De um lado a mata do cerrado com as suas conhecidas árvores tortas, do outro, a floresta amazônica com sua vegetação inundada, cheias de nós dos cipós. Assim começa a aventura que é conhecer o Parque Estadual do Cantão (TO), com quase 90 mil hectares preservados na bacia do Rio Araguaia, no “coração” do Brasil.
O ponto de partida para explorar o parque, polo de ecoturismo na região, é a cidade de Caseara, município de quase 5 mil habitantes, às margens do Rios Araguaia e Coco, distante cerca de 230 km de Palmas, a capital do Tocantins. A partir de lá, os únicos meios de locomoção do turista são as embarcações: voadeiras, canoas indígenas e caiaques, que percorrem as caudalosas águas do Cantão e adentram um cenário paradisíaco composto por mais de 830 lagoas e braços de rios.
Neste ponto começa a trilha aquática, um passeio navegável pelos igapós – floresta que fica inundada de dezembro a março, período das cheias na região. Os rios sobem em média 10 metros e as embarcações navegam próximas ao topo das árvores, uma experiência onde o visitante tem a oportunidade de contemplar a beleza dos pássaros, ouvir os sons da mata e ver os varjões – espécie de pradarias de vegetação flutuante, que abrigam grande diversidade florística e acolhem para reprodução as famosas ciganas, lindos pássaros que vivem no Cantão.
Em mais de duas horas navegando, quem visita o Parque Estadual do Cantão conhece alguns lagos que são como berçários do Araguaia e locais para reprodução de muitas espécies de peixes, dentre eles o pirarucu, típico da região amazônica e um dos maiores peixes de água doce do planeta. O caminho é todo entrecortado por trilhas aquáticas, lagos, braços de rios e varjões. Na paisagem, o turista avista alguns torrões – pedaços de terras não inundadas onde vivem os torrõezeiros, ribeirinhos que habitavam o Parque Estadual do Cantão antes do seu tombamento como Área de Preservação Ambiental (Apa), em 1998.
Em um desses torrões, o viajante tem a oportunidade de experimentar um pernoite na floresta e de conhecer o “Seu Levi”, torrãozeiro que recebe pessoas de todo o Brasil e do mundo na sua casa à margem do rio Coco, onde vive há mais de 30 anos. Em seu “quintal”, gatos, cachorros e galinhas vivem harmoniosamente cercados por jacarés. No escuro da noite, iluminada por uma lamparina, o turista saboreia uma comida caseira feita no fogão à lenha e ouve as histórias dos ribeirinhos sob a luz das estrelas e com os sons dos animais da mata.
A unidade conta com trilhas terrestres para visitação, dentre elas a trilha que leva à Cabana, construção erguida às margens do rio e que serviu de locação para o filme Xingu. Após a caminhada, ao pôr do sol, o píer é base de contemplação do boto do Araguaia, que exibe seu nado acrobático nas calmas águas do rio Coco no dourado do sol poente. Jacarés, tartarugas e ariranhas costumam se juntar ao boto, para a alegria dos turistas.
Todo esse ecossistema é preservado e é considerado uma das áreas mais importantes da amazônia brasileira, abrigando um berçário de reprodução natural e de riqueza biológica. A viagem é realizada com o acompanhamento de um guia de turismo local. Os barqueiros também são todos nativos da região e conhecedores das belezas naturais do Cantão e do fluxo das águas dos rios que cortam a paisagem.
O tour termina no porto do Horácio, na cidade de Caseara, sem souvenir, sem espaço para compras de lembranças – a experiência e o visual deslumbrante são mais do que suficientes.
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Mais informações sobre visitas ao Parque Estadual do Cantão podem ser encontradas aqui e aqui.