Só de imaginar já cansa: o Tour de France, a prova de ciclismo mais famosa do mundo, soma 3.550 quilômetros. O percurso, que literalmente contorna a França, é dividido em 20 estágios, dos quais sete são etapas perrengues que sobem os Alpes e os Pirineus, e que deixam os melhores atletas do mundo vesgos de cansaço.

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Para você não se morder de inveja dos reis da montanha europeus, selecionamos oito subidas pauleiras no Brasil, que farão você sofrer, gemer, suar, reclamar, xingar…e depois fazer a dança da vitória no topo de cada morro.

1. Tudo que sobe, desce

Estrada da Petrobrás

Percurso total: 74 km (até Caraguatatuba) ou 85 km (até São Sebastião)

Subida acumulada: 1.858 metros

Desnível total: 450 metros

A trilha sai de Salesópólis (SP) e termina no litoral norte de São Paulo, em Caraguatatuba ou São Sebastião. Boa parte do caminho (inteirinho por terra) acompanha um rio de águas translúcidas, inclusive com excelentes pontos para um tibum na água fria, boa para as cãibras. Embora o destino final seja o mar, há muita ladeira antes do biker molhar os pés na água salgada: são 1.858 metros de subida acumulados em 450 metros de desnível. Se decidir ir até São Sebastião, prepare-se para uma sensacional vista da praia de Maresias quando estiver no topo da serra. Mas não pense que para baixo todo santo ajuda. A descida é tão abrupta, inclinada e longa, que braços e dedos pedirão arrego. Um roteiro só para os mountain bikers valentões (ou valentonas).

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2. Do inferno ao paraíso

Itajubá (MG) a Campos do Jordão (SP)

Percurso total: 60 km

Subida acumulada: 1.367 metros

Desnível total: 900 metros

Pedalada por uma região conhecida como “a Suíça brasileira”. Por quê? Do que mais você se lembra quando pensa na Suíça, além dos queijos e bancos sem leis? Montanhas! O percurso brasileiro tem quase 60 km, 900 metros de desnível, 1.367 metros de subida acumulada, 75% em estrada de terra e praticamente nenhuma sombra. Mas você conhece a história da cenoura amarrada na vara de pescar, balançando na frente do cavalo que puxa a carroça? Pois bem, você só segue barranco acima porque deseja as mordomias que Campos do Jordão oferece: hotéis e pousadas de luxo, restaurantes, bares, lojas, banheiras de hidromassagem, refeições principescas, camas com lençóis egípcios, chocolates e por aí vai. Mas antes de alcançar o paraíso, não deixe passar em branco uma das melhores surpresas do caminho, a represa de São Bernardo, na divisa de Minas Gerais com São Paulo: uma pequena usina hidrelétrica dos tempos do lampião a gás.

3. Ai que dor

Joanópolis (SP) a Monte Verde (MG)

Percurso total: 42 km

Subida acumulada: 1.118 metros

Desnível total: 700 metros

Diz a publicidade local que Joanópolis (SP) é a “pérola da Mantiqueira” e a cidade vizinha, Monte Verde (MG), um “brinco”. Talvez seja por isso que a dor que sentimos ao subir a montanha que liga os municípios seja equivalente a furar a orelha com um prego para depois usar um brinco de pérolas. São 700 metros de desnível, 1.118 metros de subidas acumuladas e quase 42 km em estradas de terra. É comum passar um carro lotado de turistas gordinhos rindo da sua cara (mas lembre-se que quem ri por último, ri melhor). Irmã mais nova de Campos do Jordão, Monte Verde (MG) também tem aquele ar suíço e mordomias da boa. Ah, não deixe de apreciar uma enorme araucária (árvore típica das bandas frias do sul do país), que fica bem no meio (literalmente) da estrada de acesso à Monte Verde. Parece história de bêbado, mas dá gosto ver a árvore preservada, apesar do progresso automobilístico.

4. Paciência pra chuchu

Santo Antônio do Pinhal (SP) a Campos do Jordão (SP)

Percurso total: 38 km

Subida acumulada:1.097 metros

Desnível total: 550 metros

Também dá para chegar a Campos do Jordão (SP) partindo de Santo Antônio de Pinhal (SP), num percurso de 38 km pela subida da Cabana Norge, que passa por detrás da Pedra do Baú. O trajeto também acompanha um pedaço do ribeirão do Baú, que serpenteia por um vale verde indescritível. Em apenas 15 km, são 800 metros de desnível, com muita sombra e quase nenhum trânsito de carros. Asfalto, só mesmo dentro de Campos do Jordão e na rua principal de Santo Antônio do Pinhal. A inclinação da subida final – com 11 km de extensão sem nenhum milímetro de trégua – dá a impressão inicial de que dá para subir um pouco mais rápido. Não cometa esse engano. Uma das principais qualidades de um bom biker-escalador é a paciência.

