Próxima tempestade: conheça os atletas da nova geração do surf brasileiro

Por Alexandre Versiani

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Isabelle Nalu: lapidada nas ondas mais perfeitas do planeta. Foto: Alan Rangel.

Isabelle Nalu foi criada em meio às ondas mais perfeitas do planeta. Filha do big rider Everaldo Pato Teixeira, a surfista viajou o mundo com os pais no reality Nalu Pelo Mundo, onde desbravou picos clássicos de lugares como Havaí, Indonésia e Austrália. Agora, aos 16 anos, ela já começa a perseguir seu grande sonho: se tornar uma campeã mundial de surf.

No final de 2022, ao lado de estrelas como Carissa Moore, Bethany Hamilton e Tyler Wright, Bela Nalu tornou-se a brasileira mais jovem a participar do Pipe Masters, a competição mais tradicional do esporte, disputada nos tubos perfeitos e cristalinos de Pipeline, no Havaí. Atual líder do ranking sul-americano Pro Junior da WSL, ela é apontada como uma das principais promessas do surf brasileiro para os próximos anos.

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Assim como Nalu, os “grommets” da nova safra brasileira se espelham principalmente nos surfistas da Brazilian Storm, que dominaram o circuito mundial da World Surf League (WSL) na última década com um estilo progressivo e aéreos acrobáticos.

Se até pouco tempo eram os norte-americanos, australianos e havaianos que se revezavam no topo do pódio das principais competições profissionais, o Brasil passou de coadjuvante a protagonista com sete dos últimos nove títulos mundiais conquistados, com quatro atletas diferentes levantando o troféu: Gabriel Medina (2014, 2018 e 2021), Adriano de Souza (2015), Italo Ferreira (2019) e Filipe Toledo (2022 e 2023).

Campeão mundial Sub-18, Ryan Kainalo segue os passos de nomes como Filipe Toledo e Gabriel Medina. Foto: Alex Miranda.

Já nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, que marcaram a estreia do surf no maior evento esportivo do planeta, a história não foi diferente e quem levou a inédita medalha de ouro foi o potiguar Italo Ferreira.

A combinação de talento e determinação, aliada a uma mentalidade competitiva, transformou o Brasil no “país do surfe” nos últimos anos. Além dos títulos na WSL, entidade que comanda o surf profissional, os brasileiros também têm obtido sucesso em competições amadoras promovidas pela ISA (International Surfing Association) e pela PASA (Pan-American Surf Association).

Nomes como João Chianca e Samuel Pupo, ambos de 22 anos, foram lapidados nas categorias de base e hoje também representam o país de forma brilhante na elite mundial. E a força da Brazilian Storm não se limita ao time mascullino, já que Tatiana Weston-Webb, nascida em Porto Alegre (RS), mas criada na ilha de Kauai, no Havaí, também vem brigando de igual para igual com as multicampeãs Stephanie Gilmore, Carissa Moore e Tyler Wright no Championship Tour.

Quem trabalha com a nova geração garante que para um surfista da base conseguir repetir o sucesso no profissional é preciso uma combinação de fatores: talento natural, investimento, dedicação e treinamento em ondas de qualidade. Condições favoráveis existem no Brasil, já que o país é dono de um extenso litoral com ondas consistentes o ano inteiro.

Além disso, o interesse cada vez maior do público e da mídia brasileira pelo surfe colabora para a criação de novos talentos. Tudo isso se multiplica ao legado vencedor deixado pela Brazilian Storm, que vêm inspirando as futuras gerações a tentarem seu lugar ao sol.

Caminho das pedras
Local de Floripa, Laura Raupp vem acumulando pódios nas categorias de base. Foto: Arquivo Pessoal.

Entre 2008 e 2012, o cearense Heitor Alves, 40 anos, foi um dos “Tops” da liga mundial de surf e competiu lado a lado com lendas como Kelly Slater, Andy Irons e Mick Fanning. Seu estilo aguerrido, com uma mistura de power surf e aéreos estratosféricos, conquistou a simpatia de juízes e rivais – o próprio Slater disse em algumas ocasiões que apreciava o surf do brasileiro. Bem antes da consolidação dos brasileiros no Tour, Heitor ajudou a pavimentar o caminho, e agora divide seu conhecimento com a novíssima geração do surf brasileiro.

“Eu já estive no lugar deles e onde querem chegar, por isso conheço as dificuldades”, afirma Heitor, que durante sua passagem no circuito mundial precisou quebrar algumas barreiras, inclusive a do idioma, já que os brasileiros muitas vezes não eram respeitados no Tour.

O cearense agora reside no litoral sul de Santa Catarina, onde treina talentos locais como Ryan Martins, 15, e Alexia Monteiro, 16, campeã brasileira da categoria. “Hoje vejo a evolução acontecer bem mais rápido. Os atletas têm mais ferramentas e uma referência que são os surfistas da Brazilian Storm, mas isso não quer dizer que vão ter vida fácil, eles precisam provar em dobro que são capazes”, pondera o treinador.

