Viajar para destinos que têm zonas de conflito exige muitos cuidados. Experimente falar “Boa tarde, gostaria de tirar um visto para o Iraque” para alguém da Embaixada do Iraque em Brasília. Você pode ouvir algo como: “Olha, não é possível, mas se você for louco para querer ir até lá, mande um pedido que encaminhamos para o Ministério das Relações Exteriores. Saiba que a responsabilidade é toda sua. Quem vai, raramente volta.”
Esse diálogo nada animador inaugurou nossa investigação sobre os lugares mais belos e perigosos do mundo. A resposta, sem meias palavras, fez este repórter relembrar a sensação que o acometeu quando, em meio a um giro pela Europa, na década de 1990, teve a brilhante ideia de alcançar o Marrocos a partir do sul da Itália, atravessando a Tunísia e a Argélia por terra.
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O projeto foi abortado na Sicília, diante de uma advertência nada auspiciosa proferida por um anjo anônimo, que bradou: “Você vai morrer!”. Na época, a Argélia passava por uma sangrenta guerra civil e os estrangeiros, especialmente jornalistas, corriam o sério risco de serem degolados.
Hoje, a Argélia aos poucos se abre para o turismo. Há até uma estação de esqui em funcionamento – uma prova de que o tempo passa, o mundo dá voltas e tudo se transforma. Assim, não ficamos tão descrentes dos paraísos que ficam em destinos com zonas de conflito.
Antes de encarar um país em guerra, primeiramente é preciso obter informações precisas sobre o lugar. Leitura indispensável é o Guia “The World’s Most Dangerous Places”, do norte-americano Robert Pelton, um dos maiores especialistas mundiais em zonas de conflito, que conta com a colaboração de correspondentes de guerra.
O trabalho de Pelton é louvável, informando o leitor sobre a situação política dos países tratados e fornecendo dicas práticas de como se virar em grandes roubadas. O único ponto negativo é não ter nada mencionado sobre as atrações turísticas de cada local.
Veja algumas dicas de Pelton para viajar para destinos que têm zonas de conflito:
• Contate pessoas que voltaram ou estão frequentemente na zona de conflito em questão. Não confie em representantes dos rebeldes ou do governo local;
• Evite conversas sobre política, não desafie a crença de seu anfitrião, seja firme, mas não beligerante;
• Viaje somente com autorização do grupo que controla aquela área. Em muitos casos, são necessárias diversas autorizações. Lembre-se que uma carta de passagem livre emitido por determinado grupo apresentado num posto de controle de outro grupo pode ser sua sentença de morte;
• Lembre-se que é incomum ver não-combatentes vagando por zonas de guerra. Tenha sempre em mãos o nome da pessoa que deseja ver, seu destino final e saiba dizer claramente a razão da viagem;
• Leve bastante dinheiro escondido em vários lugares, viabilizando uma fuga a qualquer momento;
• Leve um kit de primeiros socorros;
• Aprenda os efeitos, alcance e consequências de armas de fogo, minas terrestres, morteiros e outras máquinas de guerra.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2007)