros de altitude têm previsões similares de desaparecimento. Entre os picos mais altos da Europa, que se encontram acima de 4.000 metros, metade deve derreter até 2050. A perda dessas reservas de água, que reabastecem as bacias hídricas locais, vai afetar tanto os ecossistemas regionais quanto a população humana, sem mencionar o fim irremediável da cultura de esportes de inverno, como esqui, snowboard e outras modalidades.