Com a chegada da primavera e, logo mais, o verão, é a hora de lembrar algumas práticas recomendadas de proteção solar. Para descobrir que tipo de filtro solar e roupa você deve usar, conversamos com dois dermatologistas para você tirar todas as dúvidas sobre proteção solar durante a prática de esportes outdoor.

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Qual o fator de proteção solar ideal?

O fator de proteção solar (FPS) ideal depende principalmente da cor da sua pele e da intensidade da exposição solar a que você se submeterá. Ou seja, quanto mais clara for a pessoa, e mais forte o sol, mais alto deve ser o FPS. “Para quem pratica esportes outdoor, o FPS mínimo é 50”, afirma Luiz Terzian,corredor e dermatologista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. Quem vai se expor ao sol durante uma prova ou treino por mais de duas horas e não conseguirá reaplicar o protetor solar, ou sabe que não conseguirá escapar do sol das 10h às 15h (que tem maior concentração dos raios UVB, os mais nocivos), deve escolher um FPS mais alto, de 60 ou 70.

O dermatologista Rafael Pessanha, da clínica Valéria Marcondes, de São Paulo, é ainda mais incisivo. “Se a pessoa não tiver mesmo como reaplicar o protetor, eu indico logo um bloqueador de FPS 100 ou 110.” O FPS mais alto ajuda, pelo menos em parte (mas não totalmente), a compensar o fato de que raramente passamos a quantidade certa de produto e, também,de que parte do protetor sai com a transpiração.

No caso de um protetor com fator 30, recomenda-se aplicar uma colher de chá na área do rosto – a maioria das pessoas aplica cerca de um quarto da quantidade ideal de creme. “Não aplicar a quantidade correta diminui a proteção. Se as pessoas passassem o produto na quantidade ideal, a eficiência de um fator 30 não seria muito diferente de um 60”, afirma Rafael. Por isso, tente aplicar de meia a uma colher de chá de protetor em cada parte do corpo.

Protetor físico ou químico?

Os protetores solares podem ter filtros físicos ou químicos – os mais eficientes combinam os dois e protegem contra todos os espectros de raios solares. Os filtros físicos formam uma barreira protetora sobre a pele e são mais opacos – o que pode ser inconveniente por deixar a pele esbranquiçada, mas garante uma proteção mais eficiente, principalmente quando suamos muito. Já os filtros químicos reagem com a luz, transformando-a em energia menos nociva para a pele.A maioria dos filtros acima de FPS 60 contém filtros físicos na composição.

“Os rótulos informam se o protetor tem barreira física, que geralmente é à base de óxido de zinco e dióxido de titânio”, diz Luiz Terzian. A “cara branca” de surfista, com a boa e velha Minancora nos lábios e nas maçãs do rosto, é uma tradição com respaldo médico: a pomada tem dióxido de zinco e funciona como uma boa proteção complementar. Os protetores físicos mais modernos conseguem dar a mesma proteção, sem o efeito fantasmagórico.

De quanto em quanto tempo passar?

O ideal é passar o protetor solar meia hora antes da exposição, tempo necessário para ele se uniformizar na pele e os ativos do produto reagirem com ela. O ideal é reaplicar a cada duas ou, no máximo, três horas. Sabendo que numa prova ou mesmo num treino pode ser impossível reaplicar o produto, a estratégia é aumentar o FPS e usar barreiras físicas como roupas e chapéu.

Creme, gel ou loção?

Produtos em creme ou pomada são mais oleosos e adequados para quem tem pele seca ou normal. Quem tem pele oleosa deve procurar protetores em gel ou loção, à base de água. São produtos mais fluidos, que se espalham na pele com facilidade e incomodam menos com a transpiração. Os sprays são bastante indicados por serem fáceis de aplicar em partes do corpo complicadas de se alcançar como as costas, além de serem uma mão na roda na hora da reaplicação. “São ótimos pela praticidade: alguém aperta o spray e você continua na prova. Quando for possível, é melhor que não reaplicar nada”, diz Luiz. Porém as versões em creme “grudam” mais na pele e resistem mais ao suor.

São mesmo “à prova d’água”?

É consenso entre os dermatologistas: nenhum produto é totalmente à prova de água ou de suor. O que existe no mercado são produtos resistentes ou muito resistentes, que têm um “impermeabilizante” na fórmula que ajuda a reter os ativos do protetor na pele por mais tempo do que um produto sem essa característica. Protetores físicos tendem a ser mais resistentes que os químicos, assim como as formulações voltadas para esportes ou público infantil. Em linhas gerais, produtos “resistentes à água” são aqueles que continuam a oferecer certa proteção após 40 minutos dentro do mar ou rio. Já os “à prova d’água” aguentam até 80 minutos.

Que tal tomar uma “cápsula de proteção”?

Se você já consome antioxidantes para reduzir danos e melhorar a recuperação do corpo, está no caminho certo. Alguns deles, de quebra, também complementam a proteção solar. “As fórmulas antioxidantes, manipuladas ou industriais, ajudam a proteger o DNA da célula, que sofre com os danos da exposição solar”, diz Rafael Pessanha. A ideia por trás do uso desses antioxidantes para proteger a pele é que eles protegem o corpo contra radicais livres, moléculas que podem afetar o DNA das células e que há tempos estão associados a diversos tipos de câncer.

Porém os cientistas ainda não chegaram a um comum acordo sobre o quanto os antioxidantes dessas cápsulas são mesmo absorvidos pelo corpo. Os dermatologistas reforçam também que a proteção oral não substitui a tópica, aplicada diretamente na pele. “Essas cápsulas têm um efeito complementar ao do protetor solar e contribuem para a proteção da pele quando é difícil reaplicar o protetor”, diz o dermatologista. Os ativos podem ser consumidos continuamente, ou apenas no período que precede uma prova, por exemplo. “São necessários cerca de cinco dias a uma semana para começar a metabolizar e proteger a célula.”

