Vales são áreas, em geral de baixa altitude, cercadas por montanhas ou colinas, e onde costumam correr rios. O Brasil conta com uma lista de lindas regiões com essas características. De norte a sul do país, pesquisamos cinco trekkings inesquecíveis, em que os vales garantem dias tranquilos mato adentro, com direito a cachoeiras, paisagens deslumbrantes e dedos de boa prosa em vilarejos charmosos.

Trekking no Vale do Pati (Bahia)

Encravado no Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, o extenso e profundo vale do Pati é apontado por muitos como um dos trekkings mais bonitos do Brasil. Ali, há várias opções de roteiro, partindo do vale do Capão, Guiné e Andaraí. Quase todos os roteiros pedem um guia que conheça bem a região. Mas muitos grupos também se formam em Lençóis, a 420 quilômetros de Salvador. Além de ser a cidade com a melhor infraestrutura, é nela que se concentram as agências de turismo. 

Recomenda-se, no mínimo, três dias para trilhar os caminhos entre montanhas e possa desfrutar, com calma, de banhos de cachoeira. O grau de dificuldade é médio, com algumas subidas íngremes, sempre recompensadas por visuais inesquecíveis, como os campos de Gerais do Vieira e Gerais do Rio Preto, que estão a 1.350 metros de altitude.

0tros cartões-postais são as cachoeiras das Bananeiras, do Funis e do Lajeado, o morro do Castelo e a travessia na gruta do Castelo, de onde se tem uma visão panorâmica do Pati. Alguns dos roteiros também passam pelo famoso Cachoeirão, uma das experiências mais lindas do vale. Ali, é possível avistar mais de 20 quedas livres de até 300 metros de altura.

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Trekking no Vale do Rio Preto (Goiás)

É no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a 230 quilômetros de Brasília, que fica este precioso vale. O trekking na chapada impressiona pela fauna e flora riquíssimas e pela abundância de água. São diversas nascentes puras e cristalinas, cachoeiras, poços, minas de cristais e belíssimas paisagens com cânions rochosos em meio a uma trilha histórica. Apesar do trajeto curto, de apenas 25 quilômetros, a travessia do vale do Rio Preto é considerada difícil e recomenda-se dois dias para percorrê-la, de preferência com um guia profissional.

São 13 quilômetros na trilha dos cânions e mais 12 quilômetros na dos saltos. Uma sucessão de belezas naturais no cerrado goiano. Entre as atrações do primeiro dia, estão os cânions I e II. São paredes gigantes de quartzito, e várias piscinas naturais, que proporcionam banhos refrescantes. Aos mais aventureiros, há a chance de experimentar um pouco de psicobloc (escalada em paredões próximos à água).

Não deixe de ver a cachoeira dos Cariocas, de onde o Rio Preto despenca de uma altura de 30 metros. O pernoite é na vila de São Jorge, povoado de gente simples e hospitaleira, que fica na entrada do parque. Já o segundo dia é reservado aos saltos do Rio Preto. Após12 quilômetros de caminhada, avista-se uma queda imponente de 120 metros, depois outra de 80 metros. Reserve um tempo para um banho nas hidromassagens naturais da cachoeira das Pedreiras.

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Trekking no Vale dos Cristais (Monte Roraima)

O Monte Roraima é o oitavo maior pico brasileiro (2.875 metros de altitude) e, certamente, um dos mais exóticos. Esse Patrimônio Histórico da Humanidade, que marca a fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, guarda alguns belos segredos como o vale dos Cristais, ponto alto da trilha.

O monte fica no parque nacional de mesmo nome, cuja porta de entrada se dá pela cidade de Pacaraima, em Roraima, a 200 quilômetros de Boa Vista. De lá saem expedições que podem durar até sete dias. O trekking é considerado difícil, e um bom condicionamento físico se faz necessário.

A aventura já começa ao atravessar a fronteira para a Venezuela, carimbar o passaporte em Santa Elena de Uairén e, finalmente, embarcar num jipe 4×4 até a aldeia de Paraitepuy, marco inicial da trilha. A caminhada é longa (são 29 quilômetros até o topo). Já no primeiro dia andam-se 16 quilômetros, com apenas uma subida extenuante. Ao final da primeira etapa da jornada, mais um presente: um belo banho nas águas do rio Tek, seguido de uma noite numa comunidade indígena.