Quem também conhece o duro caminho até a elite profissional é o treinador carioca Pedro Robalinho, 47 anos, que há sete anos mudou-se para a ilha de Maui, no Havaí, onde passou a lapidar alguns dos principais nomes do surf local como Cody Young e Imaikalani deVault. Ex-técnico da vice-campeã mundial Silvana Lima e de nomes como Leo Neves, Pedro Henrique e Rodrigo Dornelles, brasileiros que fizeram parte do Championship Tour, ele também acredita que o futuro de um atleta amador depende de vários fatores, sendo preciso respeitar cada etapa do processo.

“Para chegar lá é preciso foco e bastante treinamento desde cedo, além de acesso a equipamentos de qualidade. Muita gente perde tempo com pranchas ruins, e isso cria maus hábitos na hora de aprimorar as manobras. Estudar inglês também é básico para o atleta não depender de ninguém nas viagens, o que atrasa o desenvolvimento da carreira. Além disso, tem que viajar para a Indonésia e Havaí, gastar tempo e energia em ondas de qualidade, que não se encontra em casa no Brasil”, diz Robalinho, que por outro lado destaca o diferencial dos surfistas daqui.

“O que diferencia é que os brasileiros são muito competitivos. Nós começamos em ondas ruins e o treinamento é direcionado para ondas melhores ao longo da vida, esse eu acho o caminho mais correto para um surfista se desenvolver plenamente. Isso é uma coisa que aprendi no Brasil e hoje levo como filosofia para o meu trabalho com os atletas havaianos. O fato de a gente sempre estar disposto a surfar um mar ruim, difícil, numa onda que exige esforço para gerar velocidade. Os havaianos, indonésios que vivem em um lugar de altas ondas, às vezes têm preguiça de pegar um mar mexido, isso freia a evolução. Há uma questão motivacional importante aí”, diz.

Título mundial em casa

Entre os dias 24 de novembro a 3 de dezembro, a cidade do Rio de Janeiro recebeu o ISA World Junior Surfing Championship (WJSC), o principal evento de surfe amador do mundo. Foi apenas a segunda vez que a competição foi disputada em território nacional.

E a equipe brasileira fez história ao conquistar o título por equipes, encerrando uma espera de 20 anos desde a última vitória coletiva. A única conquista anterior por equipes do Brasil foi em Durban, na África do Sul, em 2003.

Com as pontuações conquistadas por todos os 12 integrantes da equipe brasileira, o país alcançou a liderança e terminou à frente dos Estados Unidos (2º lugar), Japão (3º lugar) e Austrália (4º lugar).

Ryan Kainalo se destacou ao alcançar uma pontuação de 15.37 na final, garantindo assim a medalha de ouro na categoria Sub 18.

A competição, que contou com 365 atletas de 45 países diversos, foi disputada nas categorias Masculino Sub 18, Masculino Sub 16, Feminino Sub 18 e Feminino Sub 16.

A formação da equipe brasileira foi determinada pelo ranking do Circuito Brasileiro Amador de 2022, promovido pela CBSurf.

Caras novas

Conheça alguns talentos brasileiros que vêm brilhando no free surf e nas competições das categorias de base

Arthur Vilar tem apenas 12 anos, mas já demonstra surf de gente grande. Foto: João Vitor Moreira.

Laura Raupp

Idade: 17 anos
Local de Florianópolis (SC)
Principais títulos: campeã do QS 1.000 na Praia Mole; Top 5 Mundial Pro Junior da WSL (2022)
Instagram: @lauramacielraupp

Sophia Medina

Idade: 17 anos
Local de Maresias (SP)
Principais títulos: campeã pan-americana (2022); campeã sul-americana (2022)
Instagram: @sophiamedina

Isabelle Nalu

Idade: 16 anos
Local de Florianópolis (SC)
Principais títulos: campeã brasileira (sub-14); campeã Rip Curl Grom Search (sub-14 e sub-16)
Instagram: @bela_nalu

Ryan Kainalo

Idade: 17 anos
Local de Ubatuba (SP)
Principais títulos: campeão mundial ISA, campeão brasileiro (sub-16 e sub-18); 7x campeão paulista
Instagram: @ryankainalo

Anuar Chiah

Idade: 13 anos
Local de Matinhos (PR)
Principais títulos: bicampeão Hang Loose Surf Attack
Instagram: @anuar_chiah

Arthur Vilar

Idade: 12 anos
Local de Baía Formosa (RN)
Principais títulos: campeão brasileiro (sub-12)
Instagram: @arthurvilar_surf

Matheus Jhones

Idade: 10 anos
Local de Baía Formosa (RN)
Principais títulos: campeão Surfuturo Groms (sub-10); campeão Filipe Toledo Kids On Fire (sub-12).
Instagram: @matheus.jhones