Sete anos, 52 países: a volta ao mundo de dois irmãos em um veleiro

Por Redação

O polivalente veleiro Katoosh durante sua travessia. Foto: Arquivo Pessoal.

A aventura dos irmãos brasileiros Celso Pereira Neto e Lucas Faraco, que começou com recursos apenas para os três primeiros meses, termina com um novo olhar sobre o mundo

Depois de sete anos navegando pelos quatro cantos do planeta, os irmãos Neto e Lucas finalmente atracaram em solo brasileiro com o veleiro Katoosh, que os levou para a maior aventura de suas vidas.

Movidos pelo propósito de viver com intensidade, explorar culturas e compartilhar tudo com sua comunidade, eles desembarcaram na última sexta-feira (17) no Saco da Ribeira, em Ubatuba (SP) — mesmo local de onde partiram, em 2018, a bordo do veleiro.

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Mais do que velejar, a volta ao mundo sempre teve como objetivo mergulhar nas histórias e modos de vida de cada lugar visitado, criando uma conexão real com pessoas, culturas e paisagens. Após esses sete anos, os irmãos afirmam que hoje entendem profundamente o valor da resiliência, da parceria e da confiança.

“Passar anos navegando, muitas vezes em isolamento ou em situações extremas, nos forçou a lidar com nossos limites e a fortalecê-los. A viagem moldou nosso caráter, quem somos, reforçou nosso vínculo como irmãos e mostrou que a liberdade vem com muita responsabilidade”, reflete Neto, de 32 anos.

Criados a bordo do próprio Katoosh, onde passaram os primeiros anos de vida, Neto e Lucas cresceram embalados pelo sonho dos pais de desbravar o mundo pelo mar. “A volta ao mundo era o sonho deles. A gente cresceu com essa ideia, e quando vimos, ela já era nossa também”, conta Lucas, 29. “Zarpamos com recursos suficientes para três meses, mas com a certeza de que a aventura valeria cada desafio”, completa.

A expedição, que passou por 52 países, tinha como roteiro inicial uma jornada de três anos, mas a Covid-19 fez com que eles ficassem isolados na Polinésia Francesa. “Tivemos que mudar os planos e ficar em um só lugar pelo tempo que seria a viagem completa. Depois do período de isolamento total, velejamos por todas as ilhas durante três anos, sem turistas ou qualquer outra pessoa. A pandemia não mudou os nossos planos, mas definitivamente os atrasou, sem reclamações”, conta Neto.

Foi ali também que viveram um dos momentos mais desafiadores da jornada, quando colidiram com uma baleia. “O acidente quebrou o leme do veleiro e ficamos à deriva por três dias até chegarmos em uma ilha para ancorar e fazer os reparos”, lembra Lucas.

Os irmãos Neto e Lucas começaram a aventura com recursos apenas para os três primeiro meses. Foto: Arquivo Pessoal.

Apesar do susto, a Polinésia Francesa ficou marcada pela beleza das ilhas. “É um lugar surreal. Pra gente, foi o ponto mais deslumbrante da rota”, conta Neto. Ainda assim, foram os destinos mais remotos que, segundo eles, deixaram marcas mais profundas.

Em Papua Nova Guiné, por exemplo, desembarcaram em uma ilha tão isolada que, segundo os moradores, o último contato com o mundo exterior havia sido, anos antes, com outro veleiro. “Eles viviam de forma totalmente primitiva, sem eletricidade, mas com uma alegria e generosidade imensa. Foi uma troca linda”, lembram.

A rotina ao longo dos sete anos variava entre turnos de navegação durante travessias e períodos ancorados com manutenção do barco e exploração local. No início, os recursos eram escassos – viviam com o básico.

“Os primeiros quatro anos foram bem difíceis financeiramente. Só no último ano conseguimos ter uma estabilidade maior”, explica Neto. A sustentação veio da criação de conteúdo nas redes sociais, do apoio da comunidade via financiamento coletivo, e de uma loja virtual.

O Katoosh passou por um grande perrengue na Polinésia. Foto: Arquivo Pessoal.

Hoje, o Katoosh se firmou como um dos maiores projetos de navegação do mundo nas redes: o canal no YouTube ultrapassou 500 mil inscritos, e o Instagram já soma mais de 1 milhão de seguidores.

O alcance atraiu a parceria de grandes marcas. Além disso, contam com o apoio constante de mais de 2 mil pessoas por meio de financiamento coletivo. Com estrutura profissional, equipe de seis pessoas e uma atuação em múltiplas frentes, o projeto vive uma nova fase — mais madura, sustentável e ambiciosa.

O retorno ao Brasil veio carregado de emoções. Neto contou que, desde a partida, sonhava com o momento da chegada, mas admite sentir uma certa nostalgia ao perceber que esse capítulo está encerrado. Lucas, por sua vez, reflete sobre a inquietação que costuma surgir após a realização de um grande sonho. “Vi uma frase que dizia que existem dois tipos de pessoas frustradas: as que nunca realizaram seus sonhos e as que já realizaram. Isso faz a gente pensar: e agora? Por isso, já estamos com novos projetos em andamento”, finaliza o navegador.