Vivemos em uma era em que os avanços da medicina e da ciência nos levam a imaginar um futuro em que viver mais de 100 anos será algo comum. Com as descobertas recentes, a ideia de ultrapassar os 120 anos de vida já não parece tão distante. No entanto, diante desse cenário promissor, uma pergunta inevitável surge: estamos, de fato, preparados para viver tanto tempo? Mais do que estender os anos de vida, o verdadeiro desafio é garantir que essa jornada seja plena, com saúde, lucidez e qualidade de vida.
Será que faz sentido pensarmos em longevidade se ainda não conseguimos lidar com os problemas básicos do presente? Em um mundo onde doenças crônicas, sedentarismo, má alimentação e estresse fazem parte da rotina de grande parte da população, o que estamos realmente construindo para o nosso futuro? Não basta viver mais. Precisamos viver melhor. E essa mudança começa agora, com escolhas conscientes e um olhar atento para a saúde que queremos cultivar a longo prazo.
Veja também
+ Drone filma escalada ininterrupta do Everest e resultado é fascinante
+ A técnica de respiração que pode aumentar a sua temperatura corporal e evitar uma hipotermia
+ Tour de France 2025: onde assistir
Um estudo publicado na revista científica Nature Reviews Genetics destaca a importância da epigenética no processo de envelhecimento e na prevenção de doenças. A epigenética, que estuda as mudanças na expressão dos genes sem alterar a sequência do DNA, mostra como fatores como alimentação, atividade física, sono e estresse influenciam diretamente nossa saúde e longevidade. Em outras palavras, não somos reféns da nossa genética – temos um papel ativo na forma como envelhecemos.
Essa nova perspectiva traz uma dose de esperança e, ao mesmo tempo, responsabilidade. Se podemos interferir positivamente no funcionamento do nosso organismo, por que não começar hoje? A epigenética nos ensina que hábitos saudáveis não apenas previnem doenças, mas também podem silenciar genes que predispõem a enfermidades como o câncer, Alzheimer e doenças cardiovasculares. A chave está nas pequenas atitudes diárias que acumulam grandes impactos ao longo do tempo.
A boa notícia é que nunca é tarde para começar. Adotar uma alimentação anti-inflamatória, praticar exercícios regularmente, manter conexões sociais saudáveis e cultivar o autoconhecimento são práticas acessíveis que reverberam no nosso corpo e mente. A ciência já provou: o envelhecimento saudável é possível e está, em grande parte, sob nosso controle.
Trabalhar até quando? O impacto da longevidade no mercado de trabalho
Vivemos mais. Mas como isso afeta o modo como trabalhamos, nos aposentamos e, principalmente, como cuidamos da saúde durante a vida profissional? Estamos preparados para carreiras que se estendam por 60 ou 70 anos?
De que adianta conquistar mais décadas de vida se os ambientes corporativos continuam adoecendo seus profissionais? Burnout, ansiedade e distúrbios osteomusculares já são líderes nas causas de afastamento. Segundo dados do INSS, só em 2023, mais de 288 mil pessoas foram afastadas por transtornos mentais relacionados ao trabalho no Brasil. Estamos empurrando o limite do corpo e da mente enquanto ignoramos o que de fato nos sustenta: o equilíbrio.
A longevidade profissional exige uma nova mentalidade. Precisamos rever a cultura do excesso e da hiperprodutividade, incentivando pausas, autocuidado e uma gestão mais humana. As empresas que abraçam esse olhar saem na frente, pois entendem que saúde e performance caminham juntas. Estimular hábitos saudáveis no ambiente de trabalho, oferecer suporte psicológico e promover educação continuada são pilares fundamentais para manter talentos ativos e saudáveis por mais tempo.
Além disso, o planejamento de carreira e vida passa a ser essencial. Profissionais que se preparam desde cedo para uma trajetória mais longa tendem a ter mais saúde, satisfação e propósito. Essa transformação, porém, não pode ser responsabilidade apenas do indivíduo. As empresas têm um papel estratégico nesse processo, criando culturas organizacionais que acolhem, cuidam e preparam seus times para uma vida mais longa — e melhor.
Concluímos, então, que o grande desafio do futuro não será viver até os 120 anos, mas viver bem até lá. A longevidade deve ser encarada como um projeto de vida e não como uma consequência do acaso. A ciência nos oferece caminhos, mas cabe a nós escolher seguir por eles com consciência, estratégia e, sobretudo, humanidade.
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. Na Go Outside fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial.