Analisamos o trailer oficial de The Surfer, que mistura paranoia, violência e surf em uma combinação efervescente.
Não consigo parar de assistir ao trailer de The Surfer, o novo thriller psicológico estrelado por Nicolas Cage.
A prévia foi lançada no YouTube na quarta-feira, 26 de fevereiro, e até segunda-feira, 3 de março, já havia acumulado 1,2 milhão de visualizações. Provavelmente sou responsável por um quarto delas, já que tenho assistido repetidamente, absorvendo cada quadro hilário e impressionante.
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Como não adorar? Tem surf. Tem surfistas australianos hiper-agressivos. Há fortes subcorrentes de paranoia, xamanismo e até culto. E, claro, há Nicolas Cage, vestido com um traje de neoprene, fazendo o que ele faz de melhor: surtando, desmoronando e agindo como um lunático. The Surfer parece ser um reservatório de memes com a atuação exagerada e excêntrica que esperamos do vencedor do Oscar na última década ou algo assim.
Cage grita, arregala os olhos e encara a câmera com a boca aberta. Ele também empunha uma chave de roda como um porrete, espanca um inimigo com uma placa de trânsito e obriga outro a comer um rato morto enquanto berra: “COME O RATO!” O trailer faz The Surfer parecer uma mistura entre O Sacrifício (“AAAGH! NÃO AS ABELHAS!“) e Endless Summer. Um dia, todos nós podemos acabar enviando GIFs de Nicolas Cage desse filme maluco uns para os outros.
O trailer de The Surfer meio que conta uma história também, e ela é descrita no material promocional que acompanha o filme.
Um homem retorna à praia idílica de sua infância para surfar com seu filho. Mas seu desejo de pegar ondas é frustrado por um grupo de locais cujo mantra é: “não mora aqui, não surfa aqui.” Humilhado e furioso, ele se vê envolvido em um conflito que se intensifica junto com o calor escaldante do verão e o leva ao seu limite.
Presumo que o ponto de ruptura aqui seja uma agressão com um roedor.
Mas, na verdade, espero que The Surfer seja mais do que apenas memes de Nicolas Cage e uma história de vingança paterna. Já se passaram 66 anos desde Gidget, e ao longo das décadas, a representação do surf por Hollywood foi ocasionalmente subvertida e reexaminada. Até mesmo o blockbuster Caçadores de Emoção (1991) foi vagamente subversivo ao retratar seus surfistas sarados como assaltantes de banco viciados em adrenalina. Acho que o subgênero do surf está pronto para ser reinventado novamente.
O trailer de The Surfer deixa pistas de que pode tentar fazer isso. Ele toca em alguns dos clichês familiares das representações mainstream do surfe na TV e no cinema. O filme é dirigido pelo cineasta irlandês Lorcan Finnegan, que estreou nos longas com o thriller sci-fi Vivarium (2019), que eu não vi, mas aparentemente traça um retrato sombrio da paternidade.
O trailer de The Surfer começa com a narração de Cage: “Você não pode parar uma onda. Nascida numa tempestade, lá no meio do mar, é pura energia. E tudo isso está se acumulando para esse momento de ruptura.”
Esse é o tipo de papo místico que Hollywood adora associar ao surf, para destacar a conexão metafísica dos surfistas com as ondas, o oceano e, quem sabe, até o cosmos. Sim— coisas que pessoas comuns como eu e você nunca vão entender de verdade.
Pense em Bodhi, o personagem de Patrick Swayze em Caçadores de Emoção, dizendo:
“O surfe é a fonte. Pode mudar sua vida. Juro por Deus.”
Ou na cena de abertura da série John from Cincinnati (HBO, 2007), onde Bruce Greenwood misteriosamente levita acima da praia.
O próximo clichê, claro, é o localismo. No trailer de The Surfer, australianos brutamontes aterrorizam Cage ao vandalizar seu carro, roubar sua prancha e, possivelmente, forçá-lo a tomar um líquido não identificado do asfalto do estacionamento. Em algumas cenas, os antagonistas parecem mais adoradores de um culto do que amigos de um pico local. Suas ações são alguns níveis mais ameaçadoras do que as dos vilões (e lendas reais do surf) Laird Hamilton e Gerry Lopez no cult North Shore (1987). Mas também estão alinhadas com o que vemos em Os Reis de Dogtown, onde os surfistas locais removem o carburador do carro de um forasteiro e o jogam no oceano.
E, por fim, há a própria atividade do surf: mágica e despreocupada, deslizando sobre uma onda perfeita ao longo de uma costa banhada pelo sol. É isso que o personagem de Nicolas Cage espera transmitir ao filho — bem, antes de se envolver com toda essa violência, medo e loucura.
Como esses clichês tradicionais vão se misturar com paranoia, culto e a cena do rato? Teremos que esperar para ver. The Surfer chega aos cinemas em 1º de maio. Pretendo estar lá na estreia. Mas vou deixar meu wetsuit em casa.
*Frederick Dreier é editor da Outside