Existe um recurso que pode alavancar a performance de qualquer esportista – não importa a modalidade nem mesmo o nível de desempenho. E ele está dentro da sua cabeça. Os melhores atletas do globo já descobriram isso e têm apostado cada vez mais na parte mental do treinamento. O fenômeno começa a ganhar mais força no universo amador, porém ainda é visto com certa desconfiança. E, para muitos, segue sendo um tabu.
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Especialista no assunto, o psicólogo esportivo norte-americano Graham Betchard gosta de fazer uma comparação com antigos guerreiros. “Se os samurais tivessem um ‘dia ruim no trabalho’, eles não voltariam vivos para casa”, começa. “Era preciso estar em paz com seu maior medo, o de perder a vida, para permitir que o corpo e a espada cumprissem suas metas”, conclui Graham, cofundador da plataforma de treinos Play Present e do aplicativo de treinamento mental Lucid.
Seu resgate é importante: os samurais já faziam havia séculos algo semelhante ao que se prolifera hoje como o grande diferencial em desempenho, principalmente em competições importantes. Na verdade, é provável que você mesmo já tenha aplicado (mesmo sem saber) alguma técnica relevante da mente durante exercícios. O grande lance do treinamento mental é entender melhor esses mecanismos, começar a dominar ferramentas poderosas e praticá-las a ponto de elas fazerem parte do seu próprio arsenal esportivo.
Esse tem sido o trabalho do mental coach paulista Renato Endo, fundador da Deeper, uma consultoria focada em esporte. Misturando técnicas de hipnose e PNL – ou Programação Neurolinguística, um ramo da psicoterapia –, ele tem visto de perto mudanças expressivas em praticantes de diversas modalidades. Logo que se jogou de cabeça nesse novo mundo, no início de 2017, após deixar a área de inovação, criatividade e design, Renato já notou o poder da ferramenta que tinha nas mãos. “Eu comecei a perceber a importância de trabalhar pessoas e equipes mais bem conectadas, pois via várias ideias incríveis morrendo a cada dia por causa de problemas com isso”, conta, antes de nos passar as dicas a seguir.
O PODER INVISÍVEL
“A grande barreira para muita gente ainda é o fato de o treino mental ser algo ‘invisível’. Em um trabalho físico, os resultados são mais fáceis de se ver. Quem se permite experimentar ganha uma ferramenta excelente para controlar ansiedade e nervosismo. Além disso, aprende a lidar melhor com os medos, algo comum em qualquer esporte. Assim como a parte física, esse também é um exercício contínuo: se parar vai atrofiar. No treino mental, muito mais perceptivo e subjetivo, não se vê o resultado, sente-se.”
POTENCIAL ELEVADO
“Já ajudei pessoas com depressão, vícios e fobias. Vi casos extremos darem reviravoltas positivas com técnicas mentais que uso hoje com atletas. Também já vivi de perto a dor (e os desafios) que um esportista sente na rotina. O que há em comum nesses dois tipos de caso é que, muitas vezes, o adversário acaba sendo você mesmo. O medo e a ansiedade, na verdade, podem se tornar ótimos aliados, desde que bem trabalhados. A competição é outro fator com dois lados: se souber usá-la a favor, pode ser o gatilho para entregar tudo de si – e até um pouco mais.”
UM PASSO DE CADA VEZ
“Reprogramar a mente e entender seus mecanismos também exige cuidado. Há uma linha tênue que determina o que é saudável, e ela deve ser respeitada. Elevar o limite máximo sem que o corpo esteja preparado pode gerar lesão. O treinamento mental não é um milagre. Você não vai sair do zero para uma maratona em dois meses. Talvez até consiga, mas vai ficar sem andar direito por um tempo – e isso é um preço alto a se pagar.”
*Parte da reportagem “Sonho Meu”, da Revista Go Outside 154.