Chegue mais perto: a África não é exatamente uma enorme concentração de terra preenchida por savanas, elefantes, guerras civis e miséria, como muita gente pensa. Os 54 países que compõe o continente africano têm, cada um a sua maneira, charme próprio, belezas naturais, culturas e tradições. E o melhor: grande parte dessas preciosidades ainda é pouco explorada pelo turismo de massa.
Para muito além do surf na África do Sul ou do safári no Quênia, a região esconde tesouros que se revelam inesquecíveis para quem decide viajar pelo continente sem preconceitos e medos. A seguir, selecionamos quatro destinos para você viver a África de cabeça aberta.
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Etiópia antropológica
Quando as potências europeias se reuniram em 1885 para dividir a África entre elas, a Etiópia não entrou na partilha. O país, localizado bem no chifre africano, na parte oriental, tinha governantes bem estabelecidos, que resistiram na raça ao domínio europeu. Além de ter sido cantada nas letras dos reggaes de Bob Marley como o berço do rastafári, a Etiópia é conhecida por ser uma das nações mais antigas do mundo. Por toda sua riqueza histórica, é parada obrigatória a todos que curtem entender mais sobre a história da humanidade.
As cerca de 80 etnias que povoam seu território sofreram pouca influência do mundo exterior, mantendo dialetos e costumes que fazem deste um lugar quase perdido no tempo. A estudante de filosofia Isabel Rosa decidiu viajar por lá com uma mochila nas costas. Pegou carona em caminhões, dormiu em alojamentos, viu de perto tribos indígenas, descobriu uma moda absolutamente original e teve de se virar para estabelecer alguma comunicação e encarar a culinária local – basicamente constituída de carne de bode e injera, uma panqueca presente em todas as refeições etíopes. “Em algumas regiões, como no deserto de Omo, a população não lida com dinheiro – a economia se movimenta na base das trocas. Não há transporte público, estradas pavimentadas ou produtos industrializados. Viajar por lá é como visitar o passado”, resume a paulistana, que passou três meses no país e conheceu as paisagens da cordilheira Siemens, cheia de babuínos, antílopes, cactos e flores, além das igrejas esculpidas em pedra há 800 anos, na cidade de Lalibela.
A norte-americana Veronica Trujillo reservou seis meses para circular por diversas regiões do continente africano. Passou por Marrocos, Tunísia, Egito, Quênia, Uganda, Ruanda, Tanzânia, Moçambique e África do Sul. A Etiópia entrou para sua lista de países favoritos. “É um lugar muito rico culturalmente, com culinária, música e até alfabeto singulares. As pessoas transmitem paz e alegria, apesar das precárias condições em que vivem”, conta a pesquisadora, que evitou regiões de fronteira, conhecidas por conflitos regionais.
• Para visitar lendo: O Imperador, de Ryszard Kapuscinski (Cia. das Letras). Essa obra-prima do jornalista polonês faz um retrato interessantíssimo dos tempos do imperador Haile Selassie, que comandou o país até 1975.
Mali
Há pelo menos três bons motivos para incluir o Mali entre suas “viagens do sonho”: o país abriga as duas cidades mais antigas da África subsaariana, o maior festival de música africana do mundo e o delta do rio Níger, uma imensa área inundável que permitiu o desenvolvimento de culturas milenares. A historiadora Daniela Moreau, que já esteve no Mali três vezes, foi ver o delta com os próprios olhos. “Queria muito conhecer esse fenômeno raro e também ir a Djenné e Timbuktu, cidades históricas que tiveram seu apogeu na época medieval e que ainda hoje impressionam os visitantes. Além disso, tinha muita vontade de conhecer os mercados e encontrar os artesãos – tecelões, ferreiros, oleiras e tintureiras – fabricantes de preciosidades que eu conhecia apenas em livros”, revela Daniela, especialista em tecelagem e cultura africanas.