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5. O rei da pedra

Bairro do Portão à Pedra Grande (Atibaia/SP)

Percurso total: 18 km

Subida acumulada: 1.147 metros

Desnível total: 600 metros

Você pára o carro no bairro do Portão (à beira da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, a uns 60 km da capital paulista), desce rindo e se prepara para a choradeira. Serão 18 km de subidas, com um desnível de 600 metros, 1.147 metros acumulados de subida e 70% do percurso em estrada de terra. Quando alcançar o alto da Pedra Grande, pode dançar e pular à vontade, sem pudor ou vergonha, pois você merece. E saiba que a Pedra Grande – um ponto concorrido dos adeptos do voo livre, parapente e escalada – não vende gato por lebre: é uma pedra grande mesmo. Só tenha paciência com os carros no trecho final de 2 km. Também não esqueça a máquina fotográfica para registrar a clássica pose como o Rei da Montanha, no melhor estilo Tour de France.

6. Pequena, mas tinhosa

Trilha da Placa na Serra do Japi (Jundiaí/SP)

Percurso total: 9 km

Desnível total: 300 metros

A Serra do Japi é aquela montanha verde do lado esquerdo da rodovia Anhangüera (para quem vem da capital) na altura da cidade de Jundiaí (SP). Reduto de mountain bikers batatudos (aqueles com as batatas das pernas hipertrofiadas), a subida me lembra um “causo” com um amigo meu: nós dois olhávamos uma cobra coral e tentávamos adivinhar se ela era verdadeira ou falsa. Eu comentei: “ela é tão pequena”. Ele retrucou: “pequena, mas tinhosa”. A trilha da Placa é a coral dos mountain bikers: são apenas 300 metros de desnível e um percurso de 9 km de subida. O problema é a inclinação da subida, que está no limite do possível. Fora as erosões, galhos, raízes, pedras soltas, falta de sombra e as motocas off-road que, de vez em quando, te obrigam a se jogar no mato. A tal “placa” do nome é um sinalizador vermelho e branco, quadriculado, para os aviões desavisados. Sofrimento? Pode crer! Mas se precisar de companhia pode me chamar.

7. Só com ajuda divina

São Francisco Xavier (SP) a Gonçalves (MG)

Percurso total: 54 km

Subida acumulada: 1.511 metros

Desnível total: 1.000 metros

Quer ter uma ideia de quão dura é esta subida? Conte a algum morador de São Francisco Xavier, na serra da Mantiqueira paulista, que você vai pedalar de Santa Bárbara até Gonçalves (MG) e se prepare para as reações de surpresa. São Francisco está a 750 metros do nível do mar e o ponto mais alto da escalada fica a 1.750 metros. Percebeu? Tudo dentro de apenas 42 km entre um ponto e outro. Depois, são mais 12 km até Gonçalves, de descida daquelas de endurecer os dedos de tanto frear a magrela. O percurso total dá 54 km e 1.511 metros acumulados de subida. No km 9 admire a igreja de Santa Bárbara, que dá nome à subida. Aproveite para agradecer à santa, afinal, você é um abençoado por estar lá de bike, saudável, forte, suado, fedido e feliz. O trajeto é muito bonito e pouco movimentado, pois até de carro cansa.

8. A baía dos pernilongos

Castelhanos (Ilhabela/SP)

Percurso total: 40 km

Subida acumulada: 1.680 metros

Desnível total: 700 metros

Uma clássica que deve constar no currículo de qualquer mountain biker com o mínimo de coragem. A baía dos Castelhanos esconde uma praia no lado leste da Ilhabela (litoral paulista), um dos points mais importantes do verão. A baía fica isolada porque o acesso é por uma estrada de terra em condições precárias, que corta um parque estadual. Apesar da muita sombra e umidade, prepare-se para suar em bicas. Na ida são 11 km de rampa, mais 9 km de descida até a praia dos Castelhanos. Para voltar, duas opções: de helicóptero ou pedalando tudo de novo, num total de 40 km. No fim, são 1.680 metros subidos (lembre-se que o que você desceu na ida será subido na volta). Asfalto só nos dois quilômetros iniciais e finais, no lado civilizado da ilha. Mas a cereja do bolo fica por conta dos borrachudos que, segundo a lenda, carregam o turista no período crítico de infestação. Infelizmente, eu nunca fui carregado e sempre tive que ir pedalando mesmo.

*Guilherme Cavallari é autor da coleção Guia de Trilhas EnCICLOpédia. Estes e outros roteiros estão em detalhes – com mapas, planilhas, fotos e altimetrias – nos livros da coleção, publicados pela editora Via Natura.







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