Com que roupa eu vou?

Qualquer roupa já oferece alguma proteção contra o sol, se comparada com a exposição direta da pele aos raios. Mas nem todas as vestimentas protegem da mesma maneira: as de cores mais claras e as feitas de algodão são as que protegem menos, enquanto tecidos de poliéster e de cores mais escuras são mais eficientes contra os raios solares. A melhor opção são os tecidos tecnológicos com proteção solar, que têm aperfeiçoado essa barreira física, garantindo um grau de proteção maior. “O filtro solaré apenas uma etapa. Chapéu, óculos e roupas protetoras com FPS são bastante importantes também. A tecnologia dos tecidos funciona mesmo e é quase obrigatória para esportistas”, afirma Luiz. Esses tecidos possuem tramas mais fechadas, que impedem a passagem da radiação. Ou seja, a proteção não diminui com as lavagens(a não ser que o tecido esteja esgarçado), e mantém a função mesmo molhados.

E precisa usar protetor mesmo debaixo das roupas?

Depende do que você está vestindo e de quanto tempo ficará no sol. Como dito acima, as roupas de cores claras e de algodão protegem bem menos que as outras. Por isso, se você quiser dar um rolê rápido de bike com aquela sua camiseta branca de algodão, que deve ter apenas uns FPS 5, é bem recomendável usar protetor na pele antes de vesti-la. Em tempo: aplique o protetor pelo menos dez minutos antes de vestir a roupa, para sua pele absorver o produto. Agora se sua intenção é correr durante algumas horas numa montanha, opte por peças tecnológicas que tenham FPS de, no mínimo, 50.

Queimou, e agora?

Se mesmo com os cuidados básicos, a pele ficou vermelha ou ardida depois do treino ou da prova, é essencial cuidar bem dela para acelerar sua recuperação. Os dermatologistas recomendam banho sem sabonete, além de cremes e loções pós-sol com efeito calmante para aliviar os sintomas. “Cremes com corticóide ou antiinflamatório ajudam a aliviar o incômodo”, diz Rafael. Bons hidratantes antes e depois da exposição solar também são uma boa pedida. Se a proteção falhou, Luiz Tenzian recomenda rever o FPS escolhido.

E em dias nublados, preciso passar?

Em dias nublados, apesar de não haver sol direto, cerca de 80% da radiação atravessa as nuvens. A altitude também interfere na quantidade de radiação: a cada 305 metros acima do nível do mar, são mais 4% de incidência dos raios UV. Areia, neve e até o piso branco de um barco ou a espuma do mar também refletem a radiação. No caso da neve, ela pode refletir até 80% da radiação UV. Os raios UVA têm pouca variação durante o dia e são menos nocivos que os raios UVB, cujo pico acontece entre as 11h da manhã e as 2h da tarde, horários a evitar sempre que possível.

Quais áreas do corpo proteger?

As partes do corpo que mais merecem atenção são rosto, nuca, mãos e braços. Porém olhos e lábios não podem ser esquecidos. O ideal é usar protetor labial fator 30, ou pelo menos 15, e reaplicá-lo a cada duas horas. Chapéus e bonés ajudam a proteger o couro cabeludo, que fica intensamente exposto ao sol e sofre igual à pele do corpo. Óculos precisam ter proteção contra luz UV e contar com armações que contornem a face, para bloquear os raios periféricos. Algumas lentes de contato oferecem proteção complementar, mas não substituem o uso dos óculos escuros.

 Como ler o rótulo?

> FPS (Fator de Proteção Solar): Quanto maior o FPS, maior a proteção contra os raios UVB, que são aqueles que queimam sua pele. O que muita gente não sabe, porém, é que a proteção UVB não aumenta proporcionalmente à medida que o FPS aumenta – quando se passa do 50, praticam não há diferença entre os FPS. A grande diferença entre um e outro acontece entre o FPS 15, que bloqueia 93% dos raios UVB, e o FPS 50, que bloqueia 97%. O Fator de Proteção Solar (FPS) alto, que protege contra queimaduras, em geral não alivia a pele dos efeitos dos raios UVA, que não queimam, mas são considerados responsáveis pelo câncer de pele.

> Protetor solar x Bloqueador solar: Os bloqueadores, que oferecem proteção física, contêm partículas que impedem os raios UV de entrarem em contato com a pele, enquanto os protetores solares têm em sua fórmula componentes que absorvem os raios UV, degradando-os e tornando-os menos nocivos à pele.

> Amplo espectro:Um termo genérico que quer dizer que o produto protege tanto contra os raios UVA (responsáveis pelo envelhecimento da pele) quanto contra os raios UVB (responsáveis pelas queimaduras).

> Data de validade:Após o prazo indicado na embalagem, o produto não apenas vai perdendo sua eficácia como pode virar foco de bactérias. A maioria dos FPS dura dois anos a partir da data de fabricação. Por isso, é bom comprar sempre um novo a cada verão.

> Livre de PBA ou PBA Free: PBA é a sigla parao bisfenol-A, uma substância química usada na produção de plásticos e que pode se soltar aos poucos das embalagens e contaminar o conteúdo. Essa substância pode causar danos à saúde.

> Oxybenzone: Evite produtos que contenham esse componente, muito comum em protetores de amplo espectro. Ele pode irritar a pele, e há estudos que apontam que o oxybenzone aumenta as chances de câncer.