Quando pipocou a notícia de que haveria uma prova da UTMB World Series (o maior circuito de corridas de montanha do mundo) no Brasil, a comunidade do trail run se alvoroçou e uma grande expectativa foi gerada para essa primeira edição. Eu estava no meio dessa turma emocionada. Fiz meu pré-cadastro e aguardei ansiosa pela abertura das inscrições.

A princípio, a escolha do local para realizar a primeira UTMB em terras tupiniquins foi bastante comentada. Afinal, por que Paraty? A resposta para isso na verdade é bem simples: precisava ser uma região com boa infraestrutura e capacidade de recepcionar um grande fluxo de pessoas.

Tamiris Monteiro durante sua participação na primeira edição da UTMB Brasil. Foto: Arquivo Pessoal.
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Depois de fazer a prova, ouso dizer que a escolha foi acertada, levando em consideração que Paraty traz em seu currículo importantes aspectos históricos, naturais e culturais; além de ser facilmente acessada por quem transita pelo eixo Rio-São Paulo-Minas.

Aos fins de semana, feriados e durante a semana da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), Paraty é uma cidade cheia, mas quando pisei no centro, no primeiro dia do evento, deu para notar que dessa vez a aglomeração estava diferente. Turistas com roupas leves e praianas transformaram-se em turistas de bermudas, camisetas e tênis de corrida.

Expo de respeito

A área para expositores – com 2.000m² – reuniu mais de 20 marcas, deu espaço para outros organizadores de provas trail divulgarem seus eventos e agradou o público com ativações como tirolesa e stand específico para o público feminino, como do coletivo feminino Trail Girls, que recepcionou mulheres para a escuta de demandas dentro do esporte e ofereceu mimos, como o serviço de trancistas.

Largada emocionante

O pórtico, montado no centro histórico, ganhou destaque entre os casarões coloniais e a Igreja Matriz. A maior distância, de 107 km, chamada de UTSB, teve largada na sexta-feira (22) à noite, com mais de 300 atletas, e foi emocionante.

Os participantes, todos alinhados, aguardaram até às 22 horas, com as lanternas acessas e embalados ao som “Conquest of Paradise”, canção do compositor grego Vangelis, que já é tradicional da UTMB Chamonix.

Largada noturna da UTSB teve muita festa ao som de “Conquest of Paradise. Foto: Divulgação.
Largada diurna manteve a mesma atmosfera. Foto: Arquivo Pessoal Tamiris Monteiro.

Muitas primeiras vezes nasceram nessa largada: a primeira vez da UTMB no Brasil; a primeira vez de atletas brasileiros dentro de uma prova tão icônica; a primeira vez que muitas pessoas saíram na rua para celebrar a corrida de montanha; a primeira vez que o sino da Igreja Matriz ganhou a companhia de outros pequenos, porém significativos, sinos.

No dia seguinte, as largadas das outras distâncias mantiveram a atmosfera, com público presente desde às 5 horas na arena, mais Conquest of Paradise e palmas que ecoavam pelas ruas de pedra. A largada dos 50 km parecia um mar de gente, com quase 800 corredores. Nos 35 km, minha distância, foram quase 700 participantes. Nos 23 km, o número passou de mil e surpreendeu.

Percurso

Cada região tem sua particularidade e a UTMB Paraty Brazil se esforçou para mostrar ao público partes da Serra da Bocaina e trechos de trilhas históricas, que serviram como caminho para o escoamento do ouro de Minas Gerais, durante o período do Brasil colonial, além de trechos preservados de Mata Atlântica.

Talvez as distâncias menores não tenham atingido a expectativa de alguns corredores em relação ao percurso, mas o saldo total do evento foi bastante positivo, com mais elogios do que pontos a serem melhorados.

Gringos e a elite

A competição atraiu corredores de 29 nacionalidades e a maior comunidade estrangeira foi a dos “hermanos” argentinos, com 250 representantes. Inclusive, os três primeiros campeões masculinos dos 50 km foram atletas de outros países: Chile e Argentina.

Ver a elite brasileira reunida entre nós, meros mortais, foi outro ponto relevante para quem esteve no evento. Andando pela arena vi e pude bater papo com corredoras que me inspiram como Letícia Saltori, Fernanda Maciel e Giovanna Martins.

Tamiris relata encontro com ídolos na UTMB. Foto: Arquivo Pessoal.

Do lado dos meninos, Rogério Silvestrin, Miragaia, Celinho, César Picini e tantos outros nomes notáveis.

Os “gringos” dominaram a categoria 50 km masculino. Foto: Divulgação.
Mais participações femininas do que edições da Europa

Outro destaque do Paraty Brazil by UTMB foi a participação feminina. Com mais de 37% das inscrições sendo mulheres, o evento ficou marcado por ter uma das maiores proporções de participação feminina entre todas as provas da UTMB World Series.

UTMB Brasil deixa legado para UTMB Global

A cultura caiçara também é uma parte importante da identidade de Paraty. Os caiçaras são descendentes dos primeiros habitantes da região e preservam tradições e conhecimentos ancestrais. Eles têm uma forte conexão com o mar e com a natureza, e isso se reflete em suas práticas de pesca, artesanato e culinária.

Giovanna Martins foi a grande campeã da UTSB Feminino. Foto: Divulgação.
Rogério Silvestrin venceu entre os homens e garantiu sua vaga na final mundial da UTMB em Chamonix. Foto: Divulgação.

Para a UTMB, desde a idealização do circuito no Brasil, em 2019, sempre houve o desejo de ter a comunidade de Paraty diretamente envolvida com o evento. Desse sentimento nasceu o projeto “Um Caiçara em Chamonix”, em que seis atletas nascidos e criados na cidade receberam apoio da organização para correr a prova e o atleta com o melhor resultado em sua distância e gênero garantiu uma vaga em Chamonix 2024 com tudo pago.

A iniciativa foi muito bem vista pela UTMB Global e a ação passará a fazer parte das diretrizes sociais da marca.

Para finalizar e aguçar o imaginário dos apaixonados por trail para o evento de 2024, deixo registrado que ouvi rumores da possibilidade de 80 km e 120 km para o próximo ano.

*Tamiris Monteiro é jornalista, corredora e criadora da página Trail Girls Oficial.







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