Depois de um reforçado café da manhã, são mais nove quilômetros no segundo dia. A caminhada termina aos pés da montanha, no acampamento-base, de onde se tem uma das vistas mais bonitas do lugar. Ali, a ordem é descansar e guardar energias para, finalmente, alcançar o cume. A “reta” final é, na verdade, um paredão gigante, mas chegar lá em cima, ver tudo do alto e curtir a sensação de dever cumprido são, de fato, a melhor parte da aventura. No platô, vive-se um dos momentos mais marcantes e especiais: o vale dos Cristais. Imagine a sensação de se estar num vale e pisar sobre uma infinidade de cristais de quartzo branco encravados nas pedras. A abundância e o brilho impressionam. São diversos tipos, tamanhos e formatos, que enchem os olhos e o coração.

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Trekking no Vale do Rio Preto, Parque Nacional das Sempre-Vivas (Minas Gerais)

Lugar quase intocado e ainda pouco explorado, este vale é repleto de paisagens dramáticas da serra do Espinhaço e de muita água, que juntas proporcionam cenários incríveis. O Rio Preto fica entre os municípios mineiros de Diamantina e Buenópolis. Quase todos os trekkings por lá começam no pequenino e hospitaleiro vilarejo de Macacos. Para se chegar até a comunidade, o ideal é fretar um carro com motorista em Diamantina. O ônibus só vai até o distrito de São João da Chapada, distante 22 km do início da caminhada.

Logo nos primeiros quilômetros já começa o verdadeiro desafio: a trilha em si. Falta de sinalização, nenhuma ponte e muito carrasco, nome local da vegetação espinhenta que cresce em meio às rochas, aguardam os mais corajosos. Mas não demora para que o passeio comece a valer a pena. Logo se avista o conjunto de formações rochosas da serra do Galho, que atinge mais de 1.500 metros de altitude. O primeiro pernoite, em acampamento, é feito nas proximidades do Ranchão do Rio Preto, em direção a Diamantina.

O segundo trecho é bastante remoto, daí a importância de se estar com alguém que realmente domine o trajeto. A serra do Rio Preto segue o vale e se estende até uma área alta e plana, os campos da Santa Rita, onde é montado o segundo acampamento. Próximo à comunidade está a cachoeira de Santa Rita, uma das mais bonitas.

Nesse ponto podem ficar aqueles que não quiserem percorrer a parte mais difícil da trilha. Existem estradas para veículos 4×4 que dão acesso à Diamantina e às cidades de Augusto de Lima e Buenópolis. De Santa Rita em diante, o vale do Rio Preto forma um cânion. A melhor alternativa é descer pela estrada jipeira da serra de Minas. Apesar de se distanciar do Rio Preto em alguns momentos, atravessa campos e veredas de extrema beleza.

Tente incluir em seu roteiro um mergulho no poço da cachoeira do Brejinho, no próprio Rio Preto. Não deixe de conhecer as comunidades turísticas da região: a Vila de Águas de Santa Bárbara ou o Arraial de Curimataí.

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Trekking no Vale do Cânion Josafaz (Rio Grande do Sul)

Uma das mais belas regiões para trekking no sul do Brasil é Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, onde estão localizados dois parques nacionais. São muitas as atrações em ambos, especialmente a grande quantidade de cânions. Ainda em Aparados, fora da área dos parques, está o maior deles, o cânion Josafaz, com 16 quilômetros de extensão. Nessa travessia de 31 quilômetros, o visitante depara com um visual ímpar, com campos de altitude, matas de araucária, morros e arroios (pequenos rios).

Sem um guia que conheça bem a região, fica quase impossível não se perder, uma vez que a trilha não é demarcada e não há sinalização. Há várias agências locais que oferecem esse roteiro. Tudo começa a 74 quilômetros da cidade de Cambará do Sul (a 190 quilômetros de Porto Alegre). São duas horas de deslocamento até a antiga comunidade de Josafaz, marco zero da trilha. Para ver tudo em tempo hábil, recomenda-se dividir a caminhada em três etapas. O trecho mais complicado do trekking, de grau de dificuldade médio, é a descida pela encosta do cânion. Além de íngreme, possui mata bastante fechada. Os pernoites são feitos em acampamentos, ao longo do trajeto.

Para finalizar, caminha-se na trilha de São Roque. Você vai passar pela encosta do cânion, até a saída, que se dá pela pequena comunidade de mesmo nome.