Quando desembarcou em Bamako, a capital do país, optou por um hotel de uma rede internacional conhecida, para garantir noites confortáveis, “um luxo que, quando possível, faz toda a diferença”. De lá, alugou um carro e viajou por 15 dias para conhecer Djenné e Timbuktu. Em outra ocasião, se programou com uma operadora, fez caminhadas por falésias na região de Bandiagara e navegou pelo Níger. “O Mali é um dos melhores destinos para quem quer conhecer a África. A comida local é deliciosa, com muitos grelhados, saladas e frutas.”
No currículo dessa historiadora aficionada pela cultura africana, falta ainda conhecer o festival de música do Mali, que acontece desde 2001, em janeiro, geralmente no pequeno povoado de Essakane, um oásis no meio do deserto. É uma chance imperdível de saber um pouco mais desse país que produziu grandes nomes da música, como o cantor e exímio violonista Ali Farka Touré.
• Para visitar ouvindo: Mali Music, álbum em que o líder da banda Blur, Damon Albarn, toca com os artistas malineses como Afel Bocoum e Toumani Diabaté.
Mordomia em Zanzibar
Misturando elementos persas, indianos, árabes e europeus, o arquipélago de Zanzibar é uma explosão de cores, sabores, cheiros e sons. Apesar de ser um semi-autônomo território da República Unida da Tanzânia, Zanzibar é um apanhado de ilhas (as três maiores são Pemba, Unguja e Mafia) com governo próprio, praias lindas e uma estrutura de sonho. Um dos resorts mais luxuosos do mundo é o Baraza, com ares de palácio de sultão e o conforto de um hotel do século 21.
A atriz Maria Manoella escolheu passar ali alguns dias de rainha ao lado do namorado. Depois de explorar os parques nacionais do Quênia, o casal foi descansar na ilha de Bwejuu, na parte sudoeste de Unguja. “Eu fiquei em Zanzibar no esquema que pedi a Deus: viagem romântica, de frente para a praia, só descansando, tomando sol e comendo bem. O resort é maravilhoso”, conta Manoella, que saiu do Brasil com todo o programa da viagem fechado com uma operadora nacional. “Não precisei nem pensar nas refeições, estava tudo acertado”, completa.
Além da mordomia, dá para curtir a Cidade de Pedra, bairro mais antigo de Zanzibar, cidade principal que tem o mesmo nome do arquipélago e que se tornou patrimônio da UNESCO. O bairro encanta por suas mesquitas, palácios e mercados.
• Para visitar ouvindo: Bi Kidude, a cantora mais antiga de Zanzibar, considerada uma “rainha” na ilha. O disco Zanzibara 4 é parte de uma coletânia de música Taarab, típica desta região, e traz o repertório desta diva.
Gabão selvagem
Imagine um país quase intocado que tem 85% de sua área recheada de florestas tropicais e 10% de savanas. O Gabão foi abençoado com esse divino exagero. Dos seus 13 parques nacionais, 10 estão abertos à visitação para quem quiser conferir quilômetros de praias banhadas pelo Atlântico e florestas fechadas com uma população impressionante de macacos, elefantes, hipopótamos e antílopes. Os hipopótamos, diga-se, são famosos por uma habilidade um tanto especial: podem ser vistos “pegando um jacaré” na beira das praias.
Lope e Loango são dois dos parques mais visitados do país. Os passeios por essas e outras atrações naturais podem ser feitos de jipe ou barcos motorizados, com trechos de trekking. Também é possível acampar algumas noites para não perder a chance de ver de perto famílias inteiras de gorilas.
Ainda pouco descoberto e visitado apenas por uns poucos turistas franceses e ingleses, o Gabão é o destino certo se você curte um turismo mais rústico e conectado com a natureza. “Se você está querendo viver uma experiência real na floresta, sem turistas, e não se incomoda com traslados complicados, então este é o lugar”, postou um norte-americano no fórum do site dos guias Lonely Planet. “Contratar uma operadora local e pré-agendar suas visitas aos parques é a melhor maneira de garantir uma bem-sucedida observação dos animais nativos”, completa ele, que passou quatro semanas por lá.
• Para visitar ouvindo: Pierre Akendengué, compositor e músico gabonês que lançou álbuns sensacionais como Nandipo, que tem participação do percussionista brasileiro Naná Vasconcelos