Sempre pensamos que o envelhecimento tem a ver somente quando já “chegamos lá”, em idades bem avançadas. Será? Do meu ponto de vista, como especialista, de nada adianta falar todos os dias sobre longevidade, bons hábitos e qualidade de vida se não olharmos para nossas crianças e adolescentes, cujos hábitos alimentares e inatividade têm se agravado ao longo dos últimos anos.
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) constatou que uma a cada 10 crianças no Brasil está acima do peso, e oito costumam ingerir alimentos ultraprocessados, cujo teor nutritivo é baixo e com maior concentração de farinhas, açúcares e outras substâncias.
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Os dados foram colhidos em 2019, numa pesquisa nacional com cerca de 15 mil meninos e meninas de mais de 12 mil domicílios de todas as regiões do país. Para se ter uma ideia, o último índice sobre o excesso de peso na infância, de 2006, apontava que 6% da faixa mais nova da população se encontrava nessa situação — número que pulou para 10%.
O que antes era um fenômeno concentrado na população adulta, agora também passa a acometer as crianças: obesidade.
Um dado interessante é que o estudo identificou uma prevalência maior excesso de peso entre as crianças menores, de até 23 meses de idade, com 23% delas acima do peso. Os menores de 24 a 35 meses estão em segundo lugar (20,4%), seguidos pelos de 36 a 47 meses (15,8%) e 48 a 59 meses (14,7%). Isso aponta para uma perspectiva de piora no futuro.
De acordo com o Estudo NutriNet Brasil, um trabalho feito pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), e que contou com 10 mil voluntários, houve elevação na frequência do consumo de pelo menos um grupo de alimentos ultraprocessados (de 77,9% para 79,6%) e de cinco ou mais grupos desses alimentos (de 8,8% para 10,9%).
São alimentos como biscoitos e pães industrializados, salgadinhos de pacote e refrigerantes. Esses produtos têm adição de ingredientes como açúcares, gordura hidrogenada, corantes artificiais, emulsificantes e aromatizantes.
Muitos estudos científicos associam esses alimentos a problemas de saúde como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, asma em crianças e adolescentes, cólon irritável e depressão.
Para evitar a obesidade infantil, assim como o fato da criança se tornar um adulto com excesso de peso, os pais são responsáveis por contribuir para que seus filhos tenham alimentação adequada e saudável.
Os hábitos alimentares devem ser formados ainda na barriga da mãe, estendendo-se para os primeiros anos de vida, e seguindo por todo seu período de crescimento. Outras formas de evitar o problema são:
– Evitar precocemente alimentos sem suporte nutricional, como açúcares;
– Estimular a prática física desde cedo, para que sejam realizadas com prazer;
– Estimular hábitos saudáveis à mesa, sem a utilização de eletrônicos;
– Respeitar a saciedade da criança;
– Estimular um tempo maior para a refeição;
– Evitar o excesso de líquidos no momento da refeição, principalmente livres de suporte nutricional;
– Evitar consumo excessivo de alimentos como frituras, bebidas calóricas, processados e mais.
Além de bons hábitos alimentares e o estímulo de práticas físicas, as consultas de rotina e exames preventivos também são fundamentais na vida da criança. Por isso, é muito importante mantê-las, contribuindo para o crescimento saudável e desenvolvimento adequado da criança e adolescente.
Tratar o tema com estratégica nos poupará desgastes e nos trará mais tempo de vida de qualidade. Vamos embarcar nessa jornada?
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, mestre em fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), palestrante e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde in company em grandes empresas por todo o país há mais de 15 anos. Na Go Outside fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Instagram: @biancavilelaoficial.